Vermelho Monet

5/09/2024 01:03:00 AM |

Confesso que para estar escrevendo aqui já olhei umas três ou quatro vezes a ficha do filme, pois não consigo acreditar ainda que "Vermelho Monet" tenha sido escrito e dirigido por Halder Gomes, que para quem não sabe quem é basta lembrar do primeiro filme falado em cearensês chamado "Cine Holliúdy", que não estou falando mal, pois amei o longa na época que vi, apenas são duas propostas completamente opostas, do tipo que para uma comparação xucra eu estivesse aqui falando do primeiro romance de James Wan, ou seja, foi um choque, porém um excelente choque, já que o filme tem uma pegada tão densa, trabalhando a arte, o ato criminoso da falsificação, a musa de um artista e tudo mais nesse mundo da pintura que é algo tão complexo que é até difícil de se situar, e o resultado mesmo sendo um filme gigantesco não chega a cansar, conseguindo trabalhar cada personagem, cada envolvimento, e que embora tenha um leve ar novelesco, não se desenrola para isso, ficando exatamente dentro da formatação cinematográfica. Ou seja, é daqueles filmes que comecei assistindo intrigado e esperando vir alguma comicidade ou alguma coisa que saísse completamente do eixo dramático, e ao final já estava esperando para ver que rumos iam me surpreender, pois tudo poderia acontecer, sendo algo poético ou até mesmo impressionista, e assim sendo é algo que vale recomendar para conferirem.

A sinopse nos conta que Johannes Van Almeida é um pintor de mulheres sem aceitação no mercado; obsoleto. Com a visão deteriorada e à beira de um colapso nervoso, encontra em Florence Lizz (Samantha Müller) - uma famosa atriz em crise e insegura na preparação para o seu filme mais desafiador - a inspiração para realizar sua obra prima. Antoinette Lefèvre (Maria Fernanda Cândido) é uma influente marchand/connoisseur de arte que fareja o valor de obras de arte quando histórias de inspiração viram obsessão entre pintores e modelos.

Um detalhe apenas, eu assisti apenas o primeiro Cine Holliúdy, então tenho em mente que o diretor e roteirista Halder Gomes é muito bom, já os demais longas dele acabaram não saindo nos cinemas do interior, alguns entraram em plataformas difíceis de dar o play, então fiquei na mente só com seu potencial de fazer um humor bem feito, então meu medo dele mudar completamente de gênero era algo muito forte na minha cabeça, mas ele provou que é bom em dramas também, ou seja, como ele gostaria de ouvir é um "cabra arretado de bão" em qualquer coisa que faça, e certamente irei esperar o que mais ele vai aprontar, pois aqui ele conseguiu não apenas fazer um filme sobre a comercialização da arte de uma pessoa, mas também brincar com crises nos mais variados tipos de profissões desse meio artístico, desde um pintor já quase cego, uma atriz entrando em um papel difícil até uma comercializadora de quadros que vende algo para seu principal cliente achando ser único que não é. Ou seja, o diretor abre um leque tão grande de possibilidades para brincar com arte, que ao final tudo se afunila em algo brilhante bem encaixado que funciona demais.

Quanto das atuações, Chico Diaz ficou perfeito como um pintor, de forma que seu Johannes tem toda a densidade dramática, tem o olhar de ver uma musa e enxergar nela tudo o que deseja passar para sua tela, fora a dramaticidade de estar quase cego vendo tudo em preto e branco que é a maior tristeza para um artista apaixonado pelo vermelho e azul, então o ator pegou o papel e esmiuçou ele ao máximo agradando demais em tudo o que fez. Maria Fernanda Cândido é daquelas atrizes que raramente erra em qualquer papel que pegue para fazer, e aqui sua Antoinette tem pegada, sabe aonde entrar e sair para conseguir seus contatos, e ainda por cima joga toda a sensualidade e inteligência para cima da jovem atriz, o que não tinha como resistir, ou seja, foi bem demais. Diria que Samantha Müller fez uma boa estreia com sua Florence, mas aparentou estar um pouco insegura do papel, o que pode ser também reflexo de como a personagem deveria agir no meio conflitivo que se encontra, ou então por estar no meio de monstros do cinema/TV que certamente lhe deram um bom caminho e ela não errou. Ainda tivemos muitos outros personagens secundários, tendo destaques Gracinda Nave como a esposa do pintor Adele, sua musa do passado, mas com um bom lado poético em seus atos na cadeira de rodas, e Matamba Joaquim fazendo um bilionário interessado nos jogos da protagonista e dando boas nuances na tela.

Visualmente o longa é um luxo completo com cenas filmadas em Lisboa, tendo todo um atelier bagunçado do protagonista velho, mas cheio de detalhes de sua técnica, de seus trabalhos e tudo mais, numa pesquisa de arte que com muita certeza a equipe fez para ter detalhes, vemos um museu junto com uma curadoria num evento de quadros e leilões, ainda tivemos um palco para ensaios do filme que a jovem está estrelando, além de uma festa bem imponente de lançamento para apresentações, e claro a casa da dona da galeria com um gosto bem refinado e muitos quadros expostos, ou seja, o diretor pode brincar bastante com todo o trabalho da equipe de arte, e a fotografia foi incrível na mistura de tons, conseguindo sobressair o vermelho no preto e branco do pintor, e dando nuances técnicas bem encaixadas para que o filme brilhasse.

Enfim, minha única reclamação mesmo é com a duração do longa que se estendeu demais e por bem pouco não entrou num desenvolvimento novelesco com sub-tramas, mas como é um incômodo mais técnico do que como entrega de um filme mesmo, posso dizer que recomendo demais ele para quem gosta de tramas dramáticas bem amarradas e intensas, então fica a dica para conferida na sua cidade, pois já estreia nessa quinta dia 09/05. E é isso pessoal, eu fico por aqui agradecendo o pessoal da Pandora Filmes pela cabine de imprensa, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...