O longa apresenta a história de Marcielle, uma jovem de apenas 13 anos inserida em um meio repleto de violências dentro da periferia onde mora. Moradora da Ilha de Marajó, no Pará, junto com o seu pai, Marcílio, sua mãe, Danielle, e três irmãos. A menina sofre com a perda da sua irmã mais velha Claudinha, que partiu para bem longe de onde moravam após arrumar um homem que circulava pela bacia hidrográfica que banha a região. Marcielle, agora mais experiente com a vida, começa a ter uma percepção diferente em relação às suas idealizações. Ela entendeu que as mesmas estão presas em um ambiente marcado por dor e sofrimento. Preocupada com a irmã mais nova e ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres da sua comunidade.
Diria que o trabalho da diretora e roteirista Marianna Brennand foi muito bem feito para uma documentarista, que é de onde proveio, mas como diretora de ficção ainda precisa um pouco mais de fechamento, pois seu longa evidencia bem tudo, funciona dentro da proposta, tem a pegada bonita e sutil para denunciar o que acontece por lá, mas ficou faltando aquela pimentinha a mais para que o sabor do longa ficasse indigesto realmente como a situação pede, pois alguns vão enxergar todas as ideias subliminares que o longa entrega, mas outros vão apenas assistir e talvez nem vão se indignar com nada, o que é inadmissível. Claro que ainda temos um filmão imponente na tela, dinâmicas fortes e densas, mas tudo é calmo demais, tudo é leve demais, que também para preservar a protagonista a não passar pelas situações em si, mas dava para ter ido um pouquinho além que causaria mais impacto e chamaria ainda mais atenção, como uma boa ficção deve ser, ao menos não deixou que o final ficasse solto, tendo uma cena bem marcante, mas dava para o miolo ser ainda mais cru.
Quanto das atuações, posso dizer que a jovem Jamilli Correa foi muito bem selecionada para seu primeiro trabalho nas telonas, fechando o olhar e sendo densa de tal forma que sua Marcielle parece até emburrada o tempo todo, mas também com tudo o que sofria não dava para querer ser alegre, e a jovem não desapontou em momento algum, chamando para si a responsabilidade cênica de um filme desse porte, e assim mostrou que tem potencial para seguir na profissão, veremos mais para frente se realmente deu liga. Rômulo Braga fez de seu Marcílio, o tradicional homem machista do fim do mundo, que não aceita as coisas, mas faz as coisas, e seu jeito aparentemente dócil é pesado de ver nas atitudes secundárias, ou seja, fez bem também. Já Fátima Macedo fez de sua Danielle uma mãe conivente dos atos, e mais do que isso, daquelas ciumentas com a situação em si, e dessa forma a atriz foi segura demais na difícil entrega e dinâmicas que foram poucas, porém fortes, ou seja, soube amarrar bem o que precisava na tela. Quanto aos demais, a maioria apenas fez as devidas conexões com a família, e principalmente com a garota, valendo um leve destaque para Dira Paes como uma delegada, que é a única a enxergar realmente o problema com a garota.
Visualmente o longa mostra bem o mundinho das famílias ribeirinhas, com casas simples, a família abarrotada de filhos, pouca comida, muito do que colhem tentam vender para comprar outro tipo de insumos, vendinhas pequenas aonde fica a única TV da cidade, a escola rudimentar, crianças sem material precisando aproveitar o que dá, as várias redes para a família dormir com toda a referência de uma quebrada para o pai aproveitar da garota, e muitos barcos andando pelo rio atrás das balsas aonde o clima esquenta, além de uma boate na beira do rio também, ou seja, tudo bem simples e explicativo na medida certa para representar e simbolizar na tela.
Enfim, é um filme-denúncia que funciona bem, que tem seu lado documental bem proposto e chamativo, que como disse vale chegar num público maior para quem sabe algum dia isso seja mudado, e como ficção valeria talvez um pouco mais de densidade dramática para impactar, mas ainda assim é algo muito bem feito e que mostra que nosso cinema tem ido para rumos incríveis, basta manter e ir pra cima. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas hoje ainda vou dar play em mais uma cabine, voltando logo mais com o texto, então abraços e até breve.
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