Netflix - A Saudade Que Fica (パレード) (The Parades)

3/24/2024 09:42:00 PM |

Diria que o país que mais consegue trabalhar bem a sintonia e a ideia de um pós-vida, ou melhor traduzindo o título original ao pé da letra, de uma parada antes de ir para o céu ou o inferno, é o Japão, pois eles traduzem sempre com luzes, com emoções e dinâmicas tão bem precisas o fator de se livrar de algo que ficou em dívida por aqui, de um perdão ou adeus, que quando entregam isso usando metalinguagens ou reflexões na tela acabam fluindo tão bem que não tem como não se emocionar, e o longa da Netflix, "A Saudade Que Fica", trabalhou tão bem isso que muitos vão enxergar parentes, e sínteses que por vezes vão muito além de um filme, e com isso acabarão acreditando nas diversas possibilidades e envolvimentos passados. Ou seja, é uma trama bem bonita, bem cheia de reflexões e de simbolismos, que parecia ir por um rumo, mas que conseguiu ter um vértice diferenciado no final que acaba agradando ainda mais, sem precisar ser duplo, o que com certeza muitos irão imaginar de formas e entendimentos diferentes, mas que funcionam também, valendo por completo.

A sinopse nos conta que após um terrível desastre, uma mãe procura seu filho desaparecido até perceber que, na verdade, ela é quem faleceu. Presa entre os mundos dos vivos e dos mortos, ela é acudida por um grupo peculiar de pessoas que possuem seus próprios motivos para não seguir em frente. Juntos, eles descobrem que mesmo após a morte é possível buscar o perdão e o amor, enquanto aprendem a dizer adeus pela última vez.

O diretor e roteirista Michihito Fujii soube segurar a trama com dinâmicas mais amplas e com muita densidade em cima das emoções pessoais dos protagonistas, de modo que conseguimos enxergar bem toda a essência de cada um, todas as virtudes e desenvolturas, e conforme ele vai nos colocando os problemas de cada um dos personagens, junto da busca da protagonista por seu filho, vamos criando vínculos com eles e gostando de cada um mesmo que aparecendo pouco na tela. Outro ponto muito bom que o diretor fez foi o de conseguir segurar sua trama com tantos personagens e possíveis saídas da história de que não virasse um novelão, pois estava muito fácil para que isso acontecesse, e ele amarrou tudo para que sempre ficasse em torno dos seis personagens, e assim acabou entregando algo limpo, bonito e que consegue envolver, trabalhando cada momento solto bem rapidamente, e deixando que a síntese necessária ficasse em cima dos personagens principais, isso sem falar no fechamento com um outro olhar sobre tudo, que aí vai mais além e dá o famoso tapa na cara para vermos aonde ele realmente queria que focássemos.

Quanto das atuações a base toda é em volta de Masami Nagasawa com sua Minako, inicialmente perdida, com olhares de desconfiança e tudo mais, mas logo que se sente em casa com os demais personagens assume o olhar jornalístico da personagem e já prepara histórias, sabe olhar e investigar cada um e entrega muita personalidade na tela. Já Kentarô Sakaguchi trouxe um ar mais emocional para seu Akira, mostrando seu lado escritor, e o mais bonito de ver sobre o motivo que permanece no local, sabendo passar sinceridade no olhar para com todos e agradando bastante com isso. Outro que deu um show de personalidade foi Lily Frank com seu Michael, um cineasta que morreu sem acabar seu último filme, uma obra baseada em sua vida com seus amigos, e a sacada de filmar as últimas cenas com os mortos ali foi de uma virtude e brincadeira tão bem elaborada que a felicidade do ator foi transmitida na tela para fora, ou seja, bem emocional e bacana de ver. Ainda tivemos Ryûsei Yokohama com seu Shuri, um ex-membro da Yakuza, que morreu em conflito da máfia, mas que busca ver como sua amada seguiu sem ele, e chamou muita atenção, Denden fazendo Tanaka um ex-bancário que depois descobrimos ser um guardião do local e Nana Mori bem trabalhada com sua Nana dando depois um estilo final bem diferente do esperado, mas sem dúvida entre os secundários quem chamou mais atenção foi Hana Kino com sua Kaori, a divertida dona do bar, trabalhando os drinques e comidas sem gosto algum para todos, afinal estão mortos, mas que simboliza bem suas virtudes em vida e passa emoção nos atos que visita sua família, agradando bastante na tela.

Visualmente a trama tem todo um trabalho cênico incrível desde a primeira cena, com todos os pedaços de casas, carros e tudo mais no mar revolto, depois vemos os vários pedaços pela praia e pelas ruas do que sobrou do terremoto, num amontoado de cores e bombeiros, vemos algumas cenas no centro de apoio com vários nomes nos murais e tudo bem simbólico do estilo, para aí vermos a protagonista indo para um lugar bonito, meio que como um parque de diversões, todo cheio de luzinhas, vemos ali nuances duplas de locais meio que abandonados que no final acabam sendo ainda mais marcantes com toda a ideia, tivemos atos belíssimos nas procissões da lua nova com lanternas e muitos figurantes, as cenas no cinema e o feitio do filme todo trabalhado, ou seja, a equipe de arte soube gastar cada centavo do orçamento para que tudo ficasse marcante e bem bonito na tela.

Enfim, é um filme que tem muita personalidade, que consegue sair da tela e voltar para ela com metalinguagens e referências, que não se permite cair de ritmo em momento algum, e que ainda assim não soa pesado com o tema envolvendo morte, luto, perdões e tudo mais, então fica a dica para todos conferirem e se envolverem com reflexões sobre tudo o que é mostrado. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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