Deus é Mulher e seu Nome é Petúnia (Gospod postoi, imeto i' e Petrunija) (God Exists, Her Name is Petrunya)

12/04/2019 08:58:00 PM |

Quando estudamos a Idade Média ouvíamos muito falar em algumas proibições para mulheres, coisas que eram exclusivas para homens, e hoje ainda temos muitos países com rituais desses estilos, aliás, no mundo todo se pararmos para pensar temos proibições religiosas para mulheres, então trabalhar esse tema polêmico com um estilo próprio, brincando praticamente com a situação direto na ideia do espectador, como se fosse um grande espetáculo de uma cidade pequena é algo que o diretora certamente quis cutucar a ferida, e o acerto de "Deus é Mulher e seu Nome é Petúnia" fica todo nas mãos da protagonista que soube encarar muito bem cada momento, e só não é melhor por não utilizarem mais a tesoura para cortar o filme melhor e dar ritmo para ele, pois a primeira metade é extremamente cansativa e sem atitudes, e o segundo flui bem melhor, mas no geral o cansaço bate, e se não fosse um tema tão bem amarrado certamente dormiríamos na sessão.

O longa nos conta que todo dia 19 de janeiro, um ritual único é realizado na Macedônia. O pároco mais importante de cada cidade lança uma cruz no rio, e centenas de homens mergulham para alcançá-la, sob a promessa de que assim terão felicidade e prosperidade durante o ano. Na pequena vila de Stip, a cerimônia é interrompida por um acontecimento inédito. Petúnia, mulher de 32 anos que está solteira e desempregada, mergulha para pegar a cruz e se torna a vencedora. Mas o povo de sua cidade não permitirá que ela seja reconhecida como tal.

Não posso falar muito do estilo da diretora Teona Strugar Mitevska, muito menos da escola macedônica de cinema, pois esse é o primeiro filme tanto dela, quanto do país que assisto, mas posso dizer pelo que vi aqui que gostam de polêmicas, pois a trama em si já possui uma essência direta, cheia de motes para brincar e brigar, o que certamente nem necessitaria toda a grande sacada que a diretora jogou nas mãos da protagonista para desdenhar até o último segundo todas as suas opções dentro da lei que a defende, ou seja, o filme funciona certinho em tudo o que se propõe a mostrar, desde machismos exagerados, abusos, tradições, e até proibições que não existem, além claro da violência religiosa de certos grupos, e assim sendo, o resultado dentro desse contexto é perfeito. Porém outro fato que fica claro é a falta de cortes mais diretos, deixando que os respiros ficassem longos demais, e coisas subjetivas que poderiam ser eliminadas, acabaram ficando dentro da totalidade da trama, o que acaba cansando demais, principalmente após um dia exaustivo de trabalho como é o caso da maioria que vai ao cinema, então poderiam ter reduzido uns 15 minutos do longa, que o resultado ficaria ainda mais incrível, mas isso são gostos peculiares, e para alguns esses respiros podem servir de reflexão, então é aceitável também.

Sobre as atuações, não vou me apegar tanto aos demais personagens e atores, pois a maioria foi bem encaixada, tendo atitudes fortes e bem trabalhadas, mas sem dúvida alguma o longa só tem o efeito que tem pelo que Zorica Nusheva faz com sua Petúnia, que com olhares fortes, dinâmicas bem secas, e com um preparo incrível para chamar a responsabilidade para si, acabamos ao mesmo tempo torcendo por ela, e ficando bravos com o que faz, de modo que ela conduz cada fio da trama do começo ao fim. E dentre os demais protagonistas, só vale um rápido destaque para insistente repórter vivida por Labina Mitevska, que trabalha os pontos de discussão do longa, e para o policial bem singelo e apoiador vivido por Stefan Vujisic.

No conceito visual, diria que até o padre entra como uma alegoria com suas vestimentas fortes contra os diversos seguidores seminus desesperados para entrar na água com um frio violento para pegar uma cruz, e até esse momento o filme em si tem poucas nuances visuais, passando por uma fábrica de roupas com um ar totalmente exploratório de mulheres, a casa simples da protagonista com seus pais, e em seguida vamos para uma delegacia escura, com mais ambientes e discussões pautadas em ambientes reclusos, e que força a trama para a desenvoltura escolhida, ou seja, uma arte simples se formos ver, mas que tem símbolos espalhados em cada momento para analisarmos e vermos o que a diretora desejava passar.

Enfim, é daqueles filmes que muitos vão amar pela temática, outros vão reclamar da técnica, e que no geral todos irão gostar do resultado final, pois é um bom filme, que vale a conferida por tudo o que entrega, só pesando um pouco o ritmo exageradamente lento de atitudes, mas tirando esse detalhe é muito inteligente e interessante de assistir, e sendo assim, o recomendo. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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