Lilith

3/03/2024 10:46:00 PM |

Costumo dizer que o estilo abstrato e experimental consegue funcionar somente com muita pesquisa pelo diretor/roteirista, e fica perfeito quando visto por um público que realmente gosta do gênero, pois muitas das vezes é necessária uma introdução ou algum tipo de panfletagem para explicar melhor aonde desejam chegar com toda a ideia. Porém a grande sacada do diretor Bruno Safadi foi pegar uma história com base conhecida, como a criação do mundo pela ideologia religiosa que muitos conhecem, e colocar uma que muitos já ouviram falar ao menos um pouco que é a de "Lilith", e brincar com toda essa essência através de imagens, poemas, composições artísticas, pinturas, representações e cantigas, aonde tudo junto entremeado acaba sendo por vezes até meio confuso, mas que funciona dentro da proposta de abstração livre como o estilo gosta de ser visto.

O longa conta a história mitológica da primeira mulher na Terra, que veio antes de Eva. Ela é criada por Deus para ser a mulher de Adão. Entretanto, Lilith não aceita posição de inferioridade em relação ao homem, rebela-se e vai para o deserto. Lilith reaparece como um duplo de Eva, come o fruto proibido, se vinga de Adão, de Deus, e torna-se a primeira mulher a se levantar contra o sistema patriarcal dominante.

Diria que o diretor foi bem criativo na composição de sua trama, brincando com cores, imagens, e até na forma de trabalhar seus atores para que o filme não ficasse tão solto como costumeiramente ocorre no gênero, e é bem notável toda a pesquisa de material para compor todas as cenas, de tal forma que o resultado embora estranho num primeiro momento, se analisado por completo acaba tendo um sentido figurativo até que interessante. Ou seja, ainda é um estilo que não digo ser dos meus favoritos, mas posso dizer que o resultado aqui, para alguém que não tinha lido nada sobre o filme acabou "entendível", e assim sendo posso afirmar que funcionou mesmo sendo bem maluca toda a essência da trama.

Quanto das atuações, em filmes desse estilo geralmente costumo ter muita pena dos artistas, pois é pedido que façam coisas que parecem não ter sentido algum, e quando leem os roteiros acabam ficando ainda mais confusos, mas como todo bom artista sabe pegar algo e trazer para si, diria que Renato Góes trabalhou bem seu Adão de uma forma expressiva e rústica, Isabél Zuaa deu nuances bem expressivas  e místicas para sua Lilith, e Nash Laila trabalhou sua Eva com um tom sereno, mas bem encaixado, de modo que o trio fez suas cenas de forma bem teatral e expressiva como um todo. Ah e como sobe nos créditos também a grande Gigi Bóia rastejou bastante e fez bons trejeitos para as câmeras, sendo também bem expressiva!

Visualmente diria que a locação escolhida foi bem encontrada para não ter qualquer sinal de civilização perto, mas se posso pontuar algo bem crítico foi o uso de roupas de civilizações já bem formadas, claro que não desejava algo como nudez, mas umas folhas de algumas árvores amarradas e entrelaçadas daria um estilo mais próprio para a ideia do filme, assim como fizeram bem os pratos, enxadas e tudo mais com coisas mais rudimentares, mas nada que incomodasse dentro do formato abstrato, ainda tiveram muitas cenas com pinturas bem pesquisadas para representar tudo, alguns atos com cores e luzes diferenciadas, entregando um trabalho cênico bem pautado. 

Enfim, claro que não é um filme que eu recomendaria para uma pessoa comum, afinal o estilo abstrato só funciona em exibições fechadas e festivais bem próprios do estilo, mas diria que o resultado completo não é algo que você vá sair sem entender nada do que viu, e assim vale a recomendação para quem for conferir ele nos cinemas à partir do dia 14/03 que é quando a Pandora Filmes irá lançar, a qual agradeço o envio da cabine, pois com toda certeza não chegaria o filme aqui no interior. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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