Sinônimos (Synonymes) (Synonyms)

12/06/2019 01:54:00 AM |

É engraçado que se o filme "Sinônimos" entrasse na programação do Festival Varilux muitos se assustariam com as performances nuas do protagonista, mas se formos ver seu estilo francês completo caberia muito bem dentro do festival, pois é quase como saber o que é ser francês em duas horas de projeção, claro sob a ótica de um imigrante maluco, que acredita ser mais francês que israelita, vivendo todo tipo de situação junto de dois conhecidos, performando como modelo para um ser maluco, participando de segurança da embaixada, ou seja, um filme cheio de coisas abstratas, mas que também brinca com a forma de aprender um idioma vivenciando o país, aprendendo os diversos sinônimos de palavras para melhor se expressar, e se envolvendo realmente com todas as forças de seu corpo para que cada momento e cada palavra se conecte com a real versatilidade dos atos. Ou seja, um filme forte, cru, cheio de momentos imponentes vividos pelo protagonista, de tal forma que acabamos indo no mesmo rumo que a trama deseja passar, e isso é muito bom, mas também a trama soa polêmica por muitos atos, o que não deixa de ser um luxo para o resultado final.

O longa nos conta que Yoav é um jovem israelense que chega a Paris esperando que a França e os franceses o salvem da loucura de seu país. Determinado a extinguir suas origens e se tornar francês, ele abandona a língua hebraica e se esforça de todas as maneiras para encontrar uma nova identidade.

Tem filmes que conseguimos enxergar facilmente como consegue ganhar tantos prêmios, e a principal qualidade do longa aqui é que o diretor e roteirista Nadav Lapid soube entregar símbolos para tudo através de seu texto, e principalmente da esplendorosa atuação do protagonista, pois o filme em se analisarmos sua essência é simples de situações, mas consegue expressar o fanatismo patriótico dos franceses (e no caso dos que querem virar franceses), vemos com minúcias nas cenas finais a interpretação claríssima do hino nacional do país, dito em diretiva tão imponente que chega a ser quase como um soco, vemos uma juventude inexpressiva que quer ajudar, mas que abusa também em troca, e muito mais, de modo que cada ato do filme se dilui perfeitamente num uso e abuso do personagem, da língua, e principalmente dos vocábulos, de modo que tudo importa, até mesmo a nudez exagerada.

Sobre as atuações, chega a ser até impressionante ser a estreia de Tom Mercier em frente as câmeras com seu Yoav, pois o jovem teve uma desenvoltura tão bem colocada, soube precisamente os momentos de olhar para a câmera maluca do diretor, trabalhou expressões coerentes para cada ato, e se desnudou não apenas de roupa, mas de caracteres para o tanto que precisou falar em cena, colocando pingos nos is, trabalhando abertamente para cada palavra nova que colocava nas suas histórias, e sempre com um olhar meio desviado funcionou com as nuances escolhidas para o longa de uma maneira certeira e precisa, ou seja, perfeito. Quentin Dolmaire entregou um Émile clássico demais, rico demais, e que em termos mais chulos, mala demais, daqueles amigos que da mesma forma que está te ajudando com uma mão está lhe usando com a outra, e que cheio de olhares quase jogados em cena, faz o papel clássico do escritor que flui de maneira singela. Louise Chevillotte faz quase uma mulher sem vida com sua Caroline, de modo que nos primeiros atos ficamos nos perguntando se era ela ali em cena com os demais ou apenas sua alma, pois a jovem foi apática, sem atitudes, sem sal, mas chegando próximo ao final do longa resolveu aparecer um pouco mais e fez atos bem marcados, o que acabou funcionando. Agora Uria Hayik podemos dizer que foi daqueles malucos completos com seu Yaron, chamando atenção mesmo sendo quase um personagem mais que secundário, e agradou bastante em seus momentos, de modo que o filme até poderia recair mais para ele, que daria conta do recado.

Visualmente o longa soa bem distópico, cheio de passeios pela cidade, mostrando a diferença monstruosa entre os apartamentos dos protagonistas, um com tremenda simplicidade, comendo o mais básico possível, enquanto os outros esbanjando com peles, até fazendo o macarrão básico do protagonista, mas colocando alcaparras, e brincando a todo momento com os contrapontos entre os verdadeiros franceses e os estrangeiros que se acham franceses, ou seja, uma abertura completa para o real nome do filme de sinônimos, que são parecidos, mas não são iguais, e assim tudo se contrapõe e se complementa, num exercício minucioso incrível de ver.

Enfim, é um filme denso, forte, e bem cheio de cultura e diversidade artística, de modo que não vai ter aquele que vai ficar em cima do muro, ou seja, terá aqueles que gostarão muito, e aqueles que odiarão o resultado completo, mas uma coisa é certa sobre o longa, ele é polêmico na medida certa para não sair da linha, e isso é um tremendo acerto. Bem é isso pessoal, encerro aqui por hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.

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