O longa nos conta que María Margarita, uma talentosa contadora de histórias de cinema, é a mais nova de quatro irmãos, oriunda de uma família que vive em uma cidade mineira no deserto do Atacama, no Chile. Para María, o momento mais especial da semana é o domingo, quando todos vão ao cinema para curtir histórias que os transportam para outros mundos, diferentes de suas realidades. Os pais da garota criativa logo percebem o dom que a filha tem para inventar histórias que poderiam ser filmes. Não demora muito para que o talento de María caia na boca das pessoas da cidade e isso faz com que uma significativa mudança na fortuna da família aconteça, justo em um momento em que o país está sendo transformado para sempre.
A trama que é baseada no livro do poeta chileno Hernán Rivera Letelier foi desenvolvida por três grandes roteiristas e diretores como Walter Salles, Rafa Russo e Isabel Coixet, para que nas mãos do diretor Lone Scherfig ganhasse um formato sentimental tão bem trabalhado, que mesmo sendo uma trama muito narrada (que já disse outras vezes não ser nenhum pouco fã), acabou me comovendo ao ponto de nem ligar para a história sendo contada pela garota, de modo que tudo flui na tela, tudo tem personalidade e ambientação, e o resultado acaba sendo perfeito de acompanhar, que recheado de nuances calmas e quebras bem duras de sentir, faz o espectador viajar pela época e até esquecer realmente o período da trama, tanto que quando ocorrem os atos finais vem toda a lembrança, e que complementado com um ótimo fechamento funciona na totalidade.
Quanto das atuações, o gracejo de ambas as protagonistas que viveram María Margarita dá todo o tom da trama, tanto que Alondra Valenzuela começa já desde a primeira cena com o redemoinho se mostrando uma jovem fora dos padrões, que gosta de experimentar e vivenciar cada momento, trabalhando olhares astutos e marcantes na tela, quanto Sara Becker que fez a jovem já na segunda fase, com uma personalidade mais inspirada e emocional, mas também tendo alguns atos fortes e densos que com trejeitos amplos e marcantes conseguiu dominar todas as cenas e nos contar o filme com muito envolvimento. Antonio de la Torre trabalhou seu Medardo inicialmente bem simples e com muitas dúvidas do que sua mulher sentia por ele, mas depois do acidente muda trejeitos e acaba ficando mais explosivo e direto, de modo que ainda passa alguns momentos mais emocionais com a entrega da filha, mas sempre com um olhar mais vazio. Bérénice Bejo fez uma entrega simples, porém bem marcante com sua María Magnolia entregando cenas cheias de envolvimento com toda a família, e também alguns atos aonde víamos sua mente voando para onde desejava ir. Outro que entregou atos bem colocados, meio que em segundo plano, mas com dinâmicas chamativas foi Daniel Brühl com seu Hauser, de modo que encontra seu espaço e sem precisar apelar consegue que o público olhe para seu personagem. Ainda tivemos bons momentos com todos os demais, tendo um ou outro chamariz por parte dos demais filhos e também do namoradinho da protagonista, mas sem algo que realmente se destacasse, valendo pelos bons traquejos que souberam dar personalidade sem ficarem apagados na trama.
Visualmente a trama nos leva para dentro do deserto do Atacama no Chile, com um ambiente bem seco, cheio de poeira e casinhas marrons, aonde tudo é bem simples, mas com sábios detalhes para colocar envolvimento familiar, e símbolos para que cada um entre na ideia completa da trama, tendo claro os destaques para as vestimentas dos mais ricos e chefes da mina com seu clube privativo, a escola sem grandes detalhes, e toda a pompa para o cinema, com suas muitas poltronas lotadas ao domingo, com ótimas escolhas de filmes da época para conferirem (que espero que todos os pequenos jovens atores tenham realmente conferido, pois valem a pena passar inteiros para conhecerem mais aonde estão entrando), e claro as reproduções interpretadas pela garota, cada vez com mais elementos cênicos para envolver sua plateia, que com poucos elementos cênicos bem detalhados funcionaram perfeitamente.
Enfim, é um longa sensível e gostoso de ser conferido, que funciona na medida certa para envolver a todos que entrarem por completo na trama, mostrando que o cinema é algo tão mágico que pode mudar a vida das pessoas, então não perca a chance de entrar nesse mundo que o cinema espanhol nos entregou com uma perfeição incrível, que só poderia ser um pouco mas rápido em alguns atos, mas nada que tenha atrapalhado o resultado final. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais filmes, então abraços e até logo mais.
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