Netflix - Paraíso (Paradise)

7/30/2023 05:49:00 PM |

Bem que achei no começo da trama do filme alemão da Netflix, "Paraíso", uma pegada meio com nuances de "Divergente", mas fiquei de boa apenas curtindo a ideia maluca de se vender alguns anos de sua juventude para ricaços, cientistas e ganhadores de prêmios poderem criar um mundo melhor com mais anos, enquanto o jovem que está precisando de dinheiro resolve sua vida, para isso basta encontrar alguém compatível com seu DNA e pronto, porém o filme que antes parecia apenas ser algo interessante pela pegada, das pessoas pró e contra o procedimento, toda a ideologia de certo ou errado, todos os planos de como se conseguir que alguém em sã consciência assine tal contrato, mas quando chegamos próximo ao final, aí que vem o fechamento com chave de ouro, a sacada de transformar a ideia em franquia, com personagens mudando de lado e tudo mais. Ou seja, é daqueles filmes que têm conceito, que tem estilo próprio, que brinca com nuances morais, e que ainda pôde virar uma franquia, pois é fechado ali bonitinho a ideia toda desse primeiro grande chamariz, mas deixando possibilidades para uma futura continuação, sem perder a classe, então veremos o que vai rolar, mas já mostraram bem a pegada, e a ideia é interessante.

O longa nos situa em um futuro não muito distante, onde a empresa AEON se tornou um grande conglomerado farmacêutico multibilionário. A startup administrou com uma tecnologia revolucionária que permite transferir o tempo de vida de uma pessoa para outra. Isso tem sérias consequências para partes da sociedade. Elena é confrontada com reivindicações de seguro que ela e seu marido Max não podem pagar. Então ela se sente compelida a vender 40 anos de sua vida para a AEON. O próprio Max trabalha para a empresa e a partir daí tenta de tudo para recuperar os anos perdidos de sua esposa. Ele descobre que o CEO da AEON tem como alvo a vida de Elena. Então ele trama um plano para sequestrá-la. Para Max e Elena, começa uma caçada que não apenas os leva além das fronteiras nacionais, mas também ao limite de seus próprios conceitos morais.

Após muitos curtas, séries e videoclipes, o trio de diretores e roteiristas Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute resolveram ousar e criar uma trama de ficção futurista até que bem interessante de proposta, afinal sabemos bem como são as pessoas, e como vão se comportar quando se fala em dinheiro, e digo mais, o longa se passa num país teoricamente bem rico, se puxarem a ideia para um país subdesenvolvido então como é o caso mostrado no fechamento da trama, o que vai ter de pessoas vendendo a juventude dos filhos, e até mesmo de si próprio, que a empresa nem terá tempo para tantos candidatos. E a grande sacada do trio foi fazer várias inversões de certo e errado durante toda a trama, mostrando o jovem ganancioso que trabalha como gerente de vendas, convencendo os doadores a caírem no golpe da empresa, depois surtando quando a esposa que cai no golpe, e virando praticamente um sequestrador para tentar resolver tudo, até ter ainda outras viradas nos atos finais, de tal maneira que todo o conceito moral acaba funcionando bastante e levando o público a se indagar: será que eu daria alguns anos de minha vida por algum dinheiro? E quem está comprando esses anos, será que merecem tirar anos de outros? Fica a reflexão, e claro algo que pode ainda ser mais desenvolvido, mas que felizmente mesmo tendo a ideia de uma franquia possível, fecharam bem o longa, e o resultado funcionou bastante.

Quanto das atuações, diria que Kostja Ullman foi bem ousado no estilo que adotou para seu Max, de forma que conforme vamos tendo as reviravoltas da trama, ele vai mudando e se moldando também dentro dos conceitos do que acha certo ou errado, não sendo aquela pessoa certinha que mantém seus ideais, mas sim conforme vai vivenciando tudo, muda, e isso foi bacana de ver pelas expressões que faz a cada ato, e principalmente nos momentos finais. Como só vemos Marlene Tanczik rapidamente nas cenas iniciais com sua Elena, diria que fez bem seus atos mais desesperados, e passou bem a bola para Corinna Kirchhoff, que deu todas as nuances da personalidade da jovem com muito mais idade, e essa sacada de não usar maquiagem nem computação para envelhecer a garota foi uma sacada muito boa, pois não ficaram dependentes de erros de CGI, e Corinna soube ser bem intensa nos atos de fuga, fez atos quentes bem desenvolvidos e olhares muito bem trabalhados também dentro dos conceitos morais, mudando de acordo com o que foi acontecendo, e acertadamente escolheu bem o seu fechar, ou seja, agradou bastante. Iris Berben foi bem imponente nos atos de sua Sophie nos atos iniciais, e depois mais ao final quando temos Alina Levshin com sua personificação vemos algo bem funcional e interessante para ser usado mais para frente. Do mesmo modo que Lisa-Marie Koroll ficou muito parecida com as duas atrizes para dar todo o ar de confusão dos atos do miolo, e isso foi muito bem colocado. Ainda tivemos bons atos de Lisa Loven Kongsli com sua Lilith, líder do Projeto Adão contrário aos rejuvenescimentos, Lorna Ishema bem colocada e imponente com sua Kaya, a segurança de Sophie, e claro Numan Acar com seu Viktor cheio de personalidade, que não enganou muito quem já assiste filmes desse estilo. Ou seja, um elenco bem disposto a trabalhar, sem grandes nomes, e que se rolar continuações vão estourar mundo afora.

Uma boa sacada da equipe de arte foi sair do grandioso complexo da AEON tão rápido quanto pudesse, pois como ali é algo futurístico demais, necessitaram trabalhar muito com computação gráfica, encarecendo o projeto todo, tendo claro muitos elementos para as cirurgias e tudo mais, então foram para lugares abandonados, que são bem explicados, tendo um depósito de carros, um hotel antigo bem trabalhado pelos ambientes como quartos, piscina, uma floresta escura completamente jogada fora, e mesmo os carros bem tecnológicos ficaram em contraponto para não saírem tanto do conceito, ou seja, um trabalho minucioso para não soar falso, nem recair para algo fora do contexto, e assim armas, navios e tudo mais ficou mais simples, porém efetivos dentro da proposta.

O longa trabalhou também algumas canções que já ouvimos versões originais marcantes, e que aqui ganharam uma roupagem nova com outros cantores, e acabaram ficando ainda mais intensas dentro do estilo do filme, de tal forma que o ritmo funcionou e as nuances se encaixaram bem demais, e claro que trago aqui o link para todos poderem curtir elas depois de ver o filme.

Enfim, desde que tinha visto um pedacinho só do trailer já tinha me interessado pela ideia toda do longa, só não esperava que fosse talvez virar uma franquia, mas como disse, os diretores foram muito espertos e deram um bom fechamento, que se der dinheiro continuam, senão já está fechado e concluído de modo satisfatório, e é isso que classifico como uma boa franquia, que tenha seus filmes individuais sem precisar deixar o público preso nas continuações, e assim sendo é claro que recomendo o filme pelo bom trabalho, e também pelas dúvidas morais que já falei mais acima, sinceramente não sei se venderia alguns anos de minha vida, mas pensaria bem na proposta monetária! E vocês? E é isso pessoal, eu fico por aqui agora, mas vou conferir mais um filme hoje, então abraços e até logo mais.


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