Os Melhores Anos De Uma Vida (Les Plus Belles Années D'une Vie) (The Best Years Of a Life)

6/26/2021 01:47:00 AM |

Quem já viu muitos filmes antigos franceses deve se lembrar da famosa época da Nouvelle Vague, que tínhamos diversos longas artísticos, muitos romances envolventes, e com características bem marcantes por fotografias densas em tons marcantes, basicamente ficando conhecidos como os clássicos do cinema francês. E esse estilo é bem apaixonante, e marcou bastante os anos 60 na França entregando longas cheios de grandiosas nuances e que ainda alguns diretores costumam usar algumas bases e técnicas dele, e o longa "Os Melhores Anos De Uma Vida" trabalha demais toda essa essência de diálogos fortes em conversas leves e descontraídas, muitas lembranças em flashbacks e todo um envolvimento bem gostoso de acompanhar e claro se apaixonar pelos personagens, ao mesmo tempo que também ficamos bem tristes de ver a dureza de alguém com Alzheimer, pois o protagonista está falando uma coisa com a senhora e já nem lembra de ter falado aquilo, mesmo ela sendo sua musa dos seus sonhos. Ou seja, é um filme bem leve, que certamente muitos acabarão nem vendo ele na telona, mas que quem ama o cinema francês sairá encantado da sessão, pois é o romance francês cru e bem feito.

A sinopse nos conta que no passado, o octogenário Jean-Louis Duroc foi muito apaixonado por Anne Gauthier. O romance, apesar de breve, deixou marcas profundas e as vivências dessa época são as poucas memórias que sobreviveram ao avançar da idade. Comovido por aquele sentimento tão vívido, o filho de Jean-Louis decide recuperar aquele amor perdido e proporcionar-lhes um reencontro. Cinco décadas passadas, Anne volta a entrar na vida de Jean-Louis e a ligação entre eles parece reiniciar-se exatamente no ponto onde tinha ficado.

Pois bem, ao pegar o trailer do filme para colocar aqui, eis que descobri que o longa é praticamente uma continuação de um filme da Nouvelle Vague, e que os trechos em flashback são partes do filme "Um Homem, Uma Mulher" de 1966, que é dirigido pelo mesmo Claude Lelouch (que na época tinha apenas 29 anos e agora está com 84!) com inclusive os mesmos atores (sim, até as crianças que eram os filhos agora são adultos), ou seja, não ia achar nunca os nomes dos atores jovens que apareciam nas cenas, e se eu já tinha gostado do resultado antes pelo que vi na telona, agora fiquei ainda mais encantado com tudo, pois é brilhante ver as conversas de ambos os protagonistas, ver que o diretor soube extrair o máximo de brilho nos olhares deles, montar bem todas as conexões de cada um dos momentos funcionando com muito envolvimento e brincando como sendo memórias e desenvolvimentos clássicos da época, e isso é algo mágico de ver funcionar, e claro que escolheu a época certa para entregar o capítulo final de sua trilogia, pois em 86 teve o filme "Um Homem, Uma Mulher: 20 Anos Depois", ou seja, isso sim é que merecia uma sessão tripla num Festival Varilux para tudo se encaixar e ficar esplêndido, pois o resultado aqui foi um grandioso acerto.

Sobre as atuações é algo tão belo de ver o trabalho de cada um que nem dá para se pensar que já tiveram essa conexão incrível há 55 anos atrás, ao ponto que Jean-Louis Trintignant com seus 91 anos passou quase a mesma emoção que teve com seu Jean-Louis Duroc em 1966 quando tinha apenas 36 anos em plena forma e galã máximo do cinema francês, trabalhando os lapsos de memória com um luxo total, fazendo ainda seduções para cima da senhora e da enfermeira, ou seja, cheio de carisma para entregar. Da mesma forma Anouk Aimée, que está muito bem para alguém com 89 anos trouxe ares vívidos para sua Anne Gauthier, trabalhando os mesmos trejeitos, o mesmo jeito de mexer nos cabelos, e passando sinceridade no tom de voz gostoso de ouvir, ou seja, perfeita também em tudo. Antoine Sire e Souad Amidou também estiveram no filme de 66, e eram crianças de 7 anos, e agora estão com seus 62 anos, ou seja, mudaram bastante nesse meio tempo, e embora apareçam pouco aqui com algumas sintonias em cena, pelo menos puderam participar, aliás Antoine nem seguiu carreira como ator, apenas fazendo os três filmes da trilogia e nada mais. Ainda tivemos boas participações de Marianne Denicourt como uma enfermeira da casa de repouso aonde o protagonista vive, e Monica Bellucci como Elena filha do protagonista, mas nada de muito expressivo e chamativo em ambas sem ser a serenidade e boa dinâmica junto do grande ator.

Visualmente o longa também não entrega muitos ambientes, ficando boa parte no jardim da casa de repouso, alguns momentos na loja da protagonista, outros em sua casa de campo, e muitos momentos dentro do carro CV2 dela, aonde os sonhos do protagonista floreiam com loucuras de tiros, e claro vários trechos do longa de 66 para remeter as lembranças do grande amor vivido entre ambos, ou seja, a equipe de arte foi cautelosa, porém bem envolvente em tudo, e o diretor soube aproveitar bons momentos do longa antigo para juntar e criar boas perspectivas de memórias.

Enfim, "Um Homem, Uma Mulher" deu o Oscar de Melhor Roteiro e vários prêmios para Lelouch em 1967, e com certeza agora esse poderia ser o fechamento de sua carreira com todo o simbolismo possível, mas ainda está dirigindo outros projetos e assim sendo ainda o veremos com mais tramas nos cinemas. Nem preciso falar, mas é claro que recomendo o longa para todos os amantes do cinema francês, e volto a frisar que seria um luxo se o Varilux desse ano colocasse os três filmes em sequência para vermos a evolução na telona, pois esse certamente não é um filme perfeito por completo, mas em conjunto com certeza funcionará bem melhor. E é isso, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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