O Segredo de Davi

11/27/2018 01:14:00 AM |

Acho que esse ano já ficou até chato o tanto que falei que o nosso cinema nacional melhorou, mas sempre que vejo qualidade, e principalmente diversidade nas produções que antes eram apenas ou drama romanceado novelesco ou comédias escrachadas também novelescas, e agora aparecendo terror, suspense, policiais, romances bem pautados, e claro, a mistura de gêneros bem elaborados para que o público passe a ver não mais um filme brasileiro no cinema, mas sim um terror, um suspense e por aí vai, não precisando que o Coelho venha aqui falar eis que surge um longa nacional de terror, e blá blá blá, mas assim como faço nas obras francesas, americanas, inglesas, e tudo mais apenas falando do gênero em si. Dito isso, e voltando apenas os olhos para a obra "O Segredo de Davi", temos aqui um suspense nos moldes de grandes thrillers, aonde talvez uma não entrega tão de cara dos fantasmas quem são, mas sim deixando uma essência para o público pensar teria sido algo melhor, mas o fechamento com uma grande sacada acabou revertendo tudo de uma forma tão bem colocada, que aliada à boa interpretação do protagonista conseguiu criar vértices para lembrarmos bastante da trama mais para frente, ou seja, um filme que dá para recomendar e que certamente trabalhou dentro de um contexto forte e interessante para o gênero, e que por bem pouco não diria que seja uma obra perfeita, pois são falhas simples que poderiam ter sido resolvidas, mas ainda assim é um filme muito bem feito.

O longa nos conta que Davi é um jovem voyeur, que adora filmar os outros sem ser percebido. Um dia conhece Jonatas, mais velho que ele, que está na mesma turma da faculdade por cursá-la como eletiva, para o mestrado. Davi sente um estranho fascínio pelo novo colega e, após uma conversa macabra, decide ele mesmo eliminar pessoas que considera dispensáveis. Sua primeira vítima é uma vizinha, que mal fala com as pessoas. Ao matá-la, Davi é surpreendido com o súbito reaparecimento dela, revelando que há algo por trás dos atos do agora serial killer.

Em sua estreia na direção e roteiro de longas metragens, Diego Freitas conseguiu trabalhar de uma maneira bem enxuta (com um orçamento de menos de 500 mil, e como apareceu sem logos do governo, aparentemente sem incentivos fiscais!), e criou um enredo que pode ser visto de diversas maneiras, mas que principalmente segue um fluxo coeso na formação do protagonista como um serial killer, mas que acabamos entendendo mais ao final seus reais motes de suas mortes, o que na minha opinião poderia ter sido ainda mais no fim, pois a surpresa seria incrível, mas como acabou desenvolvendo tudo para esse rumo, o acerto foi bem trabalhado no fechamento com o melhor estilo de formatação de longas envolvendo assassinos. O maior problema talvez tenha sido do diretor querer entregar tudo bem colocado ao mesmo tempo que também desejou ocultar muita coisa, e assim o longa parece indeciso de atitudes, o que acaba ficando um pouco estranho, e também com um início meio lento o resultado demora a prender o espectador, tanto que algumas pessoas acabam saindo antes da metade do longa, mas quem ficar acabará entendendo tudo e se surpreendendo, pois a eficiência da direção é bem pautada na ideia, e com um bom ator como protagonista, o resultado foi bem satisfatório.

É fato que temos diversos personagens de elo na trama, mas basicamente o filme é moldado todo nos ótimos trejeitos de Nicolas Prattes, que entregou um Davi cheio de dúvidas e muita imposição para com a personalidade que o personagem lhe exigia, criando olhares, situações e até tendo momentos confusos clássicos de grandes personagens do estilo, de modo que ficamos vidrados nele, questionando sua índole, ou para que está fazendo tudo, e que moldes ele irá fazer, ou seja, conseguiu ser enigmático também, demonstrando atitude para que seus atos fossem premeditados e funcionais, ou seja, agradou demais. Neusa Maria Faro também soube entregar bons momentos de sua Maria, mas seus momentos maquiada como a vizinha funcionam bem mais do que como uma influenciadora após morta, mas a atriz conseguiu ser dinâmica e interessante em diversos momentos bem espaçados. A relação do protagonista com Jonatas vivido por André Hendges é algo meio estranho, podendo ter vértices que até fogem de serem analisados, mas o ator foi bem coeso nas entrelinhas, entregando boas cenas, e deixando seus momentos mais voltados para um cunho sensual, o que chega a ter bons elos, mas também esquisitos, o que funciona das duas formas. Quanto aos demais, tivemos alguns momentos bem colocados com Eucir de Souza com seu Carlos, principalmente na luta corporal bem forte, tivemos momentos interessantes de olhares com Bianca Müller e sua Dóris, e até alguns atos engraçados com o amigo Caio, interpretado por João Côrtes, mas nada que fosse muito chamativo.

No conceito cênico a trama conseguiu entregar locações bem exóticas, com uma boa dose de elementos cenográficos prontos para funcionar, referências jogadas a todo momento para realçar o passado e o presente do protagonistas, e principalmente boas dinâmicas com a maquiagem para causar sensações, e claro funcionar nas mortes, de modo que com um ambiente sujo e bem causador do momento forte, se vira para um ar limpo e belo dentro da mentalidade maluca do protagonista, ou seja, um trabalho minucioso da equipe de arte que agradou bastante em todos os contextos. Uma grande sacada da equipe de fotografia foi a de não usar cenas exageradamente escuras, brincando com fotogramas e iluminações brilhantes chamativas, para causar realmente estranhamento e usando de contraluzes fortes para destacar cada momento, o filme entrega até um ar meio que de película para o envolvimento completo, ou seja, algo que chama a atenção visual, causando as sensações que o longa pedia.

Enfim, é um filme bem trabalhado, que conseguirá chamar a atenção de quem gosta do estilo, mas que também por possuir alguns leves defeitos causará um estranhamento por parte de um público que não está acostumado a ver longas mais voltados para um personagem em si, mas digo que quem se propor a conferir o filme sem preconceitos é bem capaz de sair bem satisfeito com o resultado final, torcendo até mais pelo assassino do que pelos demais. E sendo assim, até recomendo bem o longa para todos, pois consegue funcionar e ser interessante. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia, então abraços e até logo mais.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...