Um Dia Cinco Estrelas

7/11/2023 01:17:00 AM |

Já cansei de falar isso aqui, mas ninguém me ouve: Qual é a principal missão de um filme de comédia? Fazer rir! E ponto final! E qual o motivo do Coelho começar o texto de "Um Dia Cinco Estrelas" escrevendo isso? Que ninguém na sessão que estava riu durante os 90 minutos de exibição! Aliás minto, eu ri na cena da maluca quebrando o vidro do carro, ou seja, a base emocional da trama até é interessante, tem uma pegada bem colocada de que muitos motoristas de aplicativo vivem as mais loucas e impossíveis situações no dia a dia, e também mostrar a velha sacada de quem ajuda será ajudado, porém dava para fazer algo que fizesse o público rir, pois é o mínimo que se espera quando vamos conferir uma trama classificada como comédia, nem que para isso você necessite forçar o riso, mas as situações entregues aqui além de forçadas acabam parecendo exageros bizarros sem sentido, e isso não faz rir, pelo contrário, fica vexatório, e certamente não era essa a expectativa de quem pagou ingresso para ver uma comédia nacional que tradicionalmente diverte o espectador. Aí vem o pessoal que entra sem querer na sessão, por ter um horário bom, e depois fala mal que filme nacional não presta! Que jeito eu vou defender os filmes bons quando me colocam algo desse estilo? Já vou frisar, que como um filme emocional, o resultado é muito bom dos últimos atos, tem um envolvimento bacana e até chega a dar uma engasgada bonita, mas no sentido cômico, sinceramente fazia tempo que não me decepcionava dessa forma.

No longa acompanhamos Pedro Paulo após ele decidir colocar seu amado Opala dos anos 70 na rua, trabalhando como motorista de aplicativo para ajudar a família a sair do sufoco e realizar o grande sonho de sua mãe, que é viajar para Buenos Aires. Ao longo de seus dias levando passageiros para cima e para baixo, ele passa por diversas situações inusitadas, divertidas e que transformam totalmente a sua rotina. Enquanto isso, sua esposa Manuela tenta se tornar uma funcionária exemplar na loja em que trabalha e conquistar o cargo de gerente, disputando com o ambicioso Oswaldo.

Diria que o diretor taiwanês/brasileiro Hsu Chien Hsin anda pecando pelo excesso, pois tem feito na média de três longas por ano, e na maioria das vezes ele exagera na dose e no estilo, tendo como sua marca emocionar o público com alguma pegada no meio do caminho ou no final, mas falhando no conceito completo da entrega, o que é algo bem ruim de acontecer. Ou seja, ele anda fazendo tantos filmes no automático que nem anda se preocupando com o resultado em si, mas sim com o entregar, o que muitas vezes soa interessante para os produtores para ter material para vender, porém costumo dizer que nem tudo que é vendido é consumido no Brasil. O fato é que algumas de suas obras tiveram acertos por contar com grandes atores, como foi o caso com "Desapega!" que vendeu muito para os fãs de Maísa e Glória Pires, mas outros casos nem sobreviveram na segunda semana, ou seja, ele precisa ligar o alerta senão daqui a pouco fica conhecido por falhar mais do que acertar, o que acabou ocorrendo aqui, o que é uma pena, pois dava para um filme só de histórias de motorista ficar bem chamativo e divertido.

Sobre as atuações, diria que Estevam Nabote foi esforçado para que seu Pedro Paulo fosse ao menos carismático, e com isso ele conseguiu cativar os demais personagens, sendo até interessante ver seus atos, mas diria que talvez se usasse mais comicidade daria uma vertente ainda mais interessante para o papel, ou quem sabe algum outro humorista, mesmo que caricato. Os atos de Nanny People foram bem trabalhados e chamaram a atenção pelo estilo da humorista, que costuma puxar alguns exageros, mas aqui combinou ao menos com sua personagem Dona Nilda, e assim sua desenvoltura acaba chamando a atenção e agrada sem forçar tanto a barra. Aline Campos e Carol Nakamura até tentaram ser engraçadas com suas Manuela e Odete, mas apenas causaram bagunças visuais em suas cenas, inclusive quebrando o fluxo do filme que deveria focar mais no motorista do que nos demais. E voltando para o lado dos passageiros do carro, vale alguns destaques para o lado romântico/emocionado de Ed Gama com seu Sebastian, e Danielle Winits fazendo barraco com sua Betina, mas nada que fosse muito expressivo para o resultado da trama.

Visualmente, o opala foi bem marcante nas cenas, conseguindo dar o estilão meio que de road-movie para a trama, mas o protagonista desce demais do carro, e isso quebrou um pouco as nuances que o filme poderia desenvolver melhor, tendo algumas corridas em estacionamentos durante uma perseguição policial, toda a conexão com a moça do guincho, uma confeitaria argentina, o shopping aonde a esposa trabalha, a casa caindo o teto para fazer propaganda da marca patrocinadora indo comprar material de construção, uma cena de barraco dentro de um hotel, e claro o spa aonde a mãe vai sofrer nas mãos de massagens bem exóticas, ou seja, criaram bons ambientes para desenvolver tudo de modo que a equipe de arte trabalhou bastante.

Enfim, fui conferir o longa esperando bem pouco dele, porém esperava rir ao menos um pouco, o que não aconteceu nem comigo, nem com nenhum dos demais expectadores da sala (sendo até mais divertido ver as cenas erradas nos créditos, o que sempre é engraçado), mas ao menos tem um tom emotivo no final que agrada de certa forma, não sendo algo tão ruim de ver, porém não tenho como recomendar o longa para ninguém, o que é uma pena dentro da cadeia de filmes nacionais. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais. 


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