Cicatrizes (Šavovi) (Stitches)

12/04/2019 02:10:00 AM |

Sabe aqueles filmes intrigantes que não conseguimos descolar os olhos da tela pensando em como vão desenrolar tudo? Daqueles que acabamos torcendo tanto pra protagonista conseguir provar que estava certa em sua busca? Daqueles que ficamos bravos com pessoas que machucam a protagonista de maneira que dá vontade de ir brigar? Pois bem, "Cicatrizes" tem tudo isso e muito mais, pois o longa sérvio vem com tanta imponência na concepção da busca da protagonista em tentar curar suas feridas, tentando saber onde é o túmulo ao menos de seu filho que tem tanta certeza que está vivo e foi roubado, que vemos situações tão tensas ao redor dela que não conseguimos acreditar na forma que tudo ocorre. E o melhor de tudo é que a tensão constante é bem interpretada, traz silêncios duríssimos, e principalmente se resolve com muita certeza do que vai entregar, pois alguns diretores optariam por deixar o filme aberto, mas aqui o diretor foi incisivo e preciso nos atos, para que ainda ficássemos mais revoltados com tudo.

A sinopse nos conta que há dezoito anos, Ana sofre de uma dor implacável. Ela passou todo esse tempo convicta de que seu filho, alegado natimorto pelo hospital, na realidade teria sido vendido para um esquema de adoção ilegal que vigora até os dias atuais na Sérvia. Com uma nova pista e o relato de outras dezenas de mulheres que acreditam ter passado pela mesma situação, Ana vê motivos para recuperar as esperanças.

O diretor Miroslav Terzic soube ser coerente em todos os momentos, deixando sempre o público com a pulga atrás da orelha de confiar ou não na protagonista, pois sabemos bem como é o coração de uma mãe, mas também sabemos das loucuras que botam em suas cabeças, então o filme fica sempre com essa jogada de o que é verdade, em quem confiar, o que são as pessoas ao redor dela, e sabiamente conseguiram nos prender com todos esses detalhes, de tal maneira que nos vemos sempre olhando ao redor, procurando pistas, e quando achamos que vamos ir direto no alvo, a ponta do iceberg era apenas um pedacinho, pois tinha ainda muito mais para escavar. Ou seja, o diretor conseguiu captar tanto a essência dramática do tema, que é real como é mostrado nos letreiros finais a quantidade de crianças desaparecidas na Sérvia por ano, que com muita tensão, e principalmente boas dinâmicas nos atos de cada um dos personagens, que o resultado impacta e ainda faz pensar, coisa rara de ver em dramas nos dias de hoje, que geralmente não puxam tanto para o suspense. E assim sendo, vemos um filmaço sendo conduzido com primor por todos para um final ainda melhor do que esperávamos ver.

Um dos fatores da trama funcionar muito bem é o fato de Snezana Bogdanovic ter olhares tão precisos, que quase nos implora a confiança nas ideias de sua Ana, pois é notável que ninguém mais acredita nela, que optou em usar muito mais o silêncio do que ter atitudes, afinal já são 18 anos brigando por algo, e a atriz foi tão forte, tão cheia de atitudes cênicas, que não tem como não se emocionar com ela, e principalmente torcer e acreditar no que está fazendo, de tal forma que o filme com outra atriz pode até funcionar, mas não sei se acreditaria tanto como o que ela fez. Num primeiro momento acabamos meio com raiva de Jovana Stojiljkovic como Ivana, pois a garota parece exageradamente jogada, mas num segundo momento até sentimos também os seus ciúmes pela mãe não lhe dar a atenção devida enquanto busca pelo irmão desaparecido, e claro que com seus atos na segunda parte da trama, ela muda da água pro vinho, e ainda entrega bem suas cenas, sendo um bom acerto. Marko Bacovic entregou uma boa personalidade nas cenas de seu Jovan, não sendo muito primoroso de atitudes, mas sabendo ser coerente nos momentos que foi colocado, encaixando bem toda a situação, e agradando com sentimento também. Quanto aos demais, tivemos boas cenas de envolvimento com o jovem Pavle Cemerikic fazendo de seu Marko um bom encaixe de fechamento, ficamos bem bravos com a doutora e com os policiais, mas nada que valha dar destaque, pois fizeram apenas o normal.

Visualmente o longa nem tem tanta imponência, pois são lugares simples, como o apartamento da família, mas com elementos marcantes, e principalmente importantíssimos para o fechamento escolhido, temos o hospital e a delegacia que trabalham com poucos detalhes, mas que causam força nas cenas, temos a casa de costura que a protagonista trabalha, aonde seu sentimento de imposição fica bem marcado, e claro temos a casa da outra família que mostra um ar rico, e que dá o tom para tudo o que o filme tenta passar, mostrando bem a ideia de que o dinheiro pode comprar uma vida, e mudar ela também. O tom da fotografia brinca bastante com a densidade dramática, usando cores cinzas, sujas e bem marcadas para mostrar a tristeza da protagonista em sua busca, mas joga também muita cor nos atos de felicidade dela, o que é um grande contraste e funciona bastante.

Enfim, é daqueles filmes que ficamos esperando muito por cada cena seguinte, para sabermos o desenrolar da trama logo, que nos aflige demais, e que graças a isso funciona, e sendo assim, com muita vontade por parte de todos acabamos gostando tanto da história, quanto da direção, mas principalmente das atuações, pois todos foram precisos nos olhares, e claro que recomendamos com muita certeza a conferida. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dois longas da Itinerância da Mostra Internacional, então abraços e até logo mais.

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