Missão Cupido

6/10/2021 12:59:00 AM |

Sei que é raro vocês verem eu falando bem de longas nacionais, ainda mais de uma comédia romântica, então se preparem para o dilúvio do fim dos tempos, pois "Missão Cupido" entregou um filme completamente fora dos padrões que vemos nos filmes brasileiros, brincando praticamente com o estilo das histórias em quadrinhos, usando e ousando com técnicas de animação e de fotografia também, e que sabendo trabalhar bem a comicidade sem ficar abusivo nos atos acaba divertindo de uma forma gostosa de ver. Ou seja, é daqueles filmes que você não vai sair rolando da sessão de tanto rir, mas que vai ficar feliz com todas as cenas, além de se divertir com uma história até que boba, mas que já ouvimos muitas vezes falar que rogaram praga pra gente já no nascimento por tudo o que acaba rolando em nossa vida, e que não bastasse ser uma trama diferente de história, de técnicas, ainda por cima não usou galãs para chamar a atenção do público feminino aos cinemas, que é outra tendência do estilo, e assim muitos até podem virar a cara para a trama, e confesso que até eu estava, mas tudo foi tão gostoso de ver que recomendo darem a chance, pois tirando um leve exagero na disputa final que ficou repetitiva, os demais momentos fazem valer por completo o resultado.

A sinopse nos conta que Miguel é um anjo da guarda hilário e rebelde que é designado a cuidar de Rita, que acabou de nascer. Sem ligar pro poder das palavras dos anjos, acaba profetizando um monte de loucuras para a vida da menina. Tempos depois, o anjo recebe uma ordem vinda diretamente d’Ele, o todo-poderoso Presidente da agência de seguros de vida Miracle: Miguel deve descer à Terra e resolver os problemas que causou na vida de sua assegurada. Além de detestar voltar à Terra, Miguel terá que aprender a lidar com emoções tipicamente humanas que surgirão durante sua missão. E salvar Rita das mãos da Morte, uma linda cantora de rock que atrai as vítimas para seu bar e as seduz com sua voz.

O diretor, roteirista e também compositor da trilha sonora do filme, Rodrigo Bittencourt, conseguiu em seu terceiro longa metragem alçar um voo completo em cima de uma trama, pois ao trabalhar de uma forma irreverente, ousando em misturar quadrinhos desenhados, aplicando texturas e até criando animações realmente dos personagens para misturar tudo num grandioso efeito que saísse completamente do eixo novelesco que tanto predomina o estilo da comédia romântica nacional, ele fez com que seu filme fosse algo novo e interessante de conferir, pois sempre bato na tecla de que as novelas ainda dominam o país, e muitos filmes usam sempre o suporte do estilo para chamar a atenção, e precisamos sair desse eixo para mostrar algo nosso, que já vimos sim em outros filmes, mas colocando boas pontuações, enxergando que dá para mudar e ser criativo, o resultado acaba funcionando bem. E aqui seu roteiro é diferenciado, pois temos um Deus, criador irreverente de tudo (ou da porra toda como é dito no filme), e que brinca com as sacadas não apenas da criação dos humanos, mas sim da criação cinematográfica, usando referências de grandes clássicos hollywoodianos, e envolvendo com as sacadas bem pautadas em cada momento. Ou seja, é um filme aonde temos uma história até que simples se formos analisar a fundo, mas que tem tanta técnica que surpreende e agrada demais, e que quem gosta de um filme irreverente vai curtir bastante, que mesmo tendo algumas falhas expressivas, passa batido e faz valer o tempo de exibição.

Sobre as atuações, o humorista Lucas Salles caiu muito bem na personalidade de Miguel, sendo irônico aonde precisava, trabalhando as piadas de uma maneira solta, e principalmente cativando tudo com um carisma bem propício de se envolver, ao ponto que acabamos não cansando dele, algo que geralmente acontece com alguns personagens cômicos, ou seja foi bem na síntese que lhe foi dada, e só não diria que o ar "romântico" tenha caído tão bem para os momentos finais, servindo mais como um ar secundário que talvez não precisasse ser colocado, mas como costumamos dizer, quando muito se briga e implica com alguém, o romance vem, e aqui funcionou dessa forma. Isabella Santoni estreia seu primeiro filme após muitas novelas, e sua Rita tem uma boa desenvoltura e a atriz usou um tom ácido gostoso de ver numa garota, não deixando ela nem forçada e rebelde, nem exageradamente desacreditada, o que flui bem e acaba chamando atenção, ou seja, foi um bom começo e ela tem um bom perfil, que certamente lhe garantirá mais bons papeis, pois foi bem aqui. Já do lado oposto a amiga da protagonista, Carol, ficou levemente forçada por Thais Belchior, ao ponto que vemos isso mais pelo papel do que pela atriz, mas poderiam ter amenizado seu exagero amoroso que acaba sendo cansativo de ver. Também é a estreia de Agatha Moreira nos cinemas, e a escolha da atriz foi perfeita para o papel de Morte, pois se queriam um tom sedutor a jovem já fez muito bem em outros papeis em séries e novelas e com estilo e personalidade vemos um envolvimento forte e muito bem colocado, dando show nas suas cenas. Rafael Infante forçou sim em seu Presidente, mas sabemos que o humorista é dessa forma, e seu personagem acabou chamando a atenção justamente por esse exagero ambientado, mas ao menos lhe deram bons textos que fizeram esse exagero todo funcionar, ou seja, um bom acerto na escolha também. Victor Lamoglia já ousou chamar a atenção com um personagem mais sério, o que é curioso de ver num humorista, ao ponto que seu Rafael foi bem intrigante e interessante pelas atitudes bem colocadas, o que acabou chamando atenção e funcionando dentro de uma personalidade mais elegante. Dentre os demais, a maioria foi de conexão com um ou outro ponto a mais para chamar atenção, tendo um leve destaque pelo exagero de gritos de Daniel Curi como Querubim, mas até que alguns pontos foram engraçados dentro dos trejeitos mafiosos usados por ele, mas poderia ter sido menos exagerado.

Agora sem dúvida alguma o ponto alto do longa é toda a produção visual, pois mesmo vendo que não criaram grandiosos ambientes cênicos, conseguiram brincar muito com técnicas visuais, usando contrastes de cores passando a maioria das cenas da Morte em preto e branco como se tudo ao redor dela realmente morresse, já em contraponto a sala do Presidente com toda sua criatividade cheia de cores, com vários quadrinhos começados e sendo desenvolvidos como uma vida sendo manipulada, todos os diversos elementos cênicos e as coincidências de seus jogos de dardos com coisas boas e ruins sendo arremessadas no mapa, na Terra a protagonista e sua amiga cuidando de uma loja de doces para adoçar a vida das pessoas dando sabor em tudo, e claro ainda muitas referências à outros filmes clássicos como "Poderoso Chefão", "Kill Bill", entre outros, ou seja, toda uma dinâmica muito bem criada pela equipe de arte, além claro de toda a computação gráfica para a criação das animações sejam elas em cima de cenas atuadas ou realmente desenhadas que deram um luxuoso resultado para a trama com os quadrinhos em movimento e tudo mais, ou seja, perfeito.

E milagrosamente temos um filme nacional com sua trilha sonora compartilhada para que todos possam escutar depois, que o diretor compôs e cantou praticamente todas as canções junto de Daniel Lopes, e claro que deixo aqui o link, pois além de darem todo o bom ritmo na produção, são bem gostosas de conferir.

Enfim, é um filme que está longe de ser perfeito, que tem várias pequenas falhas pontuais no miolo como alguns leves exageros, e uma cena final de desafio numa máquina que ficou forçada e repetitiva demais com todos "brincando" ali, e que até faz um certo sentido com a combinação usada no início do filme, mas que poderiam ter amenizado para ficar melhor, mas que todo o restante é tão bom, que certamente acabamos bem envolvidos e vale muito a recomendação para que todos confiram, pois sabemos como as produções nacionais não são tão valorizadas, principalmente as que fogem de um padrão, e aqui é algo criativo e muito bem funcional. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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