O longa se passa em um mundo devastado pelas mudanças climáticas. Com os recursos limitados e fortemente racionados, até mesmo o sonho de ter uma criança não é mais uma decisão feita a dois, mas um privilégio e um luxo deliberado por um teste misterioso e rigoroso. Esse exame tenta provar se o casal que deseja ter filhos, em meio a um mundo no qual a taxa de nascimento é altamente controlada e otimizada, são merecedores e capazes de arcar com a responsabilidade. Mia e Aaryan são um dos raros casais permitidos a fazer o teste e que conseguiram navegar, com sucesso, o brutal e longo processo seletivo. Agora, o jovem casal deve ser colocado sob o escrutínio de uma avaliadora fria e imprevisível ao longo de sete dias. Virginia é o seu nome e seus desafios avaliatórios puxam a dupla a enfrentar suas maiores inseguranças, abalando os alicerces até então fortes do relacionamento.
Diria que a diretora Fleur Fortune achou o ponto exato para que sua estreia em longas-metragens depois de muitos curtas fosse precisa e objetiva, pois é o famoso filme coringa que se bem manipulado entrega ótimas perspectivas, mas se errado em qualquer ponta solta acaba estragando e virando um porre, e digo mais, ao optar em não fechar seu filme no ponto onde a maioria dos diretores entregaria, ela mostrou sua opinião sobre as três personalidades e desejos, e fez com que o público pudesse imaginar também tudo o que cada personagem vivenciou no seu final, e assim o acerto foi ainda mais preciso. Ou seja, é uma diretora para ficarmos de olho, pois enfrentar uma ficção científica distópica e com pitadas de drama psicológico é algo que nenhum astuto diretor desejaria se colocar a prova como primeiro longa, e sabiamente o resultado vai em flerte com algo tão em moda que são os "bebês" sem vida real.
Falar das atuações é algo bem fácil aqui, afinal são três ótimos atores se jogando por completo na tela, ao ponto que saíram do eixo simples e fizeram muito em cada ato mais insano que o outro. E vou começar do contrário, com Alicia Vikander que é mágica com o que faz em cada personagem novo, de modo que aqui sua Virgínia é daquelas que você olha e pensa o quão problemática foi a vida de uma pessoa para criar um personagem desse, cheio de nuances, cheio de expressões, e o pior, ou melhor vai saber, cheia de estilo, conseguindo chocar com suas mudanças expressivas e chamativas no papel, sendo brilhante com o que faz em cena. Elizabeth Olsen trabalhou sua Mia com olhares desconfiados no começo, foi mudando a perspectiva para entrar na dinâmica, e quando se viu já estava presa com tudo o que lhe colocaram, até sendo engraçado de ver, pois a atriz já teve outra experiência desse estilo em uma série, e aqui ela faz de uma forma completamente diferente, ou seja, soube trabalhar bem o texto e entregar personalidade para o papel. Uma coisa que me incomoda um pouco com Himesh Patel é que ele não se transforma para os seus personagens, fazendo o inverso que é fazer seu personagem se parecer com ele, e isso embora seja um estilo de atuação não permite cenas mais impactantes por sua parte, e aqui seu Aaryan até tem uma entrega bem cadenciada nos diversos momentos, mas pareceu inseguro em alguns momentos para ir mais além, o que não atrapalhou o filme, mas poderia ter chamado mais o filme para si. Os demais atores apareceram apenas em uma cena, bem conflitiva aonde puderam se jogar em dinâmicas e diálogos bem imponentes para a trama, mas são apenas objetos do caos, então valeria dar leves destaques apenas para Minnie Driver por sua Evie completamente explosiva.
Visualmente a trama teve um ar bem tecnológico, mas sintético na tela, não sendo algo cheio de computação gráfica, mas sim uma casa com poucos detalhes, com um design meio minimalista, mas com ambientes bem grandes, além de uma cozinha com poucos elementos e a caverna de trabalho do protagonista sem nada praticamente, apenas luzes e um sofá, além do macaco projetado que ele desenvolve, e do lado de fora praticamente uma montanha seca com um mar abaixo, e a estufa aonde a protagonista trabalha, ou seja, tudo bem rudimentar, mostrando que o ambiente vive em uma cúpula que controla o clima e tudo mais. Ao final somos apresentados um pouco de onde vive a avaliadora e também como chegar ao Velho Mundo, sendo algo bem intenso e que souberam gastar bem para algo pequeno na tela.
Enfim, é um filme reflexivo, porém cheio de nuances, aonde dá para analisar muitas coisas e também claro curtir como uma proposta de entretenimento, não sendo apenas jogado na tela para mostrar o quão inteligente foram os roteiristas e a diretora, resultando em algo bem interessante de ver e ir além, valendo bastante a recomendação. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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