Daaaaaali! (Daaaaaalí!)

11/13/2024 07:50:00 PM |

Sinceramente estava com muito medo do que veria no longa "Daaaaaali!", mas se tem um estilo que os franceses dominam é o tal da comédia do absurdo, pois tudo acaba fluindo de uma forma tão maluca e abstrata, que só assim seria possível retratar de uma forma cômica e icônica uma possível entrevista com Salvador Dali, e meu medo sumiu na primeira cena, para rir depois do começo ao fim com toda a entrega dos personagens, toda a desenvoltura conflituosa na tela, e toda a abstração funcional que nos é mostrado no longa. Ou seja, é daqueles filmes que você certamente se lembrará quando te perguntarem qual o filme mais maluco que você já gostou de ver, e a resposta vai vir na hora com todos os "a"s do título!

O longa nos mostra que uma jornalista francesa encontra o icônico artista surrealista Salvador Dalí em várias ocasiões, para um projeto de documentário cuja realização se revela bem difícil e cheia de surpresas.

O mais engraçado é que tivemos dois filmes abstratos do diretor e roteirista Quentin Dupieux nesse ano no Festival Varilux, e em ambos ele conseguiu trabalhar de formas tão diferentes, que nem parece o mesmo comandante, de modo que aqui ele acabou brincando demais com sotaques, com a percepção temporal e até mesmo o próprio estilo ousado e abstrato do pintor, não deixando margens para que virasse um filme simples de ver na tela, tendo pegada e intensidade, e principalmente podendo não deixar tudo muito redondinho, de forma que mesmo quando você acha que acabou ele ainda brinca mais algumas vezes com você, ou seja, um trabalho ousado, porém extremamente cômico e divertido na medida certa, mostrando que é um diretor para ficarmos bem atentos.

Quanto das atuações, Anaïs Demoustier trabalhou com uma boa simpatia para que sua Judith Rochant fosse interessante, mesmo sendo bem insossa como uma jornalista, e a pegada de colocar isso como pauta funciona demais com os trejeitos escolhidos. Tirando Didier Flamand como Dali velho, não consegui identificar que hora era Edouard Baer, Jonathan Cohen, Gilles Lellouche ou Pio Marmaï fazendo o papel de Salvador Dalí, e isso é algo brilhante e muito bem colocado na tela, que acaba agradando por todos serem bem excêntricos e funcionais nos traquejos e trejeitos expressivos, ou seja, deram show na tela. Ainda vale destacar Éric Nagar como Padre Jacques e Ken Samuels como Cowboy, pois suas cenas foram incríveis dentro do contexto da trama.

Visualmente a trama não podia ter outra estética senão tudo bem próximo do surrealismo do pintor, com personagens esquisitos, corredores intermináveis de um hotel, animais em quartos, TVs antigas, entrar com um carro na praia, além de muitos objetos bem coloridos, mas sem sair da base centrada, ou seja, é daqueles filmes que a equipe de arte elaborou muito bem tudo o que precisava no roteiro e não mudou uma vírgula de lugar, e assim sendo acaba agradando bastante.

Enfim, fazia tempo que não ria tanto em uma comédia de festivais, pois sempre acabam sendo boas sacadas, mas não algo que fizesse uma diversão completa, então recomendo com certeza essa loucura para todos conferirem. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas já vou para mais uma sessão do Festival Varilux, então abraços e até daqui a pouco.


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