O Zoológico de Varsóvia (The Zookeeper's Wife)

12/29/2019 01:19:00 AM |

Sabe aqueles filmes que costumam entregar bem mais do que você imagina? Daqueles que vemos algo incorporado na trama parecendo apenas ser bonitinho, mas que depois acaba fluindo para rumos mais sérios, ao ponto de trabalhar o tema com uma destreza forte bem colocada e que até passa a dominar mais pelo tema em si do que pela beleza. Pois bem, é dessa forma que acabamos nos envolvendo com o longa que estreou na Netflix, "O Zoológico de Varsóvia", que entrega com muita sutileza todo o drama que os judeus poloneses sofreram durante a invasão do exército de Hitler para cima deles, e como uma família que administrava um zoológico conseguiu salvar a vida de diversas pessoas as escondendo nas dependências do zoo. Claro que todo filme que envolva guerra acaba sendo duro e tenso, e aqui não seria diferente, mas souberam trabalhar tão bem o mote ao redor que acabamos vendo um filme gostoso, cheio de nuances, e que principalmente verte para o algo a mais que muitas vezes acabamos não vendo, e digo isso em base de que sempre vemos os campos de concentração, ou então as imposições ao redor de Hitler, ou então alguns floreios sobre histórias de livros, mas raramente vemos como tudo afetou as pessoas próximas de amigos judeus, e aqui foram bem diretos, mostraram alguns atos bem violentos de forma subliminar, e o acerto foi bem mostrado.

O longa nos conta que Jan Zabinski é o responsável pelo zoológico de Varsóvia junto com Antonina, sua esposa. O casal se vê forçado a se reportar para o zoologista, Lutz Heck quando o país é invadido por nazistas. Em pouco tempo, eles começam a trabalhar com a resistência e planejam salvar centenas de vidas ameaçadas pela invasão.

Além de ser um belíssimo filme, vale a pena conferir o longa para conhecer o estilo da diretora Niki Caro, afinal nesse novo ano que começa daqui 4 dias veremos ela enfrentando um batalhão de fãs com sua adaptação do clássico infantil "Mulan", e aqui ela mostrou muita segurança para com o tema, não demonstrando falta de força nos momentos chaves, e sabiamente trabalhou cada elemento da trama de uma forma simples e coerente, de forma que o tema que é bem forte soasse mais leve, e acertasse o público em cheio a cada vez que o filme recaísse para algo que fosse dentro das rígidas regras do nazismo. Ou seja, ela trabalhou de uma forma ousada para retratar algo complexo, mas em momento algum deixou a sutileza no olhar dela, e abriu a trama de modo que todos pudessem conferir sem se ofender, o que é algo raro de ver em filmes do tema, e dessa forma o acerto foi na medida certa.

Sobre as atuações, é fácil dizer que Jessica Chastain caiu como uma luva para o papel de Antonina, chamando a responsabilidade para si em diversos momentos, fazendo trejeitos fortes nas cenas de impacto, sendo doce quando precisava, e com isso o filme teve uma fluidez tão precisa que mesmo que alguns personagens acabem parecendo estranhos, ela consegue desenvolver tudo e arrumar, ou seja, perfeita como sempre. Johan Heldenbergh acaba entregando um Jan meio forçado em alguns atos, trabalhando quase como seco demais, o que resulta em uma personalidade até que forte, mas parecendo a todo momento que não está fazendo o filme com prazer, e fora que não caiu bem como um par correto para a beleza de Jessica, o que é um problema. Agora falando em par, a todo momento ficamos esperando ela deixar o marido para ficar com Daniel Brühl com seu Lutz, que tem bem mais o estilo da protagonista, mas logo de cara vemos que ele não é de boa índole, e com o andar do filme acabamos ficando mais com raiva dele, do que gostando, mas claro pelos ótimos trejeitos e pela imposição que deu para o personagem, ou seja, agradou bastante dentro do que fez. Agora quanto aos demais personagens, todos deram tons bem variados para cada momento, alguns expressando desespero, outros temor, mas sem dúvida o destaque recaiu completamente para a garotinha Shira Haas com sua Urszula, que emocionou com força em todas as suas cenas, e mesmo sendo uma coadjuvante de luxo, praticamente chamou a responsabilidade para si em vários atos.

Quanto do visual da trama, vemos inicialmente o lindíssimo zoológico, vemos um parto complicado, vemos toda uma beleza cênica incrível, e na sequência vem a guerra e destrói tudo, e passamos a ver praticamente tudo em marrom sujo e nos verdes das roupas do exército, ou seja, uma mudança cênica brusca que chama a atenção e foi muito bem moldada em diversas locações para envolver mesmo, trabalhando até mesmo no porão com as grades, mudando o ar completamente, o que funciona demais, e mostrou um estudo perfeito da equipe para que tudo fosse na medida, sem exageros (afinal é um longa de baixo orçamento!), e que representasse bem cada momento.

Enfim, é um filme forte na medida certa e sutil também ao ponto de fazer com que acabássemos envolvidos com tudo e víssemos beleza nas atitudes fortes que acabam ocorrendo, mostrando que a trama foi escrita de uma forma para não pesar tanto a mão e junto de uma beleza subjetiva agradar com tudo o que é passado na tela. Realmente foi uma pena não ter sido lançado nos cinemas do Brasil na época, vindo somente para mídia digital algum tempo atrás e agora surgindo na Netflix, de forma a podermos recomendar ele com toda certeza. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...