Nosso Amigo Extraordinário (Jules)

9/05/2023 09:21:00 PM |

É tão bom quando confiro filmes bem trabalhados, com ideias simples, porém bem funcionais, e que principalmente costumam emocionar na medida certa, não sendo daqueles que traumatizam nem que fazem lavar a sala, mas que encantam com boas atuações em cima de bons textos, e hoje eis que tive a cabine de imprensa de "Nosso Amigo Extraordinário", que entra em cartaz nas principais salas de cinema na próxima quinta-feira, e entrega algo doce e bem trabalhado, que brinca de forma sutil com o Alzheimer e a esclerose na terceira idade, mas mais do que isso coloca em pauta a visita de um ser extraterrestre que cai na casa de um senhorzinho, e como ninguém acredita nele além de outras duas velhinhas que acabaram vendo o pequeno ser, e como ele já não anda falando muita coisa com coisa, ninguém vai acabar entregando o amigo deles para as agências que estão malucas atrás do objeto que caiu na Terra. A base da história é essa, mas é tudo feito com um cuidado tão leve e bem determinado que encanta demais, e faz os 87 minutos de sessão serem realmente deliciosos, que mesmo tendo alguns problemas nem atrapalham em nada, então só digo uma coisa: assistam!

Na trama, Milton Robinson é um senhor rabugento que tem sua vida virada de cabeça para baixo quando um OVNI cai em seu quintal. Para auxiliar o simpático extraterrestre a voltar para casa, ele terá a ajuda de Sandy e Joyce. O trio, no entanto, logo cria laços com o inesperado visitante.

O diretor Marc Turtletaub é muito mais conhecido pelas ótimas produções que já entregou (a principal está no topo do pôster, "Pequena Miss Sunshine" pela qual concorreu ao Oscar), e por incrível que pareça sua última direção antes dessa eu estava com muita vontade de ver e acabou não surgindo por aqui na época (já irei caçar se tem em algum streaming para conferir depois), mas isso tudo é mero detalhe, pois vamos focar no que interessa que é esse seu novo trabalho, e o que posso dizer é que ele foi muito seguro do que desejava entregar, sendo sutil nas mensagens, não fazendo com que o extraterrestre falasse inglês, mas sim que sentisse e "entendesse" o que os velhinhos ali estavam fazendo com ele, passando sua necessidade através de desenhos (incrível a abordagem do material necessário!!), e principalmente conseguindo conduzir todo o envolvimento dos personagens em si, pois inicialmente todos pareciam apenas velhinhos reclamões das sessões da prefeitura sobre ideias mirabolantes, e nada mais, mas depois acabam se envolvendo tanto com o ser interplanetário, que acabamos vendo uma ótima conexão entre eles que funciona. Ou seja, o diretor pegou um bom texto original de Gavin Steckler e conseguiu entregar algo brilhante que não precisou de aprofundamentos nem nada. O único adendo que colocaria como uma leve falha, é que os agentes acabaram vendo a nave nos últimos atos, então necessitaria de uma entrevista ou algo do tipo com os velhinhos, mas isso iria alongar a trama, e talvez tenha sido até uma boa ideia não desenvolver, então vamos relevar.

Quanto das atuações sabemos bem o quanto Ben Kingsley sabe fazer personagens cheios de personalidade e imponência, e aqui não foi diferente, pois seu Milton traz um envolvimento bem marcante para quem tem parentes velhinhos que já andam esquecendo as coisas por aí e fazendo suas coisas improváveis, além de trabalhar olhares bem vagos de se perder no que pensa, mas sendo gentil e amável com o ser que nem sabe o que é, e seu ato final foi muito bem trabalhado, ou seja, deu show como sempre faz. Harriet Sansom Harris é daquelas senhorinhas que também cativa demais em cena, de forma que sua Sandy é doce, gosta de conversar, e quase cai numa cilada com isso, de forma que é a cena mais tensa do longa, e também muito emocionante, de tal forma que trouxe trejeitos gostosos de se envolver com ela, e querer claro bater um papo sobre tudo. Jane Curtin fez já uma mulher mais fechada com sua Joyce, mas que acabou se desenvolvendo bem junto dos demais, foi muito sagaz em entender os enigmas do alien, e fez algo que muitos não vão curtir, mas que foi para algo maior, e assim sendo vamos perdoar. Agora embora não vejamos seu rosto real, a tradicional dublê de grandes filmes de ação Jade Quon fez seu filme mais difícil da carreira sem precisar dar nenhum grande salto ou arriscar sua vida, mas sim ficar parada quase que 8 horas diárias enquanto era preparada com as peças de maquiagem para virar Jules, pois não quiseram trabalhar com computação digital, e a atriz tinha de vestir a cada filmagem toda a roupa e maquiagem para ficar azulzinha, mas foi por um bem maior, e seus olhares e trejeitos funcionaram demais, o que acaba agradando no contexto completo. Ainda tivemos Zoe Winters bem trabalhada como a filha do protagonista e Cody Kostro como Danny, mas sem grandes atos que impressionassem realmente, deixando mesmo tudo para o quarteto principal.

Visualmente a trama foi simples por termos praticamente só a casa do protagonista, a câmara da prefeitura aonde eles vão no começo e um mercado, além da casa de Sandy com um ato mais intenso, de forma que conseguiram colocar uma grande nave no quintal do protagonista amassando suas azaleias, vários gatos, muita maçã para alimentar o ser, e claro camisetas com frases icônicas, que funcionaram muito bem dentro da proposta, e que aliado a tudo bem simples acabou funcionando e dando a síntese da história. Tivemos também alguns atos numa agência do governo com vários computadores tentando encontrar a nave, que nos jornais anunciavam como sendo um satélite que caiu, mas nada que impressionasse realmente. Diria que talvez se colocassem computação gráfica o alien e sua nave, teríamos algo mais imponente, mas perderia a doçura cênica que a equipe conseguiu passar, e assim sendo diria que foi um trabalho bem pensado que funcionou.

Enfim, é um filme que de cara fiquei muito conquistado pelo trailer e estava torcendo para conseguir conferir ele, e dito e feito, foi algo que me encantou e envolveu demais, sendo que vou recomendar com toda certeza para toda a família, mas que facilmente vai emocionar muito mais os adultos que já sabem como é ter esses esquecimentos naturais da vida. Ou seja, vá ao cinema que tiver passando, ou assista no streaming assim que sair, pois ele é na medida certa, não sendo algo alongado que cansasse, nem algo curto demais para se esquecer, e vai valer a pena com toda certeza. E é isso pessoal, agradeço ao pessoal da divulgação da Synapse pela cabine de imprensa, e fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.

PS: Até daria para dar a nota máxima para o longa, pois gostei bastante do que vi, mas preciso ser criterioso com a cena dos agentes vendo a nave indo embora, então merecia ao menos uma leve explicação do pós-ocorrido.


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