Tire 5 Cartas

9/17/2023 06:57:00 PM |

É até engraçado o sentimento que o filme "Tire 5 Cartas" passa para o público, pois a trama se pendura literalmente em cima do muro de vários gêneros e acaba não acertando nenhum como deveria, ao ponto que assistimos ele de um modo bem leve, sem forçar a barra (só isso já faz valer o passatempo), conseguindo trabalhar bem o carisma ao menos da protagonista, porém não impacta como poderia se ficasse somente na comédia ou no drama emocional, parecendo que o diretor e os roteiristas se perderam um pouco na concepção de algum piloto de série, e o resultado acabou virando um filme que mostra muitas coisas na tela sem empolgar. Ou seja, em momento algum vou dizer que o que vi foi algo ruim, pois não é, mas ficou aquele sentimento de que poderia ter ido mais além em algum momento, poderia ter focado mais no lado do picaretismo para fazer rir com boas sacadas, e/ou desenvolver mais os sonhos das protagonistas de cantar mundo afora, mas aí o longa seria completamente diferente, então quem gosta de um passatempo sem muito o que explodir, vai até ficar contente com tudo, só não pode esperar nada da trama.

O longa acompanha Fátima, uma mulher de 60 anos que decidiu deixar São Luís e mudar-se para o Rio de Janeiro em busca de um grande sonho: ser cantora. Porém, a carreira na música não foi bem-sucedida, e Fátima resolveu trocar os palcos pelas cartas de tarô. Mas as leituras da mulher estão bem longe de serem confiáveis, já que ela conta com a ajuda do marido para descobrir informações sobre os clientes nas redes sociais e fingir que viu tudo no tarô. Um dia, quando um valioso anel aparece misteriosamente na casa de Fátima, ela e o marido se veem forçados a fugir para o Maranhão a fim de despistar bandidos.

Gostei bastante da estreia do diretor Diego Freitas em "O Segredo de Davi", mas não conferi seu segundo trabalho "Depois do Universo", então diria que agora em seu terceiro longa ele acabou querendo algo grande em demasia para desenvolver e acabou se perdendo um pouco, pois o estilo aqui pedia talvez um sitcom mais trabalhado aonde os personagens tivessem mais estilo, e não apenas elos jogados, canções montadas como clipes e tudo mais, de tal forma que o estilo pedia algo um pouco mais forçado para se criar comicidade além do trabalhado, e ou desenvolver mais os envolvimentos para que tudo emocionasse, e não apenas dar as referências familiares da trama. Ou seja, acredito que o maior problema do longa é que foi escrito por seis roteiristas e cada um desenvolveu algo quebrado demais que ao se juntar pela ideia do diretor, que também faz parte da equipe de escrita, acabou se perdendo a essência completa e não indo muito além. Volto a frisar que não é um trabalho ruim nem de direção, nem de roteiro, muito menos de atuações, mas sim que dava para melhorar muito mais para que ficasse incrível de dinâmicas, e isso pesou para que ficasse apenas como um passatempo simples demais.

Quanto das atuações, sabemos do poder de Lília Cabral de desenvolver personagens simples com aquele algo a mais que acaba indo numa personificação completa de estilos, e aqui sua Fátima brinca bastante em cena, faz trejeitos de todos os estilos e consegue até ter um carisma bem interessante de presença, de forma que chega a ser até difícil para os demais se destacarem nas cenas junto dela, e isso como já disse outras vezes é uma faca de dois gumes, pois brilha uma estrela, mas não ilumina o ambiente inteiro, ou seja, ela precisava de mais personagens bons para fazer um desenvolvimento maior. E sobre isso de brilhar os demais, acabou funcionando bem a parceria com Stepan Nercessian com seu Lindoval, pois o ator sabe fazer picaretas como ninguém no país, e seu estilo encaixa bastante no papel, levantando bem a bola para a protagonista, e criando boas sacadas como secundário, o que talvez pudesse ser até mais usado com algumas outras consultas de tarô. Já não posso falar o mesmo com Claudia di Moura que pareceu incomodada um pouco com sua Nazaré, tendo muitas cenas bem rápidas e sem tanta desenvoltura, mas como sua personagem tem uma pegada boa, a atriz até chamou atenção em alguns momentos, o que poderia ser mais ousado e/ou trabalhado com alfinetadas mais amplas. Ainda tivemos bons momentos do esforçado Sérgio Malheiros com dinâmicas bem rápidas e diretas; Giulia Bertoli sendo bem graciosa; Gabriel Godoy bem carismático junto de Allan Souza Lima mais explosivo; e até as influencers Thaynara OG e Mathy Lemos conseguiram ter seus momentos bem colocados, mas dentre os secundários diria que Guilherme Piva foi quem mais trabalhou as expressões de seu Joaquim para que se conectasse bem com a protagonista.

Visualmente tivemos uma equipe de arte bem colocada para criar tanto com simplicidade, quanto com bons elos cada momento da trama, de forma que vemos os ambientes bem ricos de detalhes e elementos cênicos, criando inicialmente o apartamento da taróloga bem característico, cheio de símbolos e claro sua fixação pela cantora Alcione, vemos também os vários elos do protagonista com Sidney Magal e o amor de Stepan pelo seu time do coração, e nos atos seguintes já no Maranhão vemos a construção dos ambientes seja da taróloga quanto do bar bem rico da cultura local, indo comprar vários elementos em lojinhas para que tudo ficasse bem marcante, ou seja, um trabalho histórico e cheio de referências locais que valorizaram o visual da trama.

Enfim, é um filme simples, mas que funciona bem, sendo chamativo de conteúdo, só que sem se desenvolver melhor, ao ponto que como já disse em outros trechos, talvez como uma microsérie funcionaria mais do que como um filme, porém como não dá para mudar isso depois de feito, acaba sendo um passatempo leve bem feitinho. E é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto logo mais com outros textos e dicas, então abraços e até breve.


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