Noites de Alface

6/16/2021 10:55:00 PM |

O gênero de suspense dramático no Brasil é um dos que mais carece de ser melhorado, pois geralmente os diretores acabam querendo esconder tantas coisas do público que o longa acaba ficando morno e cansativo na maior parte do tempo, e isso é algo muito ruim de acontecer com um filme, e quando realmente acontece algo o desenrolar já se perdeu e estamos no final da trama. E começo o texto do longa "Noites de Alface" dessa forma por acontecer exatamente isso com o filme, pois vamos nos cansando com o nada acontecer, mas tudo acontecendo de forma bagunçada ao redor do protagonista, que morando numa vila aonde nada parece fluir, mas tendo um mistério de um desaparecimento rolando acabamos envolvidos tentando pensar nisso, e junto disso ainda vemos o protagonista sentindo falta de sua esposa na sua vida com tudo o que faziam. Ou seja, seria um filme para termos uma desenvoltura mais propícia e instigante, afinal o personagem principal é um leitor de casos policiais, as dinâmicas investigativas poderiam brincar mais com cada um, mas não acontece, pois o real acontecimento só rola nos últimos minutos da trama, todo o restante é alongado ao máximo, e o filme que tem apenas 87 minutos parece ter quase três horas, o que é uma pena, pois temos bons atores que não foram tão usados.

A sinopse nos conta que Ada e Otto passaram a vida toda em uma bucólica cidade no interior, onde todos se conhecem. A rotina pacata do casal e de seus vizinhos ganha contornos de mistério com o sumiço repentino do carteiro. Apesar de estar melhorando da insônia graças ao chá de alface preparado por Ada, Otto ainda passa noites em claro lendo um intrigante livro de suspense. O velho ranzinza vê realidade e ficção se embaralharem ao revisitar lembranças e conversas para tentar descobrir o que aconteceu de fato.

Talvez tenha faltado ao diretor Zeca Ferreira um pouco de atitude nos cortes para que o seu primeiro filme tivesse uma fluidez melhor, pois ele desejou trabalhar tanto a solidão do protagonista que seus atos ficam sem nenhuma explosão real, e quando incorpora o ato do desaparecimento do carteiro, o mistério até entra para algo que dá um certo envolvimento, mas não atinge grandes ápices. Claro que talvez no livro de Vanessa Barbara em que o roteiro foi inspirado, essa desenvoltura misteriosa fique bem colocada estando em segundo plano, e com isso o público acabe criando as devidas expectativas para cada momento, mas aqui isso acaba ficando tão preso em algo que nem ficamos sabendo, que quando rola o longa já está no fim, e não dá mais tempo de criar o real envolvimento. Ou seja, é daqueles filmes que se olharmos a fundo dá para remover pelo menos uns 30 minutos facilmente, mas que se aproveitado de outra forma, dando mais nuances para o mistério e para os questionamentos do protagonista o filme poderia ter ido até além. Portanto é um longa que facilmente como média ou curta metragem seria genial e explosivo, mas como longa ficou cansativo.

Sobre as atuações, o filme basicamente é de Everaldo Pontes, que consegue segurar bem a tensão em cima de seu Otto, faz todas as nuances do ambiente e de suas dúvidas e indagações, trabalha o sentimento de solidão e claro ainda se põe a refletir nos devidos tempos para que cada momento seu representasse toda a situação, ou seja, o ator foi muito bem no que fez, e certamente poderia ter ido além. Marieta Severo é sempre perfeita no que faz, e aqui sua Ada tem vários atos subjetivos, mas com uma precisão tão bem envolvente que acabamos nos conectando à sua personagem, porém não diz muito aonde vai, e até suas atitudes acabam não sendo chamativas como poderia. Quanto aos demais é triste ver que quase nenhum ator foi usado para algo expressivo realmente, ao ponto que vemos João Pedro Zappa aparecendo um pouco mais com seu Nico prestando serviços para o protagonista, vemos Inês Peixoto tendo alguns atos suspeitos demais com sua Teresa que no final acabamos sabendo um pouco mais de seus mistérios, e claro a família japonesa que causou todo o problema da trama, e mereciam um pouco mais de destaque, mas nem mesmo os dois carteiros interpretados por Romeu Evaristo e Pedro Monteiro conseguiram ir muito além, e olha que tiveram oportunidade para isso.

Visualmente o longa também não tem muito envolvimento, sendo uma vila quase sem muitas movimentações, que mostra claro as diferenças da casa com e sem a protagonista, principalmente com vários elementos cênicos como a troca de uma lâmpada, o passar de uma roupa, e até mesmo os atos do mistério usaram elementos simples, como a lona da quermesse, todo o ato dos cachorros e por aí vai com momentos claros, mas sem grandes marcações que fizessem sentido para algo a mais no filme.

Enfim, é um filme bem mediano que talvez alguns enxerguem algo a mais, outros se conectem com algum envolvimento extra, e claro que aqueles que já leram ou o livro, ou até mesmo algo a mais da trama irão captar mais momentos, mas aqueles que forem como eu direto sem saber nada da trama é bem capaz que desanimem bem antes da metade. Sendo assim não posso recomendar ele, pois tem mais falhas do que coisas boas para agradar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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