A Outra Forma (La Otra Forma)

12/10/2024 10:04:00 PM |

Costumo dizer que ver filmes abstratos é um exercício para ver se a cabeça ainda está pensando direito para interpretar o que estão tentando mostrar na tela, e que por muitas vezes nem sempre chegamos sequer perto da ideia original que o diretor pensou quando criou a obra, e um estilo que fazia muito tempo que não via nada era uma animação abstrata, afinal esse estilo tem característica de ser mais infantil, então os produtores não costumam comprar bem as ideias, mas eis que surgiu uma cabine para conferir do longa "A Outra Forma", que estreia na próxima quinta-feira 12/12 em algumas cidades do Brasil, e que brinca com a principal sacada do mundo social que existe há milênios, que é o de se adaptar para encaixar em algo, nem que para isso você passe toda sua vida, ou use de artifícios mais fortes, que aqui no caso são moldes nos formatos, e até um ato extremo mostrado como método para conseguir se encaixar no grande cubo social. Ou seja, é um filme com um certo ar filosófico, com uma pegada bem diferenciada, que muitos não irão entrar no clima, mas que impacta bem com a mensagem e que tem chamado muita atenção nas premiações que tem disputado, e que pode surgir como um azarão nas indicações das maiores premiações que ainda teremos, que aí teríamos mesmo como coparticipação o nome do Brasil lá, afinal a animação é uma coprodução entre Brasil e Colômbia.

O longa-metragem nos leva a um futuro próximo onde a humanidade constrói um paraíso quadrado e artificial na superfície da Lua, que só pode ser alcançado quando corpos e mentes adquirem formatos quadrados. Para isso, lançam mão de engrenagens, ferramentas, dispositivos corretivos e até cirurgias, que moldam seus corpos como cubos. Entre estas pessoas, há um cidadão, que guarda internamente questionamentos de sua individualidade e o que poderia dar errado, na verdade, alavanca uma jornada particular e única.

Diria que o diretor e roteirista Diego Felipe Guzman foi bem corajoso em sua estreia de longas, pois já entrar de cara no mundo abstrato, com uma trama filosófica e ainda numa animação, é querer correr todos os riscos possíveis, mas que acertou em cheio principalmente pelo fator linguagem, já que sua trama não tem diálogos, e assim sendo acaba sendo algo universal, aonde todos que entrarem no clima irão perceber o mundo quadrado, a tentativa dos personagens em se enquadrarem nessa ideologia, o conflito com o tradicional, e muitos outros elos, que vão permeando e acontecendo na tela conforme vamos acompanhando. Ou seja, não feliz apenas com algo diferente de tudo, os traços não comuns, as cores densas e todo o elo acaba fluindo na tela com muita centralidade e cheio de nuances, aonde tudo flui, e mesmo dando uma fervida na cabeça com toda a loucura de algo abstrato, diria que o resultado funciona bem.

Como é um filme sem diálogos e os personagens nem tem tantos nomes, os principais são Pedro Prensa, Cuadrochica e Carlos Cajuela, aonde o primeiro vivendo a vida toda com sua cabeça sendo apertada para reduzir e caber no formato escolhido chega a dar até dor na nossa cabeça vendo tudo sendo ajustado, a garota brincou bem com a vaidade e com o ser chamativa, querendo até formas mais difíceis do que os padrões, e o terceiro jovem vivendo dentro de uma caixa para não mostrar que não mudou tanto, mas ainda assim tem seu ar quadrado, brinca com as nuances do desenhar, do imaginar e até tem toda a dificuldade de sair da caixa, que no caso seria não ser quadrado, e essa brincadeira acaba levando tudo para rumos bem diferenciados.

Visualmente a trama tem formas completamente malucas, mas sempre próximas de quadrados, lembrando até um pouco o jogo Tetris, mas com uma pegada cheia de cores, e traçados bem abstratos e estranhos, que no conjunto acabam dando nuances bem marcantes e interessantes, brincando com olhares, dinâmicas, intensidades e claro toda a dinâmica de procedimentos estéticos para se encaixar no comum e correto, e com isso a equipe de arte usou de técnicas para ter uma profundidade chamativa, mesmo sem transformar seu filme em 3D, e isso ficou bacana de ver com as sombras e dimensões, o que acabou chamando atenção para traços irregulares e diferentes do padrão.

Enfim, é uma trama bem diferenciada que você tem de assistir em um dia inspirado, pois como falei no começo você necessitará interpretar tudo o que acontece na tela já que não há diálogos, mas tudo está bem estampado, então não é algo difícil, e sendo assim vale pela reflexão e claro pela técnica fora dos padrões que certamente muitos irão estranhar, mas que ao final já estamos até pensando em não ser tão quadrados como os personagens. Então fica a dica para conferirem (se claro o longa chegar até sua cidade, ou quando aparecer para locação nos streamings da vida), e eu fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da M2 Comunicação e do Estúdio Giz que mandou a cabine para conferir, então abraços e até amanhã com mais textos.


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