Viver Para Cantar (Huo zhe chang zhe) (To Live To Sing)

12/05/2019 08:52:00 PM |

Essa semana na Itinerância da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo estou vendo exatamente o que os professores nos falavam nas aulas de edição, que não podemos ter dó de cortar cenas desnecessárias para que o filme fique mais dinâmico sem enrolações, pois é nítido o quanto diretores mais artísticos preferem amarrar suas tramas com cenas longas e sem muito ritmo para que o público pense na visão mostrada, entregando algo que vá além da tela, e no primeiro filme de hoje, "Viver Para Cantar" tivemos algo bem em cima disso na primeira metade dele aonde conhecemos um pouco mais dos personagens, sua vida em cima dos palcos, o desespero da organizadora das óperas em tentar salvar o local de trabalho de "sua" família que não evoluiu, mantendo há mais de 10 anos uma trupe de ópera para idosos, e que da mesma forma que os prédios velhos estão sendo demolidos para dar lugar a modernos prédios, os estilos culturais mais antigos também estão sendo derrubados para dar vez a estilos mais modernos. E com isso em mente, o maior erro do diretor talvez tenha sido seguir uma linha tradicional no começo, pois ao mudar o estilo no segundo ato, sendo dinâmico, colocando abstrações, brincando com o floreio da mente, o filme toma rumos muito melhores, e assim finaliza bem de forma diferente do que a maioria esperava, sendo um grande acerto. Ou seja, se tivesse cortado mais no começo, o rumo do longa seria perfeito.

O longa nos situa em Chengdue, na China, aonde uma pequena trupe de ópera é surpreendida com a notícia de que o velho teatro em que costuma se apresentar em breve será demolido. Temendo que este seja o fim da companhia, a administradora Zhao Li resolve procurar um novo lugar onde possam se apresentar. Neste percurso, a ópera e seus personagens aos poucos se infiltram em sua própria realidade.

De certa forma o diretor Johnny Ma foi bem direto no estilo escolhido, trabalhou bem os atos e a vida da protagonista, que se doa muito para que sua trupe siga unida, além de tentar cuidar da sobrinha jovem que está tentando mudar de estilo, e com um roteiro cheio de ideias para florear, ele soube ser muito criativo no segundo ato, o que mostra que sabe o que fazer, e certamente irá despontar muito se manter essa linha, porém o primeiro ato soou levemente arrastado e um pouco cansativo, com músicas demais, apresentações quebradas, e diversas cenas em câmera lenta das demolições ao redor do teatro, e o que estava acontecendo o público já pega no ar em minutos não precisando frisar tanto, ou seja, faltou deixar na mão dos editores para resolver melhor, e quem sabe o filme fluiria melhor, mas isso felizmente não chega a destruir o longa, só não deixa ele uma obra incrível como poderia ser.

Sobre as interpretações, é notável que é o primeiro filme da grande maioria ali, sendo que muitos se doaram para as cenas, não chamando a atenção para si, mas fazendo o filme acontecer, e isso é bonito de ver, mas faltou direção para que eles não se perdessem tanto, e isso é um dos erros do longa também. Porém, sem dúvida alguma, Xiaoli Zhao e Guidan Gan conseguiram dominar seus momentos com Zhao e Dan Dan, trabalhando os olhares, fazendo com atitude os floreios que o longa precisava, e principalmente emocionando nas cenas mais fortes, sendo bem bacana ver elas em cena, ou seja, agradaram sem forçar, e isso já faz valer o esforço.

Visualmente o longa tem dois vértices, um primeiro bem singelo com casas e construções bem antigas para representar o fim de uma época, com muitos ambientes sem cores contrastando com o visual colorido da trupe, e num segundo momento o lado mais abstrato, trabalhando ambientes desérticos, com lutas em tons amarelados secos e fortes, também tendo muito contraste com as cores dos figurinos dos personagens, numa jogada visual cheia de elementos bem moldados e que funcionam muito bem em contraposição com a escavadeira destruindo tudo, e ao fundo os grandes prédios modernos sendo construídos, ou seja, brincaram bastante com composições, porém exageraram na câmera lenta, algo que se não for bem feito acaba falhando muito.

Enfim, é um filme inteligente e interessante de ver, que com uma cantoria que enjoa um pouco até faz com que muitos se cansem do que é mostrado, mas que no contexto completo funciona dentro do que foi proposto, e o resultado embora demore a acontecer agrada, então quem for conferir vá sabendo que demorará para acontecer, mas ao final a conferida acabará sendo bem montada para envolver. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas vamos para mas um longa da Mostra, então abraços e até logo mais.

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