As Golpistas (Hustlers)

12/01/2019 01:48:00 AM |

Costumo dizer que acertar o tom em filmes baseados em fatos reais é algo difícil demais, pois geralmente tentam soar convincentes e acabam entregando algo tão falso que nem dá para acreditar, e ultimamente tem aparecido algumas histórias tão absurdas, que são feitas de uma forma tão maluca que acabamos julgando ser impossível que aquilo tenha acontecido, mas rolou. Ou seja, conferir "As Golpistas" é daqueles filmes que rimos de situações malucas, nos emocionamos com as atitudes quase-familiares das protagonistas, e que numa dinâmica bem colocada acabamos vendo até mais do que apenas uma noção errada de empreendedorismo que funciona muito, afinal uma das profissões mais antigas do mundo acaba sendo moldada de uma maneira tão bem colocada, misturando toda a sacada de Wall Street, desenvolvendo um âmbito familiar bem acertado, e principalmente trabalhando o molde jornalístico de pano de fundo sem soar abusivo, afinal o longa é baseado em um artigo escrito por uma jornalista, e a diretora soube usar bem essa essência para que seu filme tivesse um algo a mais do que apenas dança, drogas, sexo, roubos e outros crimes, para que o envolvimento ficasse bem maior.

O longa nos conta que em entrevista concedida a Elizabeth, jornalista da New York Magazine, a ex-stripper Destiny conta em detalhes como conseguiu o emprego e conheceu Ramona, ícone do meio que logo se tornou sua grande amiga. Devido à crise financeira que abalou Wall Street em 2008, Destiny e Ramona viram o declínio na quantidade de clientes na boate em que trabalham afetar sua própria rentabilidade. Com isso, decidem elas mesmas iniciar um plano onde, juntamente com algumas amigas, vão atrás de homens em restaurantes para, após dopá-los, faturar em cima de seus cartões de crédito.

Um ponto a se notar é a desenvoltura que a diretora Lorene Scafaria trabalhou seu filme, pois em momento algum sentimos falta de uma cena de conexão, não nos vertemos a trabalhar as loucuras mostradas na tela, e dessa forma conseguimos ver seu trabalho desenvolvido apenas para um propósito: a diversão do público, não sendo um longa difícil, não recaindo para situações cheias de histórias desnecessárias, indo no ponto certo para mostrar o âmbito familiar das moças, a situação de perda da vida boa, a quebra de Wall Street influenciando muito mais, e principalmente conectando sexo, drogas e rock 'n roll da melhor qualidade, com acertos precisos dela para que seu filme agradasse bastante, tendo apenas um grande erro: o excesso de datas, pois mesmo sendo um filme que mostra situações reais, ficar tentando marcar os momentos resulta em algo desnecessário, cansativo, e que acaba alongando a trama sem uma coesão que viesse para algum acerto. Ou seja, se já havia elogiado muito a diretora em seu primeiro filme, aqui volto a dizer que conduziu com precisão para que o público se envolvesse com tudo, e isso é muito bom de ver tanto pela técnica usada, como pelas boas escolhas dos momentos para ir no corte final.

Quanto das atuações, é bem interessante ver o estilo que cada uma escolheu para vivenciar as personagens principais, pois com deram atitudes bem dosadas, outras mais atacadas em frente aos homens e as câmeras, e até sabendo como encontrar força para que seus atos soassem imponentes e marcantes, ou seja, se doaram bem para cada um dos momentos do filme, num grande acerto final. Constance Wu já demonstrou em outros filmes que seu estilo de atuação é mais sério, sem muitas firulas em olhares e trejeitos, e aqui sua Destiny tem uma boa presença, consegue chamar a responsabilidade como uma protagonista frágil, e envolver em seus atos mais cômicos, ou seja, agrada com bem pouco. Jennifer Lopez sempre rebolou muito em seus shows, e aqui sua Ramona impõe sem medo algum uma stripper de primeira classe, com muitas danças sensuais, mas ao brincar bem seus olhares acaba soando principalmente como uma manipuladora de primeira linha, sabendo exatamente onde explorar para conseguir ganhar muito dinheiro, e claro roubar também, de modo que ficamos bestas com o que faz em cena em diversos momentos. Keke Palmer e Lili Reinhart trabalharam bem também com suas Mercedes e Annabelle, mas sempre ficando em segundo plano atrás das protagonistas, meio como suportes, e isso não é algo que funciona bem, mas também não decepcionaram. Julia Stiles fez uma boa entrevistadora, sendo direta nas perguntas, fazendo caras e bocas em alguns momentos engraçados, mas principalmente conseguiram passar a ideia de como foi a jornalista que entrevistou cada uma das mulheres, dos homens, dos policiais e de todos os envolvidos para escrever o artigo em que o longa foi baseado, e assim entregar uma homenagem também para a escritora real. Agora quanto aos demais, diria que todos foram quase objetos cenográficos, com um leve destaque para Wai Ching Ho para a vozinha de Destiny, que do nada ainda foi bem expressiva, e conseguiu cativar com bons olhares e sorrisos para todos.

No conceito artístico, a equipe de arte trabalhou muito bem criando uma boate cheia de ambientes para as moças dominarem com seus figurinos ousados, encontrou ares bem planejados para que as casas/apartamentos fossem mostradas com muito luxo e simplicidade contrastando, além de mostrar o mercado maluco de Wall Street bem colocado num primeiro momento, e mesmo nos atos decadentes da época, o filme ainda soube mostrar um pouco do que aconteceu em singelos cenários bem coesos. Claro que não é daqueles filmes que o ambiente sobrepõe a trama, mas souberam representar bem a irmandade das jovens dançarinas, seus atos ilícitos para viver bem, e claro tudo o que tinha nos bastidores do que faziam, contrastando sempre o ato com a vontade em si. A fotografia brincou bastante com cada momento, baixando tons para mostrar a dramaticidade sofrida na época das vacas magras com as jovens sofrendo para conseguir ganhar seu dinheiro trabalhando em outros lugares sem ser na boate, mas jogando o tom colorido e cheio de luzes nas boates e na vida boa nos momentos de grandes ganhos, ou seja, mostrando as duas épocas bem contrastantes.

O longa tem um ritmo frenético do começo ao fim com leves quebras de ritmo para dar um tom mais dramático, mas sempre ousando nas canções fortes a batida da trilha sonora nos envolve e quase nos transporta para cena com grandes acertos musicais, que claro deixo aqui o link para todos curtirem.

Enfim, é um filme bem interessante, com uma boa pegada, que certamente envolverá com a precisão dos atos em si quem for conferir, pois ele é bem sacado, bem ousado, e tem estilo, não sendo algo perfeito, mas que agrada bastante com a forma escolhida para representar algo que aconteceu, e que sempre acontecerá nesse meio, e sendo assim, vale a recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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