Netflix - História de um Casamento (Marriage Story)

12/09/2019 01:33:00 AM |

Sabe aquelas peças de teatro com discussões de relacionamento gigantes, brigas pela guarda dos filhos, e muitos outros simbolismos do estilo que ficamos impressionados pela essência, mas que dificilmente veremos ambos conciliados se amando ainda, mesmo que no fundo ainda tenham pitadas de envolvimento entre eles? Diria que assistir ao novo filme da Netflix, "História de um Casamento" é basicamente a mesma coisa, pois tem toda uma essência bem trabalhada dentro do roteiro, principalmente pela excelente construção dos diálogos, que nas mãos de dois atores perfeitos conseguiram dominar cada cena, mas que se ele se passasse em qualquer outro lugar, sendo até mesmo em cima de um palco só com os dois funcionaria tranquilamente. Ou seja, é um filme tão básico, que a dramaticidade exagerada acaba até cansando um pouco, mas que de certa forma funciona para a proposta, e conseguimos enxergar até mais dentro de tudo, não sendo algo perfeito para quem quer um filme apenas para curtir, mas que quem gosta de boas atuações e diálogos irá amar cada momento.

O longa nos conta que Nicole e seu marido Charlie estão passando por muitos problemas e decidem se divorciar. Os dois concordam em não contratar advogados para tratar do divórcio, mas Nicole muda de ideia após receber a indicação de Nora Fanshaw, especialista no assunto. Surpreso com a decisão da agora ex-esposa, Charlie precisa encontrar um advogado para tratar da custódia do filho deles, o pequeno Henry.

Se pararmos bem rapidamente para analisar a carreira do diretor e roteirista Noah Baumbach vamos ver que seu estilo é o mais próximo que a Academia de Cinema gosta, de filmes cheios de diálogos, aonde os protagonistas podem se destacar pela atuação em si, e que todo o restante seja 100% eliminado de cena, não importando ângulos de câmeras, não necessitando filmar em locações sublimes, muito menos que o filme tenha algo a mais para ser notado, ou seja, o cinema cru de essência que poderia funcionar feito por qualquer outro ator, em qualquer outro país ou até mesmo em cima de um palco, e aqui vemos praticamente uma aula dele em cima disso, pois ele soube conduzir sua trama com tanta sabedoria, e jogar literalmente nas mãos de dois grandes astros da interpretação dialogada, que o resultado é limpo, bem colocado, e mesmo sendo um filme longo de dramaticidade, passamos o tempo todo acompanhando cada um dos seus atos torcendo para que ambos se beijem após se matarem com seus advogados, e o elo não é marcado, o que é melhor de tudo. Ou seja, Noah conseguiu fazer com que seu filme tivesse o amor na alma dos protagonistas, mas que em suas atitudes frente aos advogados funcionasse quase como uma vingança pelos anos perdidos, e o momento dos dois na casa simples debatendo é de arrepiar e fará com que ambos os atores sejam indicados a tudo.

Sobre as atuações já disse e repito, se não vermos a dupla entre os indicados a todas as premiações será a maior injustiça possível, pois ambos simplesmente comeram o roteiro e recitaram com expressões fortes e marcante palavras de todas as formas possíveis, e principalmente na cena pós júri, na casa do protagonista vemos algo tão forte de ambos que se fosse em uma peça, a plateia inteira se levantaria e aplaudiria o casal, ou seja, deram show do começo ao fim. Scarlett Johansson vem marcando boas atuações em cima de boas atuações, colocando sua pontuação num nível altíssimo seja em filmes de heróis ou em dramas bem trabalhados, e aqui sua Nicole é densa, cheia de vértices para serem trabalhados, e a atriz não apenas dominou cada um desses vértices, como criou outros ao ponto de deslanchar atitude, e querer ainda mais para si, ou seja, agradou e muito. Por outro lado, Adam Driver também não deixou barato e pegou seu Charlie e montou arcos dramáticos bem dosados, transparecendo calma e atitude até precisar explodir, seja gritando como foi o caso da cena que tanto citei, como emotivo nas cenas de fechamento, e mesmo que seja um dos atores que menos consigo gostar de Hollywood, posso dizer que aqui ele fez o papel ser dele, e de mais ninguém. Quanto aos demais, tivemos cenas bem doces e interessantes de ver com o pequeno Azhy Robertson como Henry, vimos uma advogada de nível imponente master vivida por Laura Dern lutar com unhas e dentes contra Ray Liotta, e tivemos agradáveis participações por parte de Alan Alda e Julie Hagerty.

Como disse no começo, não importa aonde a trama se passe, pois o roteiro é muito aberto dentro dessas situações, mas conseguimos enxergar bem nos protagonistas o estilo de Nova York e Los Angeles, brincando bem com seriedade contra aventura, e muito mais, além claro de brincarem com casas riquíssimas de ornamentos, trabalharem bem a dinâmica dos porta-retratos, e claro a ambientação bem moldada para trabalhar os estilos de cada um, ou seja, para o filme ter o funcionamento abriram mais o detalhamento cênico, e isso funciona desde a casa deles em Nova York, passando pelos ótimos cenários dos escritórios de advocacia mais diferentes possíveis, até brincar com os estilos de Halloween, ou seja, um trabalho minucioso que nem era tão necessário, mas que foi muito bem feito.

Enfim, é um filme bem feito que agrada pelo ótimo roteiro, pela desenvoltura corajosa dos atores em criar dinâmicas incríveis para seus personagens, mas só quem amar dramas bem textuais irá conseguir conferir o longa, pois não é daqueles que nos envolvem com um contexto a mais, e isso faz com que a maioria desista na metade. Sendo assim recomendo ele para poucos, mas os que gostarem do estilo sairão extremamente felizes com tudo. E eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.

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