Capitu e o Capítulo

7/22/2023 02:49:00 AM |

Quem me acompanha desde os primórdios do site sabe que um dos estilos de filmes que mais consegue me brochar é o tal do experimental, pois vejo a possibilidade que determinada trama tem para alçar voos incríveis com a história, com ótimos atores, com toda a perspectiva, e vai lá e fica enfeitando com abstrações, com elementos fora da casinha e tudo mais que seja possível apenas para se colocar como cult. E felizmente o longa "Capitu e o Capítulo" só tem 75 minutos disso tudo, contando com créditos bem lentos, ensaios durante os créditos lentos e até uma abertura, ou seja, encheram de coisas para ser vendido como longa, pois facilmente cairia como um média-metragem que trabalha um dos textos mais complexos e interessantes de Machado de Assis, mas que brinca com nuances entre os protagonistas colocando trechos mistos entre as interpretações dos atores com viagens alucinógenas de outros filmes estranhos, brincando com pinturas e canções, danças e tudo mais, ou seja, se antes a discussão do texto era se Capitu traiu ou não Bentinho, agora podemos discutir poetas brasileiros que morreram com menos de 30 anos, vermes, palavras indígenas usadas no nosso vocabulário, entre várias outras loucuras que o diretor quis colocar na sua montagem. Ou seja, é daqueles filmes que você entra na sessão comprando a obra pela capa e pelo conteúdo possível, e sai pensando o que é que eu fui conferir!

A sinopse nos conta que entre olhares, atitudes, vicissitude e passionalidade, novas e antigas percepções, vemos uma trama que permeia a inquietude trazida pelo sentimento mais primitivo que o ser humano pode experimentar, criando e sorvendo o fantasma criado pelo ciúme, desdobrando-se em intrigas capitulares criadas por Bentinho em devaneios que o tomam sobremaneira pelo amor doentio por sua Capitu.

Diria que o diretor e roteirista Júlio Bressane é um dos cineastas nacionais que está há mais tempo no mercado de filmes, praticamente não parando de produzir desde a metade dos anos 60, ou seja, já fez de tudo um pouco, mas é daqueles que gosta de trabalhar ideias e desenvolturas de uma maneira meio que diferenciada, ou seja, gosta de pegar um roteiro potencial e brincar com ele, experimentar coisas novas, misturar liberdade criativa com textos rebuscados, e aqui ele usou de técnicas de vários estilos, permeou ideias da trama de Machado de Assis, deu ares rebuscados para um reflexivo Dom Casmurro, e praticamente "criou" o swing no século passado dentro de sua história livremente inspirada na obra do clássico autor. Ou seja, desenvolveu algo que sua mente quis, deixou provavelmente alguns editores malucos para tentar entender o que deviam fazer, e o resultado acabou sendo algo que não agrada, mesmo chamando atenção pelas ousadias.

Quanto das atuações, diria que todos foram bem dentro da proposta, trabalhando personificações bem densas de Capitu, Bentinho e Casmurro acabamos vendo Mariana Ximenes, Vladimir Brichita e Enrique Diaz bem colocados em cena, trabalhando trejeitos fortes e chamativos, que se desenvolvessem melhor todas as dinâmicas, colocando alguns elos entre elas nem precisaria inventar com os vídeos estranhos no miolo, pois o trio seguraria muito bem todos seus atos, e junto dos demais atores acabaria fluindo toda a ideia da trama de um modo seguro e inteligente, mas como isso não ocorreu, apenas fizeram bem as personificações e ganharam seus cachês para filosofar mais com Diaz, fazer olhares de dúvidas com Brichita e ser sedutora e meio maluca com Ximenes, o que todos fazem bem.

Visualmente a equipe de arte ficou só em uma casa, brincando com os ambientes de fundo, mudando os papeis de parede com pinturas chamativas de vários pintores, ousando com poucos elementos cenográficos mas bem contextualizados, tendo claro destaque as cenas de Casmurro numa sala/biblioteca bem rica de livros, e também o minimalismo nos ambientes para que a desenvoltura ficasse mesma no texto, e assim também sobrasse espaço para as loucuras dos vídeos que prefiro nem citar um a um, mas que beiram a loucura por completo. Ou seja, diria que quem trabalhou um pouco mais foi a equipe de figurino para dar o contexto de época para todos em cena, e assim acertou ao menos.

Enfim, é um filme fraco de resultado, mas interessante de proposta, que pessoalmente não tenho como recomendar por ser algo abstrato demais para quem gosta de tramas mais comerciais, mas que por ser bem curto não chega a incomodar tanto, então dá para dar uma viajada nas nuances e tentar ao menos não desgostar de tudo o que é mostrado, e sendo assim fica ao seu critério se gostar do estilo ver nos cinemas a partir do dia 27/07. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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