O longa nos situa em 1978, aonde durante três anos, o Camboja esteve sob o jugo do revolucionário Pol Pot e do seu Khmer Vermelho. O país está economicamente devastado e quase dois milhões de cambojanos morreram num genocídio que permanece silencioso. Três franceses aceitaram o convite do regime e esperam obter uma entrevista exclusiva com Pol Pot. Eles são uma jornalista familiarizada com o país, um repórter fotográfico e um intelectual simpatizante da ideologia revolucionária. Mas a realidade que percebem sob a propaganda e o tratamento que lhes é reservado mudarão gradativamente as certezas de todos.
Não lembro se alguma vez vi um filme proveniente do Camboja, mas aqui sendo uma produção mista entre França, Taiwan, Catar, Turquia, e claro o Camboja, e analisando as premiações do diretor Rithy Panh posso dizer que a experiência dele com muitos documentários fez com que trouxesse ares marcantes e bem desenvolvidos para trabalhar o livro de Elizabeth Becker, afinal nasceu no país em 64, e em plena adolescência viu como seu país virou um caos com a revolução de Pol Pot, ou seja, escolheu detalhes bem precisos para que sua trama tivesse conteúdo e impacto, usando uma alegoria plena que é a famosa falsa propaganda, que muitos ditadores usam para apresentar suas ideias e ideais para jornalistas, desde que claro falem bem depois, do contrário e se saírem do combinado, provavelmente nem voltariam para publicar suas matérias. Ou seja, é um filme que tem presença, que misturando imagens de arquivo com o desenvolvimento ficcional acaba fluindo bem dentro de tudo, mas que poderia ser mais impactante para causar mais, e assim mexer mais com o público, mas quebraria o elo documental, e assim vamos aceitar o que foi entregue.
Quanto das atuações, diria que faltou um pouco mais de imposição e personalidade para o trio de jornalistas, que claro estavam entrando em uma tremenda fria, mas faltou passar a sensação de medo no olhar, ao ponto que Irène Jacob fez de sua Lise Delbo uma mulher segura demais de si, mas que não se intimidou com nada, e sabemos que não é bem assim, afinal no meio de uma tonelada de armas para todos os lados, e sabendo tudo o que está acontecendo nos bastidores, poderia ter sido menos plena na personalidade escolhida. Já Cyril Gueï se jogou para o lado mais explosivo com seu Paul Thomas, investigando cada canto e claro sofrendo as consequências, de tal forma que vemos em seus traquejos o suor expressivo, mas dominando mais a ira do que o medo. Ainda tivemos Grégoire Colin com seu Alain Cariou que já conhecia Pol Pot por meio de cartas, tinha uma certa simpatia pelo regime, e aparentemente entregou trejeitos de estar se divertindo em estar ali, mas conforme vai desenvolvendo tudo, vê que não era bem o que esperava ver.
Visualmente ainda estou aplaudindo o trabalho das maquetes, pois ir desenvolvendo o filme com os atores de carne e osso, e também mexendo com seus bonequinhos no ambiente, com olhos arregalados, vendo e acontecendo em cada ato é algo que ficou muito chamativo, fora as pinturas com o cara do marketing do país falando para colocar mais sorrisos, mudar tons, o ato da representação das cooperativas com cenografias falsas para que tudo soasse realmente como uma propaganda bonita, todos os figurantes sempre com cabeças baixas com medo de serem encarados, o fosso de jacarés com as roupas, ou seja, tudo muito presencial e forte, tendo até os quartos dos protagonistas como uma espécie de prisão, e a diferença do acampamento aonde o líder vivia e aonde faz a entrevista contrastando tudo. Ou seja, um trabalho de recuperação cênica bem marcante e imponente.
Enfim, não é um filme perfeito, pois tem os defeitos expressivos e características que dentro de um cinema comercial precisaria de dinâmicas e envolvimentos maiores, mas como algo para festivais e premiações é incrível de ver, e assim sendo vale muito a recomendação. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo novamente os amigos da Sinny Assessoria e da Pandora Filmes, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.
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