Tração

7/01/2023 02:16:00 AM |

Já tem um bom tempo que falo que o Brasil tem potencial e criatividade para fazer filmes de todos os gêneros, mesmo com orçamentos mais contidos, pois nosso famoso "jeitinho" nada mais é do que falar pra alguém que não vai conseguir, e aí provam que conseguem! E felizmente há umas duas semanas recebi uma propaganda de um filme de ação nacional, algo que nem tinha visto trailer nem nada, mas claro que me interessei, perguntei se teria cabine de imprensa e tudo mais, porém fizeram melhor ainda o longa veio para o interior com apenas uma sessão diária bem tarde, mas veio, e isso é o que importa, e hoje posso falar com gosto que vi uma produção de velocidade sobre rodas nacional, e falo com muito orgulho, pois conseguiram gravar muitas cenas durante toda a pandemia com tudo sendo fechado, gravaram em diversas cidades, fizeram cenas que mundo afora não tiveram coragem, e eis que surge nos cinemas o longa "Tração", contando com um elenco de peso, muitos dublês e pilotos profissionais, tendo uma história que até dava para ser reduzida, mas que entendo totalmente o diretor de não cortar nada do que foi para a tela, pois é muita velocidade para jogar qualquer cena fora, e assim sendo a trama tem pegada, funciona, só tem um pouco de dificuldade de explodir realmente com os personagens, para que ficasse perfeito, mas ainda assim saí da sessão bem feliz com o que vi, pois é um trabalho de imagens de primeiríssima linha.

Ao longo da história, acompanhamos um grupo de amigos motociclistas convidados para uma arriscada competição de motocross, a MotoAthlon. Isadora sonha em se tornar uma grande piloto um dia, mas é proibida pelo seu pai, Ajax, que perdeu a esposa em um acidente durante uma dessas competições. Nesse ambiente imerso em adrenalina, muitos conflitos e intrigas podem surgir entre os competidores, sendo as motos sempre as protagonistas - e quando o grupo cai em uma cilada, todos devem correr contra o tempo para salvar a vida de Isadora.

Diria que talvez o principal erro de Andre Luís foi querer dirigir, atuar e tudo mais em sua primeira grande imersão em um estilo de cinema que ainda não dominamos, pois até tem sua valia que antes de ser ator foi piloto profissional de motocross, mas talvez nas mãos de um diretor um pouco mais experiente, teriam coragem de eliminar alguns espaços e fazer com que o filme tivesse ainda mais ritmo e emoção, pois volto a frisar que o resultado na tela não é ruim com o que fizeram, mas existem muitas cenas que necessitariam de um pouco mais de tensão e desenvolvimento, principalmente nas que tem mais diálogos e envolvimentos de história, pois nas de ação mesmo o resultado está incrível, porém a base de trama fica por vezes artificial, parecendo que não sabiam para aonde atirar ou extrair um algo a mais. Ou seja, volto a elogiar a ideia como um todo, Andre poderia ter seguido como diretor de dublês e ação, mas faltou aquele algo a mais que puxaria o filme para outro patamar, mas como deram brecha para uma continuação com a cena final, veremos o que vão aprontar, e claro irei torcer muito para seguirem, pois o cinema nacional merece que paremos de classificar tudo como um filme brasileiro, mas sim um longa de ação sobre duas rodas.

Sobre as atuações, é notável que Marcos Pasquim como um dos mais experientes do elenco tenta entregar muito com seu Ajax, fazendo trejeitos chamativos, tentando ser expressivo com suas cenas, e até tentando comandar tudo em cena, mas é notável que falta um pouco mais de roteiro de frases para ele, então se entrega com um bom envolvimento ao menos, com carões para as cenas com as motos, e assim seu resultado agrada bastante. O diretor Andre Luís agora atuando trabalhou seu Nivaldo com um ar egocêntrico nos primeiros atos, mas depois se desenvolve bem e cai bem na equipe, sendo interessante a desenvoltura nos atos com mais ação. Alguém segura Nelson Freitas que depois de dois filmes fazendo milionários é capaz que daqui a pouco vire um ostentador por completo, e aqui seu DiMello tem estilo, tem personalidade, e cai bem como um "vilão", porém seus atos finais mereciam algo mais explosivo do que algo dramatizado demais, e assim até fez muito em cena. Tivemos ainda André Ramiro bem colocado com seu Max imponente na tela, Maurício Meirelles fazendo o que sabe melhor com seu Manoel totalmente humorístico em cena, Bruna Altieri com sua Isadora desesperada para pilotar as motos, Paola Rodrigues trabalhando bem as dinâmicas de sua Jéssica, mas sem se colocar como centro de atenção, e claro Natalia Curvelo como uma sedutora ajudante do vilão com sua Rubi, isso sem falar nas participações meio que estranhas de Fiuk e de Duda Nagle, mas tudo bem como coadjuvantes quase que de escanteio.

Visualmente a trama não se passa em uma cidade só, sendo filmada em vários lugares, com muitas cenas das competições mais variadas envolvendo motos, boas performances com cada estilo diferente de máquinas velozes, um assalto bem recheado de perseguições com carrões e motos potentes, uma festa bem trabalhada, cenas no meio de florestas, e claro uma cena de salto num cânion gigante que deu muito trabalho e um certo luxo para a trama, contando ainda com aviões e outras cenografias bem colocadas que mostrou muita ousadia por parte da equipe de arte.

Enfim, é um filme que tem problemas técnicos, que como crítico não poderia deixar passar em branco, mas que entrega algo que deva ser valorizado e conferido isso não tenho dúvidas, e assim sendo recomendo demais para todos, afinal quem sabe tendo mais bilheteria, outros diretores resolvem se arriscar no gênero de ação, e assim vermos nosso cinema nacional ir mais além do que comédias e dramas novelescos. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais


1 comentários:

Anônimo disse...

perfeita crítica!!

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Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...