Netflix - Cidade de Gelo (серебряные коньки) (Serebryanye konki) (Silver Skates)

6/21/2021 01:16:00 AM |

Filmes russos costumam ser diferentes de tudo o que já vimos, e quando falamos em tramas com casamentos reais ou aristocráticos como é o caso da trama da Netflix, "Cidade de Gelo", acabamos vendo interações irreverentes, discussões políticas de classes, e claro ao invés dos tradicionais batedores de carteira que pegam e saem correndo, aqui temos jovens com patins de gelo, ou seja, toda uma nuance completamente diferente em cima de algo que até já vimos ser representada de outras formas, e assim conseguiram trabalhar quase que um conto de fadas numa versão congelante, que tem príncipes em cavalos, tem amor de duas classes diferentes, tem até questões de mudanças de leis de país, ou seja, é um filme com um ambiente diferenciado em uma história tradicional, que até agrada bastante pela essência passada, porém se alonga um pouco demais para contar tudo, e que certamente não precisaria de tanto para empolgar da mesma forma.

O longa conta a história de Matvey, um jovem que trabalha como entregador em uma padaria local. Filho de um pobre acendedor de lâmpadas, seu único tesouro são os patins prateados que herdou do pai. Ao ser demitido injustamente, ele se junta a uma gangue de batedores de carteira. Enquanto isso, a filha de um oficial de alto escalão, Alice, se sente prisioneira em sua mansão. Ela sonha em estudar ciências, o que vai contra as opiniões conservadoras de seu pai sobre o papel da mulher na sociedade. Em um belo dia, os caminhos de Matvey e Alice se cruzam.

Diria que o diretor Michael Lockshin foi ousado em ter um projeto tão grandioso em sua estreia na direção de longas, pois toda a proposta do roteiro de Roman Kantor é bem boa, porém necessitava ter criatividade nos cortes e sabedoria em não trabalhar tantos temas juntos, pois só o envolvimento entre classes já daria uma boa tematização para manter toda a perspectiva da trama, colocar o ambiente dos ladrões patinadores e assim a coerência já funcionaria bem, mas ele quis seguir a risca cada momento, toda a loucura da jovem cientista, todo o conflito das políticas da época, e assim seu filme acabou ficando levemente preso em artimanhas e assim sendo vemos o longa não fluir tanto, mas como é uma história grandiosa, cheia de ambientes, cheia de objetos novos como a aparição do terceiro carro da Rússia, vemos até um certo funcionamento em tudo.

Sobre as atuações, Fedor Fedotov trabalhou bem seu Matvey, criando olhares emotivos nas cenas com a garota e com o pai, dando nuances bem interessantes junto com os demais batedores de carteira, e mostrando sem dúvida alguma uma boa habilidade nos patins (não sei se teve muito uso de dublês, afinal os créditos estão em russo, mas certamente pros movimentos mais ousados colocaram patinadores profissionais!), e com isso chamou muita atenção além de trabalhar bem seu texto, ou seja, o jovem agradou bastante. Já Sonya Priss deu nuances fortes com sua Alice, mostrando bem uma rebeldia conceituada, encaixando trejeitos clássicos de uma jovem criada na elite, mas que também sabe se dar bem com os abaixo dela, e sem forçar sintonias acabou tendo uma química interessante com tudo o que fez em cena junto do protagonista, chamando a atenção para si em diversos atos, agradando de certa forma em tudo. Kirill Zaytsev até caiu bem com seu Arkadiy, trabalhando as nuances de um soldado imponente, disputando claro a mão da filha do ministro, e demonstrando atitudes fortes e intensas meio com ares de vilania, ou melhor de antagonista, e se foi ele mesmo que fez toda exibição na festa com os patins o ator pode ir para as Olimpíadas de Inverno e parar com as atuações, pois foi bem intenso o que fez ali, e de certa forma chamou muita atenção em todas as suas cenas. Yuriy Borisov trabalhou bem seu Alex, fazendo trejeitos cheios de interação com o protagonista, dando ares clássicos de um líder de gangue, e sabendo se portar de forma imponente em alguns atos marcados, o que acabou funcionando bem também em cena. Ainda tivemos bons momentos com Aleksey Guskov com seu Nikolai tendo a força de um pai bem rígido e claro no que deseja, e Severija Janusauskaite trabalhou a mãe da protagonista com ares fantasiosos meio quase como uma atriz dentro de um mundo próprio que até ficou estranho, mas interessante de ver. Entre outros que foram bem no que fizeram, mas não chamaram tanta atenção.

Visualmente o longa é lindíssimo, mostrando o Natal de 1899 em São Petesburgo e a virada do ano 1900, com muito gelo nas ruas fazendo com que as pessoas usassem patins para tudo, até com entregas rápidas no gelo, temos figurinos bem imponentes para mostrar os ares aristocratas versus as roupas simples dos ladrões e das pessoas de cadeia mais baixa, e claro prédios gigantescos com festas abarrotadas de comidas e danças para dar as devidas nuances clássicas da época, ou seja, a equipe de arte sofreu a beça para conseguir dar conta de tudo com o orçamento (que nem tem como ser pequeno) e criou um mundo fantasioso quase tão gigante quanto os longas de príncipes e princesas de Hollywood, ou seja, é algo que vale muito observar cada detalhe cênico.

Enfim, é um filme bonito, com uma proposta interessante que até encanta visualmente e que consegue entreter como um bom passatempo, porém ficou alongado demais com alguns atos que poderiam ter sido eliminados se caísse nas mãos de um diretor mais experiente, mas ainda assim vale a recomendação, e o encantamento do tradicional conto de fadas de alguém riquíssimo com alguém pobre, e assim fica a dica para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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