Netflix - O Entregador (El Correo) (The Courier)

5/14/2024 01:18:00 AM |

Sempre é muito bom você bater o olho em um filme e falar: "esse tem uma cara de que eu vou gostar", mas melhor ainda é no final você falar: "tinha certeza que ia curtir esse filme desde a primeira olhada"! E é engraçado que muitas vezes eu erro também nas minhas escolhas, mas alguns filmes mesmo sem dar o play, sem ler a sinopse ou até mesmo sem ver o trailer, depois de anos fazendo isso, já costumo ter alguns bons palpites antes de me arriscar, tanto que minha lista de filmes nas plataformas de streaming é gigantesca, e sei que muitos nunca darei play, afinal sempre chegam novos, e aí o que poderia ser ruim vai ficando por lá. Dito isso, alguns dias atrás enquanto esperava para dar o play em um longa da Netflix, vi na tela o próximo lançamento do longa espanhol "O Entregador", e coloquei para que a plataforma me lembrasse no lançamento, pois mesmo sem ler nada, tinha a certeza que ia ser bem bacana, e hoje ao ver que era baseado em uma história real, já me empolguei mais ainda, e a cada insanidade do vício do protagonista em ganhar mais e mais dinheiro, entrando cada vez mais num nível mais complicado e maluco mostra o quanto dinheiro vicia, tanto que a cena que abre e também fecha o longa é o cara já aceitando viajar dentro de um container por sabe-se lá quantos dias junto de muito dinheiro ilegal, podendo cair no mar e tudo mais. Ou seja, o longa vai mostrando o quanto a ganância é o maior mal que acaba pegando esse pessoal que rouba e faz trambiques com dinheiro público, pois eles se perdem completamente e quando veem a "droga" (no caso o dinheiro) acaba destruindo ele. Diria que é um dos filmes mais malucos e incríveis que vi do estilo, pois sabemos bem como isso tudo acaba virando um caos tanto para nós pobres que acabamos pagando o pato desses roubos, quanto para aqueles menorzinhos que se acham grandões e acabam sendo presos enquanto os tubarões continuam nadando com a grana.

A trama mostra a vida de Iván Márquez, um jovem do bairro de Vallecas, em Madrid, cuja vida é drasticamente afetada pelas mudanças econômicas e políticas que varrem a Espanha após a introdução do euro. O filme se passa nos anos 90, durante os Jogos Olímpicos e a Expo em Barcelona, até os primeiros anos do século XXI. Conforme Iván observa sua família enfrentar dificuldades financeiras, ele se vê cada vez mais envolvido em esquemas de lavagem de dinheiro e corrupção. Inicialmente seria apenas uma "mula" transportando dinheiro sujo para o exterior, mas Iván logo se vê navegando entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e mafiosos na ensolarada Costa del Sol. O filme captura não apenas a ascensão de Iván ao topo da hierarquia criminosa, mas também a atmosfera turbulenta e a sensação de desilusão que permearam a sociedade espanhola da época.

Pessoalmente gosto muito do cinema espanhol, pois eles sabem brincar com temas sérios de uma forma bem próxima da nossa, ironizando e tentando fazer graça com ação, já que chorar seria o mais óbvio, e o diretor Daniel Calparsoro é daqueles que tem muito dessa pegada, e já ousou bastante em todos os seus longas (ao menos nos que vi), sabendo como extrair loucuras de seus protagonistas suficientes para juntar com partes documentais reais e entregar algo chamativo como o que fez aqui com a história escrita por Patxi Amezcua e Alejo Flah, mostrando que esse jeitinho que chamamos de brasileiro é algo que se tem mundo afora, com jovens "empreendedores" espertos que sabem aonde achar uma mina de dinheiro dando sopa para pegar. Ou seja, com uma sacada rápida e bem trabalhada, o longa que tem a duração ideal de 101 minutos (já falei outras vezes que um filme redondo sem erros se faz entre 100 e 120) e funciona parecendo ter até menos, trabalhando a personalidade do protagonista, e conectando ele com todo o restante sem precisar virar uma novela, e isso é brilhar na tela.

Quanto das atuações, não lembrava do jovem Arón Piper em algumas tramas que trabalhou, mas aqui entregou um Iván tão solto e fluido que parece já ter uns 20 anos de carreira pelo menos, segurando as intensidades dramáticas, trabalhando elos bem encaixados com todos os demais personagens sem ficar oculto (e olha que disputou diálogos com grandes nomes do cinema espanhol), e conseguiu ter um carisma suficiente para que mesmo sendo alguém que está roubando em jogadas o público se conectasse pelo fator melhoria de vida, e assim conseguiu ser marcante do começo ao fim, mesmo tendo atos seus narrando o que estava fazendo que por vezes acaba sendo cansativo, o que não ocorreu aqui. Laura Sepul entregou uma Anne Marie cheia de imposições, sensual e cheia de intensidade no traquejo com tudo, de tal forma que cada momento seu na tela acaba sendo bem chamativo, e junto com o protagonista passou olhares e tudo mais, ou seja, foi bem demais em cena. Falar de Luis Tosar é repetir a palavra excelência sempre, pois pode ser protagonista ou coadjuvante sempre vai chamar a atenção, e aqui seu Escámez aparece até que pouco, mas brilha para que olhássemos para o que faz em cena, deixando claro toda a conexão María Pedraza como sua filha e claro envolvimento do protagonista. Ainda tivemos muitos outros personagens marcantes, mas é claro o destaque para Nourdin Batan com seu Yannick e Luis Zahera como Comissário Roig, pois ambos tiveram atos imponentes e marcantes, com o primeiro sabendo aparecer tanto nos atos mais fechados quanto na tela principal.

Visualmente o longa foi bem trabalhado com muito luxo, carrões, apartamentos cheios de requinte, muitas festas abarrotadas de bebidas caras e muitas drogas, e claro muita negociação de bastidores, com fazendas, praias e tudo mais em segundo plano para as operações da polícia, mas tudo muito recheado de imagens reais dos casos acontecendo, dando uma boa base para a ficção usando o pano de fundo da realidade, o que acabou chamando muita atenção para a pesquisa da equipe de arte, que usou e abusou de locações em Madri, Málaga, Bruxelas, Genebra e até Hong Kong, ou seja, um trabalho pesado e bem demonstrado na tela.

Enfim, é um filme que se olharmos a fundo é bem simples, mas que consegue ter dinâmica e envolver tão bem que conseguiu mostrar tanto o lado real da coisa em si, como brincar com as facetas que foi esse mar de dinheiro roubado dos mais pobres, sendo marcante e também engraçado de ver, e assim sendo valendo muito a recomendação para todos. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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