Netflix - Segurança (Security)

6/20/2021 06:20:00 PM |

O bacana do estilo de filmes italianos é que eles criam toda uma história em volta de algo, e quando vemos estamos presos tentando decifrar algo que de certa forma é simples, porém eles colocam sempre tantos personagens importantes na trama que tudo passa a ter alguma relevância nos momentos chaves, e isso começa a incomodar de certa forma, o que acaba não sendo bom nem para o filme, nem para o resultado completo, que é o que chamo de entregar o clima novelesco para um longa-metragem. Dito isso, o filme da Netflix, "Segurança", até tem um certo clima misterioso, vamos tentando entrar no clima da cabeça do protagonista que tenta desvendar o mistério de uma jovem violentada a qual todos da pequena vila passam a culpar o próprio pai da moça por já ter estado em um episódio "semelhante" também não resolvido do passado, e conforme vamos entendendo tudo o que se passa, e todo o resultado que os demais vão nos entregando, tudo muda de vértice, mostrando a clássica ideologia de que quem tem dinheiro compra o silêncio e muda as versões para que se livrem de tudo. Ou seja, é um filme de certa forma intrigante, porém a reviravolta poderia ter ocorrido bem antes, quando tudo começa a se conectar, pois aí teriam tempo para o filme abrir novas nuances, e não seria necessário tantos enfeites secundários que acabaram servindo para encher o longa e cansar de certa forma, o transformando em algo mediano.

A sinopse nos conta que no verão, Forte dei Marmi é uma cidade tranquila, um pequeno paraíso para seus cidadãos ricos. No inverno, os dias ficam mais curtos, as noites mais longas e as vilas se transformam em pequenas fortalezas protegidas por sofisticados circuitos de câmeras de segurança. Esta é uma história de inverno, uma história que perturba a vida de seus personagens e os muda para sempre. Quando o medo habita as casas e as pessoas, qual é o preço da segurança?

O diretor Peter Chelson é daqueles que sabem bem o que fazer com uma trama para que ela prenda o espectador, e consegue sempre desenvolver bem seus atos para criar um bom suspense cheio de envolvimento, porém aqui usando como base o livro de Stephen Amidon, ele acabou criando ambientes abertos demais e sínteses mais fechadas que não fluem tão facilmente, ao ponto que acabamos não nos conectando a nenhum personagem e menos ainda ao protagonista, que não diz a que veio, mas apenas sendo dono de uma empresa de segurança tende a ficar procurando tudo em todos os lugares e sem dormir não consegue ter um foco decente em tudo. Ou seja, talvez no livro até dê a ideia de fluidez mais segura por não estarmos vendo as nuances, mas no filme na primeira vez que o protagonista já olha cada câmera de onde aconteceu o abuso já daria para ter pego tudo e conectado toda a trama para uma acusação mais contundente. E sendo assim o diretor quis enrolar fazendo as várias aberturas, mas em momento algum deu a verdadeira explosão que funcionaria realmente, deixando o clima novelesco predominar para conhecermos os demais personagens, e não ir além com nenhum deles.

Sobre as atuações, Marco D'Amore foi bem coerente nas atitudes entregues, desenvolveu seu Roberto com um ar de curiosidade bem colocado, e claro até trabalhou bem nas facetas de um pai preocupado, porém não vemos ele como alguém que quer desvendar algo, mas sim apenas fuçar, e claro alguém que vive com sono em excesso, ao ponto que tudo ali está tanto na sua cara que não consegue enxergar, ou seja, o ator foi bem nos atos, mas não cativou como poderia, e certamente ficou refém do roteiro. Da mesma forma Maya Sansa como a esposa do protagonista e candidata a prefeita da cidade não enxerga além de sua candidatura, olhando com ares levianos para o que está na sua frente, e claro usando de abusos para apagar imagens, ou seja, vemos a artista fazendo caras e bocas expressivas, mas não indo muito além de suas conclusões. Fabrizio Bentivoglio até trabalhou seu Pilati com um certo ar de imposição, demonstrando um certo ataque exagerado para sua doença, mas soube dosar o estilo para os olhares agradando de certa forma na montagem final do personagem. Os jovens da trama até tentaram ser expressivos, mas nenhum puxou um momento de destaque para si, fazendo caras e bocas em excesso, e criando vértices meio que jogados em cena, o que é ruim de ver acontecer, e mesmo Giulio Prano que trabalhou seu Dario com uma certa ironia em diversos momentos teve sua cena de fechamento não indo muito além. 

Visualmente a trama tem seu mérito intrigante pelas boas paisagens da pequena cidade, mas não aproveitou isso ao máximo como poderia, trabalhando a maioria das cenas com internas e trabalhos de câmeras, o que não deixa de ser algo interessante, mas talvez a criação das dinâmicas, os vários ambientes montanhosos, as casas e mansões pudessem ter ido mais além nas nuances e claro nos objetos cênicos para comprovar toda a temática, como é o caso quando no final o protagonista descobre todo o eixo, mas ao menos o visual completo funcionou, e isso já se faz valer.

Enfim, é um filme que até tem uma ótima proposta, um ar misterioso interessante, e uma boa premissa pronta para agradar, mas faltou atitudes tanto do diretor para conseguir convencer nesse mistério, como um desenvolvimento mais intrigante que mantivesse o ar do começo ao fim, pois facilmente daria para cortar várias cenas do miolo para que o longa ficasse mais coeso, e assim desanimou um pouco o resultado final mediano de certa forma, mas ainda vale como um passatempo razoável. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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