O Último Animal

3/02/2024 02:33:00 AM |

Um dos estilos do cinema nacional que foi bem usado anos atrás e que anda voltando em moda é o tal do cinema favela como muitos apelidaram os dramas envolvendo histórias nos morros do Rio de Janeiro, com muitas drogas, tráficos, guerras pelo comando e carnaval, e mesmo que seja algo cheio de clichês e estereótipos, o resultado geralmente funciona bastante, tanto que até gringos já filmaram longas desse estilo por aqui, e agora quem chega com uma obra que tem se falado bastante é o português Leonel Vieira com seu longa "O Último Animal", que se passa em 2012, mas facilmente poderia se passar em qualquer ano até os dias de hoje e muito futuramente, já que o jogo do bicho, a lavagem de dinheiro, as drogas, as milícias, o tráfico e tudo mais é o que dá a voz na cidade do Rio de Janeiro, e como é falado em determinado momento do filme, se você acha que tudo é bem organizado por pessoas 100% da cidade, está muito enganado, pois muitos estrangeiros tem suas participações em tudo, já que a ilegalidade corre solta, e sempre tem algum esperto que quer ganhar mais que o outro. Embora a trama tenha uma pegada meio novelesca, como as dinâmicas são bem marcadas entre os protagonistas, tendo a base meio que narrada pelo jovem Didi, e os conflitos na maior parte envolvendo o gringo Alex, o resultado funciona bem como um filme direto e objetivo para mostrar como o jogo do bicho e as referências aos vários animais deram o tom de como tudo aconteceu naquele ano na cidade, e dessa forma até os clichês acabam sendo bem utilizados para dar representação, então não chega a incomodar e até tem uma boa dinâmica, mas ainda acho que tudo poderia ter sido um pouco mais explosivo para impactar mais sem precisar ficar tão complexo e narrado.

A sinopse nos conta que em uma favela do Rio de Janeiro, Didi tenta levar uma vida honesta, quando Alex, um inglês, lhe oferece um emprego. Didi e Alex passam a trabalhar para Ciro, imigrante Português, chefe do “Jogo do Bicho e Presidente de uma escola de samba”. Calango, um líder do tráfico de drogas, está em apuros. Ciro prometeu entregar sua favela a uma facção. Mas há um problema: Didi é irmão de Calango. E aqui começa uma teia de complicações. O sonho de Didi se transforma em um pesadelo de violência e corrupção na cidade maravilhosa.

Diria que o estilo do diretor Leonel Vieira não foi tão cru como um filme do estilo pedia, porém ele soube segurar bem suas dinâmicas, foi criativo em algumas desenvolturas, e principalmente soube fazer com que seu filme mesmo pairando sobre ares novelescos não recaísse para esse estilo, aonde subtramas teriam a mesma importância que o mote geral, muitos personagens secundários fariam mais sentido em tudo, e o resultado não agradaria tanto, e além disso a grande sacada foi a de fazer um Rio de Janeiro atemporal, afinal o jogo do bicho ainda manda na cidade, nas favelas, nas escolas de samba, no agenciamento de jogadores de futebol, e por aí vai, e as brigas por um dinheiro que não tem dedução de impostos sempre será gigante, e dessa forma ele criou as artimanhas, colocou muitos diálogos em inglês (aliás o pessoal brasileiro é bem fluente na língua), e não desapontou quem conhece bem o estilo, ao ponto que dava para impactar mais com uma história mais fechada, mas teria de mudar tudo, e essa não era a ideia, então foi bem no que queria fazer.

Quanto das atuações, o jovem Junior Vieira soube criar trejeitos fortes e bem encaixados nos vários tipos de envolvimentos que teve na trama com seu Didi, oscilando bem entre desapontamentos e felicidades, imponências e submissões, e com isso segurou bem o protagonismo, e claro, a narração da trama, de tal forma que não se repreendeu com atores mais velhos e até com certo renome, sabendo exatamente como chamar atenção e agradando bastante com isso. Duran Fulton Brown trabalhou seu Alex com um ar meio que canastrão demais, quase como um agenciador viciado na cocaína, e bem presunçoso de que as leis para ele não se verteriam, chegando a se portar até com ares meio que arrogantes, mas que não o fizeram sair de seu papel. Ainda tivemos atos bem clássicos entre o português Joaquim de Almeida fazendo bem seu Ciro, bicheiro tradicional, presidente de escola de samba e cheio de malemolência para todos seus atos, Joe Renteria fazendo um Frank bem clássico do estilo meio que mafioso e Marcello Gonçalves fazendo o tradicional policial que joga dos três lados da lei do país, mas sem dúvida poderiam ter trabalhado um pouco mais as garotas Alejandra Toussaint com sua Emilia e Gabriela Loran com sua Paulinha, para que não fossem apenas personagens soltos fora da trama funcional que o filme tinha como base, aliás por causa delas, o longa quase saiu do rumo virando uma novela com subtramas, então o diretor arriscou bastante.

Visualmente a trama mostra o tradicional do filmes do estilo, misturando cenas nas casas das favelas, mostrando festas nas quadras de escola de samba, apartamentos riquíssimos e outros bem simples, muitos personagens cheirando pó, armas de vários calibres, agencias de contabilidade e de lavagem de dinheiro, sendo simples, porém efetivo no que precisava representar, só poderiam ter brincado mais com o lance do jogo do bicho na tela, que apenas tendo algumas transparências e mostrando alguns dos animais acaba não sendo marcante como poderia.

Enfim, é um filme interessante, com uma boa pegada, e que mostra que esse gênero/estilo de filmes não vai morrer tão cedo, sendo algo que tem uma boa profundidade e entrega que a corrupção é eterna nesse nosso país. Recomendo o longa para quem curte o estilo conferir nos cinemas à partir do dia 07/03, e fico por aqui agora agradecendo o pessoal da Cinecolor pela cabine de imprensa, então abraços e até logo mais.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...