Netflix - O Melhor Lugar da Terra (La Gran Seducción) (The Great Seduction)

9/05/2023 01:13:00 AM |

Não tem jeito, se tem um estilo cômico que gosto de conferir é quando o diretor sabe brincar com sutilezas, e se o filme tem boas sacadas, mesmo sendo uma refilmagem acaba funcionando bem demais! Sei que muitos não curtem, mas o cinema mexicano tem um gracejo bem trabalhado principalmente em cima do carisma de seus atores para com os personagens que assumem na frente da tela, e o longa da Netflix, "O Melhor Lugar da Terra", é daqueles que você quase puxa uma cadeira para tomar um mexcal com os protagonistas da trama, e assim sendo, mesmo o longa sendo uma refilmagem de uma trama canadense de 2003 (que não lembro de ter visto) e que depois foi refilmado no próprio Canadá, só que numa versão em inglês em 2013 (que também não me recordo de ter conferido), o estilo acaba sendo simples e eficaz dentro da proposta, que é de uma pequena mentira pode fazer um peixe ser fisgado e sair da água, mas como fazer o peixe gostar de ficar na terra depois que ele saiu da água ao saber que tudo foi armado? Ou seja, a velha sacada clássica de inversões que quando descobertas causam problemas, mas que se bem contadas emocionam e agradam na medida, e é o que o longa mexicano fez.

A sinopse nos conta que depois que a industrialização encerrou a atividade econômica e encheu de decepção os habitantes da ilha pesqueira de Santa María del Mar, seu destino está prestes a mudar com a oportunidade de uma empresa embaladora de pescado se instalar na cidade. O único requisito: convencer um médico a se mudar para lá.

Diria que o diretor Celso R. García soube brincar bastante com toda a ideia da trama, desenvolvendo bem o ambiente da cidadezinha, os moradores bem caricatos e dispostos a entrar na mentira, e todas as sacadas são bem a cara de um povo do interior do interior, que facilmente funcionaria muito bem no cinema nacional com uma cidadezinha distante, pois com certeza todos vivenciariam esse estilo de situação, ou seja, ele soube pegar o que aparentemente não foi convincente na trama canadense já que é um país bem rico e dificilmente veríamos uma situação tão precária como a colocada aqui, e conseguiu criar nuances, usou bem a inteligência e astúcia dos personagens, e deixou que o carisma deles nos pegassem, assim como pegou o médico, e dessa forma o filme flui tão fácil que passa voando a duração, aparentando ser até menor do que já é. Ou seja, um trabalho bem doce, simples e funcional, que apesar de usar um estilo emocional, conseguiu cativar e divertir sem precisar apelar, e como já disse outras vezes, uma boa comédia tem de fazer você sorrir, e ele fez!

Sobre as atuações, diria que todos foram muito bem em cena, pois entregaram tipos bem rústicos, porém sagazes e dispostos a entrar no clima da mentira por completo, e assim deram tanto carisma para seus personagens que dificilmente os veremos sem pensar no que fizeram aqui. Claro que o destaque maior fica para Guillermo Villegas com seu Germán bem disposto, cheio de presença em todos os atos, direto nos olhares e tão bem colocado no papel que já vi ele em outros filmes pela sua filmografia, mas não consigo lembrar dele lá, pois só vejo ele como o personagem, ou seja, pegou para si a responsabilidade e agradou demais. Pierre Louis trabalhou seu Mateo com bons trejeitos, mas se fez de ingênuo demais, o que acaba sendo meio que um pouco falso, mas ainda assim entregou atos marcantes e diria que mais acertou do que errou. Dentre os demais ainda vale bons atos mais sérios de Yalitza Aparicio com sua Ana, o desespero de perder o emprego para uma caixa automática de Julio Casado com seu Benjamin, mas sem dúvida os atos mais malucos e engraçados cairam para Héctor Jiménez com seu Jorge que teve de mergulhar, fingir gostar de rock e tudo mais para tentar seduzir o médico, ou seja, divertiu com seus trejeitos e estilos bem colocados em cena.

Visualmente a cidadezinha é bem rústica, com um restaurante simples, vários casebres, e as melhorias que fizeram para deixar o doutor na melhor casa acabou ficando até meio que exagerada demais, com uma cor forte de pintura, mas detalhezinhos bem trabalhados, o café de bule que ele vai aprendendo a melhorar, as várias consultas, as pescarias (a sacada do peixe congelado foi divertidíssima), várias bebidas, as reuniões na igreja para decidir os rumos de tudo, e as velhinhas ouvindo as conversas no telefone foram o auge, ou seja, tudo muito bem pensado para marcar cada detalhe, isso que eu já estava até esquecendo, mas a icônica preparação do campo de futebol americano com melancias e linhas tudo tortas foi demais, mostrando que a equipe de arte trabalhou com vontade.

Enfim, é um filme simples que você não pode ir esperando ver algo que ganharia todos os festivais mundo afora, mas que tem boas sacadas, é divertido e emocional na medida certa, e funciona do começo ao fim, de tal maneira que chega a ser difícil reclamar de algo, ou seja, faz valer até mais do que um simples passatempo, mas uma história para entrar no clima e gostar de verdade. Assim sendo recomendo ele para todos, e fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.


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