Polícia Federal - A Lei É Para Todos

9/09/2017 09:56:00 PM |

Como sempre digo temos de analisar filmes com o funcionamento deles como cinema em si, e não pela proposta, e o que andamos vendo nas opiniões de "Polícia Federal - A Lei É Para Todos" é que ou o povo é favorável ou não pelo que anda acontecendo no nosso país. Portanto antes de mais nada, aqui irei dar somente minha opinião sobre o filme, deixando de lado qualquer opinião política ou de ajuda a qualquer melhoria do país de lado. Digo isso para não virem aqui reclamar de algo ou da nota, pois vou começar já colocando a maior sinceridade do mundo: nosso país parece uma ficção gigante ambulante, que se contarmos tudo o que anda ocorrendo para qualquer pessoa que não tenha vivido nessa época ou more fora do país ou até mesmo que não veja os jornais, certamente a pessoa irá lhe perguntar de que filme estamos falando. Dito isso, vamos à primeira análise que conseguimos ver logo de cara é o formato da produção, que embora bem arquitetado funcionaria muito melhor como série do que como filme, pois poderia explorar cada momento em episódios separados e certamente empolgaria bem mais, mas dificilmente alguma emissora se atreveria a mostrar por ter problemas de envolvimento político. E além disso, o maior problema para com o filme em si foi em cortes ruins, parecendo que até tentaram aumentar a velocidade das cenas para que o filme coubesse no tamanho comercial de cinema, quebrando diversos momentos e falhando nesse detalhe. Ou seja, não é algo ruim, e também está longe de ser bom, mas temos de ser ecléticos e dizer, que o filme vai mexer bastante com as opiniões do público, seja quem sabe ou quem não sabe dos envolvimentos mostrados no longa.

O longa nos situa em 2013. Durante a realização da Operação Bidone, a Polícia Federal apreende no interior um caminhão carregado de palmito, que trazia escondido 697 kg de cocaína. A investigação recai na equipe montada por Ivan Romano, sediada em Curitiba e composta também por Beatriz, Júlio e Ítalo. As conexões do tráfico os levam ao doleiro Alberto Youssef e, posteriormente, ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que revela uma imensa estrutura envolvendo construtoras e o governo, de forma a desviar dinheiro público. À medida que a investigação avança, o grupo liderado por Ivan se aproxima cada vez mais de alguns dos políticos mais influentes do país.

Não podemos desprezar o trabalho imenso de pesquisa da equipe de roteiro, e claro do diretor Marcelo Antunez, pois certamente a corrupção nacional tem tanto material que pra orquestrar bem toda a situação e ver o que funcionaria bem como ficção, o que poderia ser aumentado, diminuído, destacado, e por aí vai demandou muitas horas de decoupagem e ainda assim é fácil notar que o roteiro final ficou por volta de 2h20 de duração, e que com as filmagens o diretor acabou entregando algo muito maior para a edição final se virar. Com isso, até vemos um trabalho minucioso de cena dele, procurando mostrar bem as locações arrumadas, os diversos aparatos utilizados, figuração na medida certa e um estilo "policial" (é claro!!) na forma de conduzir a trama toda. Porém como bem sabemos, filmes acima de duas horas costumam matar 1 sessão de cada cinema, ou seja, uma sala a menos por dia, diminuindo sete sessões por semana, ou seja novamente, bilheteria menor, e o que fazer?? Entregar na mão de um editor e ser feliz com o resultado (ou não!), e aí é que entra o maior problema do longa, pois tudo parece acontecer em dias, ao invés de semanas e ano como demonstra as datas no rodapé do longa, acelerando tantos momentos, cortando outros (que são citados e parecem nem ter aparecido), e com alguns erros de roteiro até aparecendo, e aí que volto a frisar que como série de 3 a 4 capítulos, cada um de 40 a 50 minutos, ficaria perfeito, envolvente e na medida, ao invés de entregar algo de 110 minutos que parece estar errado. Claro que volto a dizer, quem for cego e sedento de vingança política não irá ver o filme, nem defeitos, nem nada, só irá na sessão gritar "Fora PT - filme perfeito, maravilhoso, etc" ou "Viva PT - farsa ambulante, piada de filme", e sendo assim as opiniões na saída da sala foram bem essas, parecendo que nem assistiram um filme realmente, o que me decepcionou um pouco quanto a ver isso, pois volto a pontuar, fomos ao cinema para ver uma ficção e não um documentário sobre a Lava-Jato, o que aí sim poderia caber inúmeras opiniões politizadas. Apenas um adento de parabéns ao diretor foi para colocar diversas frases de não estamos atacando nenhum partido, e colocar até o delegado Júlio falando que fez campanha, ou seja, tentou ser menos partidário possível.

No conceito das interpretações, vimos boas interpretações, com nuances corretas e bem colocadas (algumas até empolgadas demais, outras desleixadas) e com isso o resultado mostra que temos sim bons atores para fazer longas policiais, mas talvez com algo mais elaborado para cinema e menos televisivo. O destaque positivo fica a cargo de Antonio Calloni com seu Ivan bem determinado, colocando o olhar à frente das palavras e conduzindo de maneira coesa os atos de seu personagem, agradando bastante no que fez. Flávia Alessandra com sua Beatriz, aparentemente foi a personagem que teve mais cortes na edição final, tendo até bons momentos, mas afobada demais com seus atos. O mesmo podemos dizer (sobre afobação) para o personagem Júlio, interpretado por Bruce Gomlevsky, pois até foi possível colocar um pouco de sua história pessoal, tendo uma quebra novelesca com doenças familiares, no meio de um filme policial, que certamente poderiam ter tirado para que outros momentos funcionassem melhor, mas mostrou que o ator tem um bom tino dramático para agradar em outros filmes. Do lado dos "vilões", Roberto Birindelli fez um Youssef divertido, fanfarrão e disposto a criar piada até mesmo com sua prisão, soando leve para o papel e agradando sem se preocupar com o que estava fazendo, o que divergiu do destaque mais negativo que ficou a cargo de Ary Fontoura, que demonstrou facilmente sua decepção ao estar interpretando o ex-presidente Lula, de modo que era notável seus olhares jogados, desespero para acabar de gravar cada cena rapidamente, e entregando um resultado no mínimo lastimável de ver, ou seja, sabemos que ele é um ótimo ator, e poderia ter relevado isso para fazer um papel ao menos decente. Quanto os demais, todos variaram fazendo de suas cenas ao menos importantes para o filme, resultando em algo convincente ao menos (claro que tirando as mulheres dos "vilões" que foram extremamente artificiais).

O visual do filme ficou bem condizente com a proposta, tendo carros grandes (como são os da PF) fazendo grandes aparições (seja no momento da coercitiva, ou no começo numa perseguição frenética de um caminhão), escritórios com computadores de primeira linha, mansões imensas para os protagonistas (afinal com o tanto que roubaram, tinham de ter casas imensas mesmo!), e retrataram também bem o visual da cadeia da PF em uma das cenas mais cômicas (e que foi real!) dos advogados tentando levar mordomias caríssimas para seus clientes lá. Ou seja, ousaram de modo bem sutil para que tudo fosse bem colocado e usado, sem estourar o orçamento bem baixo de R$4,6 milhões (que aliás não foi divulgado de onde veio, afinal a equipe poderia receber futuras sanções). A fotografia usou muitos tons escuros, afinal não estamos falando de um filme que precisasse ser colorido, e com isso alguns momentos até o ponto cômico do momento ficou com um ar de tensão dos protagonistas, e assim sendo poderiam ter acelerado mais alguns momentos para que os tons funcionassem mais.

Enfim, é um filme que foi até bem feito, mas infelizmente teve tantos defeitos técnicos que para quem for realmente analisar ele como filme irá acabar se decepcionando. Como disse funcionaria mais como série por ter muitos momentos omitidos e também para poder ser instigado mais, e assim sendo só recomendo ele como filme para quem não assistiu nem leu nenhum jornal nos últimos 4 anos, senão praticamente você verá apenas coisas que já viu de uma forma ficcional acelerada. Peço também que quem for conferir não arrume brigas políticas nas sessões, pois já ouvi de um amigo que algumas salas viraram púlpitos políticos com pessoas gritando "Fora Temer", "Viva Moro", entre outros piores, e o cinema não é lugar para isso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, encerrando essa semana cinematográfica, e volto na próxima quinta, então abraços e até breve.

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2:22 - Encontro Marcado (2:22)

9/09/2017 03:16:00 AM |

Sempre achei interessante o fato de coincidências, repetições, numerologia, e com isso gosto de observar quando alguns números ou fatos acontecem mais que uma vez em nossa vida, seja num determinado momento ou algo do tipo, mas sequer havia pensado na possibilidade que o longa "2:22 - Encontro Marcado" acabou levando para o seu desfecho, e digo isso não apenas por mim, mas certamente quem conferir o trailer, irá ao cinema pensando uma coisa, depois irá conferir o início morninho, romantizado com canções gostosinhas, e irá chegar a outra conclusão, na sequência pelos fatos que ocorrem acabará interpretando e achando ser uma outra coisa, e ao ter a revelação final da conclusão do protagonista, e por consequência o desfecho do longa, verá algo mais diferente ainda (e talvez até se decepcione com a forma encontrada!). Ou seja, não sei se o roteiro final chegou nas mãos do diretor da forma que nos entregou, ou se acabaram mexendo tanto no desenvolvimento e na edição que o resultado acabou assim, pois ficou aparentando uma leve confusão do que desejavam realmente (ou do que desejávamos ver realmente!), mas que no geral acaba soando agradável e bacana de conferir, embora saísse das possibilidades que poderíamos acreditar.

O longa nos mostra que Dylan Branson é um homem que tem a sua vida permanentemente mudada quando uma série de eventos se repete exatamente no mesmo horário todos os dias, às 2:22 da tarde. Quando Dylan se apaixona por Sarah, uma jovem mulher que tem sua vida ameaçada pelos eventos ocorridos, ele deve resolver o mistério que o cerca para preservar o amor que a vida lhe ofereceu como uma segunda chance.

Escrevi o primeiro parágrafo antes de abrir a ficha completa do filme, e ao descobrir que o diretor Paul Currie é bem mais produtor do que diretor realmente, fica fácil entender a bagunça na história, pois filmes de produtores geralmente vão alongando a história, colocando mais elementos, e logo se veem enrolados em tudo o que foi criado não arrumando muito para onde atacar e conseguir fechar. Desse modo, a ideia aqui embora tenha conseguido ter um sentido, passa por tantos outros vértices, que certamente ele nem sabia qual seria a melhor ideia de fechamento. Claro que tudo funcionou muito bem, mas toda a cientologia, os esquemas e a enrolação do miolo para chegar aonde ele queria foi algo muito além. E digo mais, essa mesma trama nas mãos de alguém mais impactante ficaria digna de prêmios, pois ao invés de uma confusão linear, talvez teríamos algo até abstrato em questões de idas e vindas, mas o filme teria um fluxo coeso ao menos. Volto a frisar, a ideia final faz todo sentido, mas poderia ser menos exagerada, e repetida para agradar mais.

Sobre as atuações, podemos dizer que fizeram bem feito praticamente tudo, menos envolver química no trio protagonista, de modo que é mais fácil falar eu te amo para uma porta e ela corresponder do que sentir amor realmente por algo que os protagonistas demonstram. E esse certamente é o maior erro de um romance. Não digo que o começo não agrade, e até aparente engrenar (mesmo que seja um romance instantâneo e falso de acreditar), mas depois com o desenrolar da trama chega a ser difícil até suportar as obsessões. Teresa Palmer como sempre é precisa nos olhares e transmite uma boa segurança para sua Sarah, porém faltou paixão mesmo na maioria dos seus momentos, tudo bem que acontecer isso em dois ou três encontros é algo difícil, mas com a ideia completa da trama, poderia ser muito melhor o miolo se ela fosse a fundo nisso. O mesmo podemos dizer de Michiel Huisman com seu Dylan, mas ao menos o ator teve mais trabalho em cena, pois sendo o protagonista (e quase um Sherlock Holmes), passou a trama toda desenvolvendo suas teorias, fazendo interpretações de anotações e com isso ao menos criou uma dinâmica para seu personagem, porém faltou carisma para tirar suspiros das garotas. E para finalizar, poderia jurar pela primeira cena de Sam Reid que ele era de outro time com seu Jonas, pois chegou em cena de uma maneira muito descontraída para o papel que lhe foi entregue, mas com o final da trama, mudou completamente o estilo e ficou bem colocado para a determinação final de seu personagem, e embora apareça pouco conseguiu chamar atenção. Dos demais, a maioria fez pequenas pontas, mas o trio secundário poderia ter uma participação maior (caso a revelação acontecesse antes) que ao menos demonstraram maior conexão e envolvimento que os protagonistas.

O visual da trama até foi bem trabalhado, com locações até grandiosas (a Central de trens chega a ser gigantesca para padrões de filmes desse estilo) ousando na quantidade de figurantes diferentes, bons elementos cênicos para destacar cada ato e momento do protagonista, e muita coisa escrita também virando referencial na trama (acho que se tivessem feito igual ocorre em muitos filmes com coisas escritas, colocando nas línguas onde se lançam ficaria bem bacana!) como cenografia, e sendo assim a trama até funciona bem dentro do contexto aonde tudo se passa, mostrando que a equipe de arte até estava preocupada com um resultado maior. No conceito fotográfico, inicialmente até parecia que estávamos mais dentro de um romance leve, gostoso, com cores neutras, um balé aéreo que chega a flutuar na mente das pessoas, tons bem colocados (mesmo com a loucura dos voos dos aviões!), porém ao adentrar no drama/tensão acabou misturando tanto os tons que ficamos pensando aonde queriam chegar. Outro detalhe ficou a cargo do excesso de efeitos especiais, com toda hora o boom aparecendo, as misturas de constelações, cheio de purpurina na tela, algo que nem se faz mais, ou seja, ficando estranho de ver.

Um grande ponto positivo do longa ficou a cargo da trilha sonora, pois temos desde músicas calmas, até algumas mais envolventes, que ditaram o ritmo da trama, e claro que não ia deixar de pôr o link para todos ouvirem, afinal, alguns filmes funcionam mais pela escolha sonora do que pela montagem do roteiro em si.

Enfim, é um filme bagunçado, mas que agrada de certo modo, principalmente por fechar bem o que começou, mesmo que no miolo como já falei tenha se perdido um pouco. Ou seja, se você gosta de romances leves que misturem um pouco de tudo e que apesar do desenrolar confuso acaba acertando e convencendo, talvez esse seja uma boa escolha para o final de semana, mas com toda certeza poderia melhorar e muito em tudo para agradar bem mais. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com a última estreia que apareceu por aqui, então abraços e até logo mais.

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Lino - Uma Aventura de Sete Vidas

9/07/2017 10:30:00 PM |

Chega a ser engraçado que muitos na sala sequer sabiam que "Lino - Uma Aventura de Sete Vidas" era uma animação brasileira, e ao aparecer a logo da Ancine, e de outros símbolos do cinema nacional se escutava algumas pessoas comentando: "mas é brasileiro esse?". A resposta é sim, o Brasil também anda melhorando a qualidade de suas produções infantis, da mesma forma que tem melhorado nos dramas, ações e tudo mais, criando realmente um cinema de gênero no país (afinal não dizemos vou ali assistir um drama americano, mas apenas drama, então quem sabe logo mais falaremos vamos ver uma animação só, independente do país que foi produzida). Dito isso, o resultado da produção é bem bacana e consegue se desenvolver de forma interessante, com um design muito bem desenhado, cheio de elementos visuais agradáveis de ver, mas que para funcionar perfeitamente faltou apenas um detalhe: o diretor decidir para qual idade ele desejava que seu filme fosse feito, pois temos momentos infantis demais misturados com outros mais agitados e com isso temos algo que oscila demais de forma que acaba não empolgando tanto. Porém a diversão geral acaba compensando junto com o bom visual e assim sendo Lino funciona por dar boas lições e ainda proporcionar bons momentos, mesmo que pudesse ter economizado em algumas cenas desnecessárias e alguns personagens bobos demais.

A sinopse nos conta que Lino é um animador de festas muito azarado que não aguenta mais seu emprego, pois precisa vestir todos os dias uma horrorosa fantasia de um gato gigante e aguentar sempre a mesma rotina de maus tratos das crianças. Cansado de tudo e tentando se livrar da falta de sorte que o persegue, Lino resolve buscar a ajuda de Don Leon, um suposto “mago” não muito talentoso, que o transforma justamente no que ele mais queria se livrar: sua própria fantasia! Em sua jornada para reverter o feitiço, Lino será confundido com o “maníaco da fantasia” e passa a ser procurado pela polícia, dando início a uma grande aventura.

Não lembro de ter assistido ao filme anterior do diretor Rafael Ribas, "O Grilo Feliz e Os Insetos Gigantes", mas por ter lido um pouco sobre ele, e visto algumas imagens, já de cara vi que a equipe de arte (e o diretor claro) manteve a essência (colocando inclusive o personagem Grilo Feliz na lancheira de Lino criança!! Mostrando que a galera está aprendendo bem com os easter-eggs da Pixar). Sendo assim, com essas boas referências, o diretor se mostrou esperto e ousado em mostrar muita qualidade em texturas dentro de sua nova história, pois como disse faltou um pouco de dinâmica na trama para segurar as crianças mais grandinhas na poltrona, e assim ele forçou o visual colorido para agradar as menores e funcionar a animação completa. Ou seja, é um filme bem desenvolvido, mas que alçou pouco no voo que poderia ser muito maior.

Sobre os personagens, o protagonista Lino é bem simpático e com toda certeza deve fazer com que a criançada não tire os olhos dele, afinal muitas cores vibrantes e uma personalidade bem divertida fizeram até um grande favor de abafar um pouco a voz de Selton Mello, pois sabemos que ele é um bom intérprete, já fez ótimas dublagens, mas seu tom de voz parecia meio desanimado para a energia do personagem, nada que vá atrapalhar o andamento do filme para o pessoal, mas alguém mais dinâmico e divertido agradaria mais. Janine foi bem colocada e é daquelas personagens que merecia um desenvolvimento melhor (talvez sem os policiais idiotas Osmar e Mellos junto dela), e Dira Paes como sempre se saiu muito bem no tom da interpretação de sua dublagem, e se não fosse pelo trailer mostrar que é ela demoraria muito para saber quem fazia o papel (e isso é o certo numa dublagem, né Selton!). A garotinha fofa Pestinha/Juliana ficou muito bacana visualmente, e talvez algumas desventuras da personagem a mais do que já teve ajudaria o desenvolvimento da trama (meio que como "Ninguém Segura Esse Bebê"). O mago Don Leon foi bem dublado por Luiz Carlos de Moraes, e o personagem até agrada, mas é exagerado demais suas insanidades, e isso poderia ser menos forçado. Victor e Patty até foram bem colocados na trama, mas também forçam um pouco a barra, e isso destoa um pouco de onde o filme poderia atingir, mas nada atrapalhou a ponto de estragar o filme, e isso se valeu pelas boas vozes de Guilherme Lopes e Paolla Oliveira. Já falei que era desnecessário todos os policiais sem ser a Janine? Se não falei, falo novamente, pois se a ideia era criar um tino cômico, ficou algo que beirou o ridículo e não fez ninguém rir, ou seja, dispensável, desde o chefe de polícia até os dois idiotas.

Como já disse o grande feito do longa foi no desenvolvimento cênico, com boas texturas e muitas cores, de modo que podemos dizer que a equipe de arte trabalhou duro para entregar diversos objetos (destaque para o escritório do mago, cheio de objetos para vermos e analisarmos, de modo que um jogo de caça a objetos ali seria genial!!). Ou seja, foi um trabalho impecável no conceito artístico, que se tivessem trabalhado um pouco mais o roteiro seria formidável.

Enfim, é uma animação bem-feita e que consegue agradar na medida quem for disposto a se divertir, tiveram muitos pequenos problemas como disse acima, mas ficou acima da média para algo "novo" na nossa alta produção audiovisual, ou seja, vai agradar os pequeninos e divertir um pouco os pais que forem levar, mas certamente poderia ser bem melhor. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até breve.

PS: Não conferi o longa em 3D, mas aparentemente tiveram poucas cenas para funcionar algum efeito maior, coisa que é possível de notar, então quem conferir com a tecnologia e quiser falar nos comentários se teve bastante coisa, será sempre bem-vindo.

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It: A Coisa (It)

9/06/2017 03:10:00 AM |

Não digo que o filme "It: A Coisa" seja o longa mais aterrorizador que já vi, mas possui tantos elementos bons em sua composição, criando tensão, bons alívios cômicos para respiradas, naturalidade nas cenas com as crianças, uma fotografia impecável em meio à cenografias perfeitas de época, e uma história tão bem adaptada, que certamente iremos lembrar muito do resultado desse filme (e digo mais, são raras as obras que superam um clássico, e acredito sim na superação dessa obra à de 1990, mesmo lembrando pouquíssimo dela). E sendo assim, podemos dizer que o hall de bons filmes desse ano já tem mais um exemplar, afinal com tantos bons fatores (e elogios que temos de tecer à cada um deles!), é inegável que a obra conseguiu seu maior tiro certeiro, que é fazer com que o público se desespere ansiosamente pela continuação que nem começaram a filmar. Ou seja, um filmaço que certamente muitos não vão ficar com medo após conferir, pois somente se você tiver medo de algo que o palhaço se transforma no longa (afinal ele é um catalisador de medos, se transformando no seu pior pesadelo para se alimentar disso), talvez acabará se conectando e ficará assustado com algo, mas senão o resultado mais frequente é apenas alguns momentos de tensão, pois os atores fizeram expressões perfeitas para todos os momentos, e aí sim é que o longa funciona muito bem.

O longa nos mostra que quando crianças começam a desaparecer misteriosamente na pequena cidade de Derry, no estado de Maine, um grupo de jovens é obrigado a enfrentar seus maiores medos ao desafiar um palhaço maligno chamado Pennywise, que há séculos deixa um rastro de morte e violência.

Com poucos trabalhos em seu currículo, mas agora contando dois longas de terror perfeitos, "Mama"(2013) e "It"(2017), o diretor Andy Muschietti pode certamente entrar para nossa cadernetinha de diretores que precisamos prestar atenção no que faz, pois já disse algumas vezes que adaptar um livro é algo que ou dá muito certo ou vira algo que 99% das pessoas irá reclamar, e a obra de Stephen King ultimamente só tem levado bordoada, deixando claro para alguns que não deveriam mais remexer em seus livros, e o que vimos agora foi algo que sobressaiu completamente qualquer expectativa que tivéssemos sobre o filme criando um âmbito de tempo tão bem colocado, com personagens bem desenvolvidos e interpretados, tensões certeiras sem precisar ficar criando sustos gratuitos (embora exista muitas cenas que nos pegam desprevenidos, mas que funcionam para o contexto do longa), e principalmente analisando a sua direção: ângulos perfeitamente escolhidos para que a história fluísse sozinha, pois poderíamos ter visto um longa bem mais simples e que assustaria, mas aqui ele optou por contar uma história e causar o medo exatamente onde deveria causar, que é nos personagens, e assim sendo sentimos o medo dos protagonistas, vemos suas angústias, e acabamos torcendo por eles, de modo que sem um olhar preciso de um bom diretor, quem ficaria com medo pulando da poltrona seria nós, e o filme apenas seria mais um batido. Ou seja, com uma direção brilhante e bem ousada digamos por não entregar tudo de uma vez, não querendo nos contar quem (ou o que) foi o palhaço no passado (apesar que isso não é algo importante para o momento), não necessitando explicações para cada ato, e ainda assim não deixar o público na mão, o resultado do trabalho do diretor, e claro, do trio de roteiristas Chase Palmer, Cary Fukunaga e Gary Dauberman, é algo expressivo, e que vamos ainda ouvir grandes discussões, pois foi perfeito.

No conceito das interpretações temos de pontuar antes de mais nada os bons momentos bem expressivos que Bill Skarsgård conseguiu fazer com seu Pennywise, pois enquanto muitos esperavam ver um ator mais completo e experiente, ao optar por um jovem de 27 anos apenas, a loucura e disposição que acabou fazendo foi algo muito bem trabalhado e que vamos talvez lembrar em alguns dias nos nossos sonhos, mesmo não sendo algo que assuste realmente (menos quem tem medo de palhaços, claro!). Agora sem dúvida alguma o elenco infantil é daqueles que você fica com muita vontade de aplaudir no final (e claro que exatamente na cena final!), portanto vamos guardar o nome de cada um para lembrar de ver se vão despontar mais para frente, só achei meio ruim a tradução de "losers" para o grupo ficando otários ao invés de perdedores como é mais comum de ver. Já havia elogiado a atuação de Jaeden Lieberher em "Um Santo Vizinho", e aqui o garotinho deu uma personalidade tão bem colocada para seu Bill, com uma gagueira interessante e bem pontuada, funcionando exatamente como nós gagos sabemos bem como é, que ao desenrolar da trama só vamos nos conectando mais na sua saga, ou seja, o garoto é completo. Jeremy Ray Taylor já fez algumas pontas, mas agora após ser o fofo gordinho que sofre à beça no filme, mas que ficamos apaixonados por tudo o que faz com seu Ben, certamente vai conseguir ótimos papeis, pois mostrou muita dinâmica, e principalmente vontade de fazer tudo acontecer. Sophia Lillis nos entregou uma Beverly única, com medos/nojos fortíssimos que sabemos ser o de toda garota, e que com olhares bem aéreos acabou dando uma linha tênue para sua personagem, e mesmo que soubéssemos seu final, torcíamos para outro. Chosen Jacobs merecia ter mais dinâmica/falas/momentos com seu Mike, pois seu medo até acaba virando sua força, mas o garoto possui uma expressão tão forte que talvez pudesse até chamar mais atenção. Finn Wolfhard e Jack Dylan Grazer com seus Richie e Eddie, apenas ficamos bravos com um se achando o garoto sexual apelativo e o outro como hipocondríaco de nível altíssimo que acabam até tendo bons momentos, mas que no fundo desejamos que ficassem calados, mas acertam nas expressões de seus personagens, e isso é o que importa. Talvez o mais fraco de expressão e que poderiam ter escolhido melhor foi Wyatt Oleff como o judeu Stanley, que até tem alguns medos bem sinistros para o filme, mas o jovem ficou muito apático na maior parte do longa. Dentre os demais adultos/jovens, todos se encaixaram bem, e chega a ser até estranho as diversas atitudes dos adultos, e isso talvez no livro seja melhor explicado, embora dê para subentender, e não vale muito destacar atores, pois a personalidade de cada um que vale a pena, como o pai da garotinha com seu teor, que foi bem feito por Stephen Bogaert, o jovem adolescente mala que atormenta todos na escola, mas que vemos depois sua cena perfeita de medo/reação muito bem encaixado por Nicholas Hamilton, e por aí vai, mas como falei no começo, será um filme para se discutir muito, e o texto já está ficando grande demais.

Chega a ser impressionante todo o trabalho cênico que a equipe de arte montou, pesquisando ao extremo figurinos, casas e objetos de época que marcaram o final dos anos 80, com bandas e detalhes tão bem encaixados para dar o teor da trama que ficamos perplexos sem saber para onde olhar e enxergar novos detalhes em cena, juntando tudo isso, temos todos as sínteses clássicas de um bom terror, como sangue para todo lado, coisas nojentas esparramadas pelos personagens, e claro um palhaço e demais personagens assustadores bem caracterizados para chamar atenção, de modo que cada ato em cena é algo que valeria ser estudado a parte para falar em detalhes o que demonstrou e o que sintetizou para causar o medo nos protagonistas e passar as sensações para o público, ou seja, perfeição em nível máximo. A fotografia da trama é outro daqueles momentos que ficamos impressionados, pois geralmente longas de terror/suspense apelam para cenas bem escuras que não vemos sequer um detalhe, e aqui tudo está em evidência, e mesmo no escuro, cada detalhe é mostrado e realçado com luzes contrárias (algumas claro bem falsas) para que o filme tenha um preenchimento visceral interessante e cause como disse acima o medo nos protagonistas, e o público consiga enxergar isso, não ficando subentendido nada, ou seja, algo que poucos conseguem fazer, de modo que vemos tons até bem coloridos em diversos momentos (coisa que é rara de ver em longas do gênero) funcionando com exatidão. Outro grande acerto da trama ficou para com os efeitos especiais, que sem muita computação gráfica (ou até nos momentos que teve um leve excesso) acabou acertando em cheio para causar o susto no público e/ou causar o medo nos protagonistas, tendo movimentos acelerados, coisas voando, luzes acendendo em tons diversos, e tudo mais que pudessem usar e ousar.

Enfim, é um filme perfeito que até pensei em tirar um ponto por alguns detalhes que citei acima de um ou outro personagem, uma ou outra coisa falsa, mas não tem jeito, vai ser nota máxima para o longa, pois conseguiu causar tensão em alguns momentos de suar as mãos, teve momentos bem divertidos e funcionais, fez com que brigássemos com os personagens por ir aonde não deveria ir, e claro funcionou como deveria funcionar: sendo um marco para o terror atual. Ou seja, se você não tem medo de palhaços vá correndo conferir o longa, pois vale muito (só veja se não entrou nenhum maluco com balões na sala para assustar a galera!!!) e certamente será um dos filmes que você irá lembrar por muito tempo. Bem é isso, fico por aqui hoje, praticamente iniciando em plena terça-feira uma nova semana cinematográfica, claro agradecendo ao pessoal da Difusora FM 91,3Mhz pela ótima pré-estreia em conjunto com o UCI Cinemas Ribeirão Preto e a Warner Pictures, em que novamente lotou a sala com ouvintes e amigos para uma sessão perfeita, e volto em breve com mais textos das outras estreias da semana, então abraços e até logo mais.

PS: Talvez um 9,6 seja a melhor nota para o filme, mas sem coelhos quebrados, vamos arredondar para cima.

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Inumanos em Imax (Marvel's Inhumans)

9/05/2017 01:12:00 AM |

Apenas para não falarem que não escrevi nada sobre "Inumanos", vamos colocar algumas linhas aqui, afinal como muitos bem sabem não sou grande fã de séries, mas talvez com essa nova sacada da Marvel, de lançar suas séries nos cinemas, este que vos digita (que praticamente mora nos cinemas) vai acabar vendo e ficando curioso para ao menos tentar ver a primeira temporada inteira após conferir os 2 primeiros episódios na telona. Digo isso, pois filmado com câmeras Imax, a produção acabou ficando com imagens tão incríveis que mesmo com algumas falhas não conseguimos parar de olhar para elas (as primeiras cenas na floresta é algo que não vemos em filmes comuns de tão bem enquadradas aproveitando cada espaço, cada sensação, e por aí vai). Não sei se a série vai empolgar muito a galera, pois como apenas nos foi mostrado os dois primeiros episódios da primeira temporada da série, vimos muitas apresentações e poucas lutas (embora na principal luta conseguimos ter na sala a galera até gritando torcendo para o personagem principal, ou seja, acho que teremos resultado!!), e assim sendo sobrou espaço para que o pessoal criticasse bastante alguns efeitos visuais (principalmente nos poderes e figurinos).

O filme nos mostra que uma voz que pode destruir cidades, cabelos que são mortais e pés que causam terremotos. Estes são alguns dos poderes dos Inumanos, um grupo de seres raros e poderosos, que apesar da ascendência de humanos comuns, foram modificados após sucessivos testes realizados por uma raça de alienígenas conhecida como Kree. Organizados por um sistema de castas, eles são liderados pela Família Real, que fará de tudo para manter a ordem na sociedade.

Diferente do que costumo falar sobre a direção e roteiro, como só vi duas partes de um total de dez, e sei que cada um será dirigido por uma pessoa diferente, vou preferir falar sobre a produção em si (que é a parte que mais gosto em um filme!!), e aqui a grande sacada foi escolher locações imensas no Havaí, com uma composição cênica incrível de florestas, praias e cidades bagunçadas prontas para uma guerra iminente (ao menos é o que mostrou no trailer no final da sessão). Porém se tenho de pontuar algo estranho, certamente ficou a cargo do figurino (mais ainda da Medusa, que aquele vestido marcando todas as dobras certamente ficou fora demais), agora embora alguns não tenham gostado dos movimentos do cabelo da protagonista, achei interessante de ver, e talvez poderia dar certo mais pra frente. Outros efeitos soaram estranhos, mas o cachorro Dentinho (diminutivo prum cachorro de quase 2 metros é quase uma piada né?) ficou fofo demais, e tratem de acordar ele logo, pois merece aparecer em todos os momentos.

Dentre as atuações e personagens, temos de falar que a maioria dos atores é desconhecida do público de cinemas, pois fizeram papeis geralmente bem coadjuvantes, e assim sendo posso dizer que eu mesmo não lembro de quase ninguém, mas voltando a falar da Medusa, Serinda Swan até caiu bem para o papel, mostrando uma força séria e bem colocada, tanto que os melhores momentos finais ficaram a seu cargo, e ela não decepcionou. O personagem principal Raio Negro, interpretado por Anson Mount, espero que comece a agir logo, pois um personagem que não fala (pois pode matar tudo que tiver na frente só com um soprar mais forte) ficou fraco demais para alguém que é o rei, mas teve alguns momentos foram divertidos ao menos na Terra. O personagem de cascos de cavalo Gorgon, que Eme Ikwuakor deu uma boa personalidade, aparenta ser o tino cômico da trama por misturar seu nervosismo com sua força, e como acabou encaixando muito bem a dosagem, acredito que agrade mais para frente. Quanto dos dois vilões, Maximus e Auran, interpretados por Iwan Rheon e Sonya Balmores, conseguiram encaixar uma personalidade bem colocada para a vilania, misturando exatamente algo que pode desencadear no público a raiva por eles, de forma que na luta de Auran com Medusa, vimos a galera do cinema até conversar com a tela, torcendo por coisas fortes, e isso é mostrar que funcionaram bem na escolha, ou seja, acredito muito que vão empolgar bastante as rixas até o final da temporada.

Enfim, como disse está passando nas cidades que possuem salas Imax, os dois primeiros episódios, e serão novamente apresentados a partir do fim do mês de Setembro no Canal Sony no Brasil e na rede ABC americana, de modo que veremos se terão audiência suficiente para continuar com mais temporadas, ou morrer na praia. Posso dizer que o resultado de ver uma série na maior tela possível foi algo bem satisfatório e interessante, e recomendo com certeza, como alguns amigos disseram, talvez uma série de maior expressão como "Game of Thrones" ou "The Walking Dead" ou até mesmo "Sobrenatural" lotaria mais as salas. Portanto, vamos aguardar, e ver se consigo conferir toda a série até o final para dizer se gostei realmente do enredo, pois o que vi aqui, me agradou bastante, mesmo com muitas falhas técnicas.

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Como Nossos Pais

9/04/2017 12:51:00 AM |

Um filme com múltiplos sabores, essa certamente é a melhor forma de descrever "Como Nossos Pais", pois temos ao mesmo tempo uma doçura de interações familiares e descobertas, aonde vemos muito do que estamos acostumados sendo retratados na telona, mas ao mesmo tempo que isso funciona, também sentimos o amargor do ponto de crítica que a diretora quis colocar, e por mais incrível que possa parecer, essa mistura acaba funcionando como um olhar tão bem colocado por parte da diretora, que rimos, conversamos com o filme e até nos emocionamos com tudo o que é mostrado, de modo que em momento algum ela recai para algo novelesco (e olha que isso facilmente poderia acontecer!) transformando sua obra em algo bem amplo e completamente dentro do tempo que estamos vivendo atualmente. Ou seja, um filme singelo, com pontos críticos e gostoso de conferir do começo ao fim, passando em um ritmo tão bom que nem sentimos a duração da trama.

A sinopse nos conta que Rosa é uma mulher que quer ser perfeita em todas suas obrigações: como profissional, mãe, filha, esposa e amante. Quanto mais tenta acertar, mais tem a sensação de estar errando. Filha de intelectuais dos anos 70 e mãe de duas meninas pré-adolescentes, ela se vê pressionada pelas duas gerações que exigem que ela seja engajada, moderna e onipresente, uma supermulher sem falhas nem vontades próprias. Rosa vê-se submergindo em culpa e fracassos, até que em um almoço de domingo, recebe uma notícia bombástica de sua mãe. A partir desse episódio, Rosa inicia uma redescoberta de si mesma.

Aguardamos sete anos até a diretora Laís Bodanzky nos presentear com mais uma grande obra sua, e digo dessa forma por simplesmente ter amado tudo o que foi entregue por ela aqui, afinal vemos um filme interessante, com uma dinâmica incrível e que consegue passar uma mensagem ousada da melhor maneira que se possa fazer, sem necessidades de apelos dramáticos, nem de incoerências de personalidades, apenas retratando o mundo real com pontos de viradas fortes e bem colocados, ou seja, um filme que contém uma ideologia tão tradicional que certamente poderíamos ver em alguém de nossas famílias, mas pontuado com um olhar próprio e coerente de sintonia e que impressiona pela boa direção e vontade dos protagonistas em entregar algo bonito e sensível, mas que criticasse tudo o que desejavam criticar, desde falta de auxílio por parte dos maridos, passando por brigas familiares e traições, e chegando até política e feminismo versus machismo, ou seja, algo completo de identidade. Dito isso, a trama floreia bem com cada situação e de maneira bem correta acaba fluindo como cinema realmente, pois com essa história sem uma direção eficiente, facilmente poderia virar ou um filme cotidiano sem muito volume ou algo novelesco demais, e felizmente isso não ocorreu em momento algum, o que faz valer todas as apostas que fazem sempre na diretora, pois ela sabe como conduzir bem uma trama.

Sobre as atuações, teríamos que quase que criar um parágrafo a parte para toda expressividade de Maria Ribeiro com sua Rosa, de modo que a atriz não só colocou toda sua interpretação no papel, como criou estilos, dosou caras e bocas e trabalhou completamente a dinâmica da personagem para si, fazendo com que não conseguíssemos sequer tirar os olhos dela a cada momento seu, fazendo nuances a cada virada de câmera, ou seja, não sei se o papel foi escrito para ela, mas certamente vai fazer com que ela seja lembrada sempre por ele. Outra excelente atriz que acabou saindo muito bem na produção foi Clarice Abujamra que deu um tom bem pesado para sua personagem e por pouco não forçou a barra, mas acertou o tom e o resultado foi bem colocado. Dos demais, a maioria foi participativa, e Paulinho Vilhena com seu Dado foi meio apático, mas agradável na medida do possível, Jorge Mautner trabalhou seu Homero de uma maneira bem poética e interessante, embora forçada demais, e até mesmo a participação de Herson Capri como um Ministro da Casa Civil muito acessível ficou jogada demais, de modo que só podemos valorizar um pouco a equipe secundária por parte de Felipe Rocha como Pedro, pelo estilo que trabalhou de forma interessante com a protagonista, mas que contrastou bem na cena da reunião de pais, ou seja, um filme que ficou muito dependente das protagonistas. Quanto das crianças, todas foram muito bem e soaram realmente como crianças, pois temos alguns filmes que algumas parecem ter outra idade em cena.

Dentro do conceito visual, o longa não explorou muita criatividade, focando até mesmo na simplicidade da família, colocando um apartamento, uma casa cheia de plantas, muitos livros e alguns outros lugares espalhados para dar o contexto completo da trama, de modo que ficasse bem dentro de uma realidade sem muitos enfeites de cena, ou seja, um filme mais cru do que algo que exigisse apelos visuais, e isso de certa forma é um acerto, mas poderiam ter trabalhado um pouco mais nos elementos, como fizeram nas últimas cenas, aonde o tênis foi importante, o piano foi importante, e por aí vai. A fotografia mesmo nas cenas mais densas ousou trabalhar com muita luz, criando um aspecto mais forte de instrumentos dialogados do que algo que fosse medido em tons, e isso só funciona bem quando se tem uma boa atriz, e aqui felizmente aconteceu isso dando certo, pois poderia ter dado muito errado.

Enfim, é um filme muito bonito, muito inteligente e que consegue agradar pela simplicidade cênica bem dirigida e pela excelente atuação da protagonista. Não digo que seja o melhor filme para representar o Brasil numa eventual campanha pelo Oscar como muitos andam dizendo, mas certamente é algo que vale a pena ser visto para que muitos pensem sobre o tema central: verdades. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com um texto diferente, afinal vou falar de uma série que está iniciando seus trabalhos no cinema, então abraços e até breve.

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Os Guardiões (The Guardians) (Zashchitniki)

9/03/2017 03:28:00 AM |

É interessante como estamos pouco acostumados com produções russas, pois geralmente estranhamos muito o que nos é mostrado, e se observarmos a fundo, veremos que conhecemos muito de tudo, pois copiam muito o que sai nos EUA, imprimindo sua loucura tradicional a base de muita vodka, ou seja, filmes completamente insanos que até podem empolgar com um visual completamente maluco, mas que geralmente não entregam grandes histórias, e principalmente falham em excessos. Sendo assim, pra uma semana que começou com um filme russo na TV ("Voo de Emergência" - não escrevi sobre ele, mas embora maluco acabou segurando a tensão e agradando até o fim) ver algo que está super na moda, que é super-heróis no modo russo foi algo que até imaginaria que não teria como dar certo, e posso dizer que embora a proposta de "Os Guardiões" até seja boa, com cortes ridículos e efeitos bizarros, o resultado final acaba soando tão ruim que não conseguimos desejar que venha a continuação como o final acabou sugerindo, ou seja, mesmo que você seja um super amante de longas de heróis, fuja dessa roubada completa.

A sinopse do filme nos conta que em plena Guerra Fria, uma organização secreta chamada "Patriota" recrutou um grupo de super-heróis russos, modificando o DNA de quatro indivíduos, com o objetivo de defender o país de ameaças sobrenaturais. Arsus, Khan, Ler e Xenia representam os diferentes povos que compõem a União Soviética, e mantêm suas identidades bem guardadas para, também, não expor aqueles que têm a missão de proteger.

Nunca consegui imaginar o que passa na cabeça dos russos, pois se assistirmos diversos vídeos deles pela internet, veremos muitas coisas bizarras, mas sempre de proporções gigantescas, então não seria diferente se aparecesse uma produção espetacular com a proposta de um longa de super-heróis, e aqui o que o diretor e roteirista Sarik Andreasyan acabou fazendo foi trabalhar um orçamento imenso, com muitas explosões, e ambientes abertos de tamanhos inimagináveis em produções singelas, fazendo com que os personagens pudessem ter até algo a mais para ser explorado. Porém estamos falando de algo russo, e não é isso o que é entregue, pois acabam fazendo associações tão bizarras que não conseguimos entender aonde desejam chegar. Ou seja, a produção em si se caísse na mão de um diretor sensato acabaria corrigindo praticamente todos os defeitos e resultaria em algo impressionante, mas aqui não vemos algo que desejamos rever ou sequer pensar no que poderiam ter mostrado, de modo que tudo flui, mas aí entra uma pessoa e destrói qualquer possibilidade de ser entendido com a edição mais maluca possível, de modo que estamos vendo algo, é cortado, acontece milhões de coisas, e voltamos para algo que parece que perdemos mais algo, pois já resolveram aquele problema, ou seja, temos a sensação de que dormimos e acordamos em uma parte mais adiantada da história, e na sequência isso ocorre novamente, mas mais adiante, voltamos com algo que ainda não aconteceu, bagunçando ainda mais a história, quando alguém vem e fala tudo novamente num looping insano, fazendo com que além de maluca a história se torne uma bagunça completa e mal dirigida.

Sobre os personagens, chega a ser interessante ver todas as habilidades de cada personagem, mas são tão rapidamente inseridos, que numa comparação chula, imagine que ninguém conhecesse nenhum dos personagens de "Capitão América - Guerra Civil" ou até mesmo "Vingadores - Guerra Infinita", e do nada já aparecesse o maior vilão possível e tivéssemos de aprender a gostar dos mocinhos logo de cara, e é isso o que ocorre aqui, pois certamente cada um sozinho possui boas e interessantes histórias para se desenvolver, mas foram jogados em cena logo de cara para que o público vivencie isso. Dito isso, nem vou falar muito de cada ator em si, pois como bem sabemos, filmes em línguas diferentes do inglês dificilmente aparecem legendados por aqui, então não vou falar que as entonações e expressões de cada um foi correta de ver, pois mesmo sendo dublados por uma equipe bem competente de dublagem, ouvimos coisas que certamente não foram faladas. E sendo assim vamos falar apenas dos personagens, começando por Arsus que Anton Pampushnyy fez muito bem, como um belo exemplar de galã, que num filme americanizado deixaria todas as mulheres malucas, mas tem a piada comum que vemos no Hulk de que ao se transformar tem toda sua roupa destruída, e ao se destransformar já está com as mesmas roupas intactas como num passe de mágica, a diferença que na versão americana o personagem apenas ganha força e fica verde, aqui o físico vira um urso completo em diversos momentos, e em algumas partes apenas pela metade do corpo, ou seja, maluquice demais. Já Khan interpretado por Sanjar Madi, com suas espadas curvas, inicialmente mostra algo bem interessante, fatiando tudo o que vem em sua direção, porém a verba acabou na sua cena de apresentação e depois sua lâmina apenas derruba os inimigos, ou seja, algo bem estranho de se ver. Sebastien Sisak nos mostra que seu Lernik tem habilidades iniciais com pedras, mas depois assume um chicote muito sinistro que também rasga os exemplos, mas raramente acerta alguém, ou seja, falhas técnicas absurdas. Alina Lanina nos mostra que sua jovem (talvez seja bem velha, já que não envelhece, mas não falam sua idade real) Xenia tem a habilidade de ficar invisível, e com a roupa criada pelos inventores pode invisibilizar tudo ou até outras pessoas que toca, mas aparenta estar mais com medo de lutar do que qualquer coisa. A capitã da equipe, Major Elena, parece que saiu do cabeleireiro a cada cena, toda maquiada e com um perfil que não pode nem sujar sua roupa, mas Valeriya Shkirando acaba agradando pelo teor sexy que poucas vezes vemos em personagens de exército. O vilão do longa ainda deve estar se transformando em algo, pois com uma roupa completamente tecnológica que solta raios (um dos efeitos mais bizarros que já vi em todos os filmes de minha vida!) para todos os lados, e com uma musculatura monstruosa (fico pensando que tipo de modificação genética é essa para transformar um cientista velhinho em um rato de academia!!) fez com que Stanislav Shirin ficasse bem estranho com seu Kuratov. Ou seja, difícil falar bem de algo das interpretações, pois tudo é estranho demais.

Dentro do conceito visual da trama, podemos dizer que tudo foi muito grandioso, com cenários imensos, armas imensas, concepção artística de proporções épicas, mas que ao abusar de muitos efeitos, acabou ficando tudo falso demais. Claro que estamos falando de algo que dificilmente existiria realmente, mas ao menos um pouco de verossimilhança agradaria, por exemplo na cena que helicópteros e caminhões levam uma antena imensa, as cordas parecem estar até frouxas balançando, e certamente com o peso daquilo sequer algo estaria voando normalmente, além de outros erros bizarros, mas de certo modo, o filme ficou bonito de ver pelo visual cênico, e em mãos melhores, a franquia certamente teria futuro. A fotografia escura deu um certo tom dramático para a trama, mas não chega muito longe, e com isso o visual funciona mais nos momentos de ação do que nas emoções que tentam passar. E voltando a frisar nos efeitos, nem em sonho mereceríamos ver o tanto de coisa estranha na tela, mas confesso que gostaria de ver o longa em 3D para ver quais loucuras fariam.

Enfim, um filme bagunçado demais que não conseguiu sair das ideias, falhou na montagem, e finalizou com efeitos de estudantes do primeiro ano de um curso técnico bem fraco, ou seja, não funcionou em nada e vai fazer com que quem assista fique mais nervoso com a bagunça da trama do que com a vilania de destruição mundial que a história conta. Portanto quem ainda tiver coragem de conferir, vá sabendo que existe uma pequena cena no meio dos créditos (afinal estamos falando de um filme de super-heróis e isso é uma tradição do estilo!) e se prepare para reclamar realmente de tudo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, afinal nessa semana teremos textos todos os dias com a grande quantidade de estreias. Então abraços e até breve.

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Corpo Elétrico

9/02/2017 06:29:00 PM |

Cotidiano, essa pode ser a palavra que mais aproxima o estilo demonstrado pelo filme "Corpo Elétrico". E isso não é algo ruim, pois vemos tantos filmes de temática homossexual, aonde tudo soa pejorativo ou forçado, e aqui vemos uma realidade comum, aonde vemos a convivência dos protagonistas com seus colegas de fábrica e de shows, vemos suas ambições aflorarem, e claro seus relacionamentos de uma maneira bem sutil e simples, ou seja, o dia a dia deles, e já que falei que isso não é algo ruim, também não é algo tão bom de se ver num filme, pois geralmente acabamos esperando algum conflito e/ou algo que faça o público esperar por algo, e aqui apenas acompanhamos sua vida e nada mais. Portanto é um filme artístico que até funciona pela simplicidade e pela coerência dos fatos mostrados, mas poderiam ter aprofundado mais em algo (queira fosse nos preconceitos que eles sofrem, ou em qualquer outra coisa, mas saísse do óbvio).

O longa nos mostra que Elias é o jovem criador de uma fábrica de confecção roupas no centro de São Paulo. Ele mantém pouco contato com a família na Paraíba, e passa seus dias entre o trabalho e os encontros com outros homens. Enquanto reflete sobre as possibilidades de futuro, começa a ficar cada vez mais próximo dos colegas da fábrica, e vê os amigos seguirem caminhos diferentes dos seus.

Podemos dizer que o diretor Marcelo Caetano aprendeu muito nas produções que trabalhou para compor seu estilo e fazer aqui em sua primeira direção de longa algo bem eloquente, pois vemos nuances de "Tatuagem", "Boi Neon" e até de "Mãe Só Há Uma", nas perspectivas que ele nos entrega e tenta passar com sua história aqui, mas faltou a força que vimos em todos esses filmes para que o seu também atingisse em cheio um público maior. Sei que o público alvo vai ver, se emocionar e até se enxergar como o protagonista, pois sabemos que a vida dos homossexuais não é feita somente de preconceitos e coisas ruins que outros longas acabam retratando, porém ao deixar o longa singelo demais, o resultado parece não chegar em momento algum, e ao finalizar completamente aberto (ou como outra sinopse preferiu ser colocada mostrando o prisma de emoções que é o protagonista, catalisando um pouco de cada um) ele acaba parecendo algo inacabado, que veríamos mais algo depois, e não, o filme é apenas isso, o cotidiano, o dia a dia, e nada além.

Outro grande detalhe do filme foi trabalhar com novos atores do mercado, e com isso conseguir que as reações fossem as mais realistas possíveis, de modo que mesmo praticamente todos estreando na frente das câmeras, suas expressões foram bem colocadas e agradaram bastante no resultado final. Kelner Macêdo foi bem colocado como o protagonista Elias e demonstrou além de carisma um senso bem próximo do crível para com seu personagem, trabalhando cada momento os semblantes corretos e sem empregar didatismo voluntário agradou no que fez. Lucas Andrade também foi bem com seu Wellington, mas de forma mais despojada colocou alegria e disposição no filme, fazendo algo menos morno do que o protagonista, e talvez se a história ficasse mais no seu eixo seria algo mais agitado. Dentre os demais, vemos tudo bem colocado, mas sem muita aferição de deixar a responsabilidade com alguém, de modo que todos se saem bem, mas não atingem algo que valha destacar, porém temos de ser bem sinceros, também não atrapalham em nada, e principalmente acertam no tom para que o filme flua bem agradável.

No conceito visual, escolheram bem a fábrica, os apartamentos e casas para dar uma vivência cênica casual, mas que não firma muito dentro de algo amplo, pois o contexto em si se passa em São Paulo, mas certamente poderia ser em qualquer outra cidade que veríamos o mesmo ambiente, e os mesmos personagens, e isso é bacana de ver, mas talvez algo próprio chamaria mais atenção. Com uma fotografia dinâmica, o longa acabou não trabalhando muitos tons dramáticos, nem cômicos, deixando o casual funcionar, e assim o resultado acabou linear demais.

Enfim, como disse é um longa bem simples que infelizmente não atinge um âmbito maior que aparentava, talvez com um clímax maior ou algum ponto de virada conseguiria algo mais forte e assim resultaria em um filme fora do cotidiano, mas se esse era o objetivo, conseguiram fazer assim. Portanto, se você gosta de filmes com mais dinâmica, pontos de virada e que entre realmente em algo ficcional, talvez esse longa não seja o mais acertado para conferir, embora sendo bem técnico, o resultado acabe sendo bonito de ver, e sendo assim recomendo ele mais como um filme de nicho, aonde alguns talvez se enxergue no protagonista, outros vejam um mundo mais aberto, mas como costumo falar, faltou cinema realmente na proposta. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até breve.

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Atômica em Imax (Atomic Blonde)

9/02/2017 02:45:00 AM |

Sabe aquele filme que você não dá nada, pois não foi feito nenhum marketing barulhento, não passou o trailer 122x durante todos os filmes que conferiu, e por bem pouco você não foi conferir ele sem saber nada do que se tratava? Sim, esse filme tem nome, e se chama "Atômica" ou "Loira Atômica" se traduzirmos ao pé da letra o nome original, e pasmem, certamente entra para o grupo de melhores filmes do ano, com ação desenfreada do começo ao fim, com uma pegada de espionagem de primeiro nível (que por vezes deixa o público confuso de quem é quem na parada!), mas que principalmente faz jus ao nome, afinal Charlize Theron que dispensou em diversas cenas o uso de dublês (e com isso quebrou 2 dentes!!) colocou sua cabeleira loira pra jogo, e socou muitos marmanjos em cena, atirou sem dó arremessando sangue pra cima da câmera e com uso "dramático" de ótimos planos-sequências com uma trilha sonora fenomenal acaba resultando em algo que quase perdemos o fôlego de tão bom que é. Ou seja, se em breve teremos "Kingsman 2", esse aqui pode ser considerado seu primo distante no final dos anos 80, que certamente vai agradar muito quem gosta do estilo espionagem com muita pancadaria (o melhor foi a cara de choque e susto da moça ao meu lado com cada enfincada de algo que a protagonista usava nos demais personagens!). Portanto vá conferir e se divirta, mesmo que acabe soando confuso algumas vezes.

O longa nos mostra que Durante a Guerra Fria, a agente secreta do MI-6 Lorraine Broughton investiga o assassinato de um espião da agência. Logo, ela encontra provas de que o agente morto negociava a revelação de nomes de seus colegas que trabalham disfarçados. Agora, Lorraine precisa lutar contra o tempo para reaver essa lista e impedir a morte de mais espiões.

Não sei vocês, mas cada dia torço mais por dublês virando diretores de longas de ação, pois se vibramos com as cenas de ação que o ex-dublê (e agora famoso diretor, afinal vem aí com "Deadpool 2") David Leich fez em "De Volta ao Jogo", aqui vemos que lá ele não havia mostrado nem 50% do seu potencial, pois trabalha cada nuance com uma dinâmica tão incrível que vamos vibrando com tudo o que é mostrado em cena, e mesmo que por vezes o roteiro deslize em algumas bagunças na história (talvez até para não entregar logo de cara quem é quem!) indo para frente e para trás na linha temporal, o resultada acaba fluindo bem, e mostrando que o diretor desejava e muito trabalhar cada momento como único, pois vemos cenas aonde a câmera parece dançar no meio das lutas e tiros, caminhando para que o público adentre a história, converse com os personagens e resolva completamente a briga, ou seja, algo que não tem como não se conectar, fazendo com que desejássemos ver muito mais de seu trabalho, e como já coloquei, em breve veremos com um grande blockbuster o que ele é capaz de fazer com muito dinheiro. Como o filme é baseado em uma HQ, a ideia toda do roteiro foi desenvolvida com quebras também, e embora não tenha ficado tão visualmente folheável, o resultado até acaba se vertendo bastante para o estilo proposto.

Confesso que não consigo ver outra atriz fazendo o papel de Lorraine, pois Charlize Theron deu seu máximo para a personagem, colocando alma e o próprio corpo para lutar muito e mostrar para as atrizes que se dizem magras demais para sair socando tudo para todos os lados, que basta querer, e ela sem usar quase dublê fez muito, interpretou muito, trabalhou entonações, olhares e tudo mais, e ainda foi sensual com seus 42 bem vividos anos, ou seja, arrasou do começo ao fim e deve ser lembrada para muitos bons filmes ainda (quem sabe até uma continuação desse!!). Outro grande ator que ajudou no resultado do longa é James McAvoy com seu Percival, pois ousou trabalhar suas multifacetadas expressões (que vimos em "Fragmentado"), dosando diversos estilos de impacto, o que foi bem agradável de ver, porém em alguns momentos soou falso demais, e poderia ter minimizado isso, mas nada que tenha atrapalhado seus momentos, muito pelo contrário, até amenizando o estranhamento de algum ser completamente maluco na Berlim dividida. Sofia Boutella inicialmente parecia ser uma mera aparição com sua Delphine, mas acabou entregando uma personagem cheia de nuances, e ainda deu uns bons amassos em Charlize, porém sua personagem até poderia ter sido mais trabalhada nas cenas finais. Dentre os demais, todos ficaram bem encaixados, e principalmente seguraram bem a tensão para que ninguém descobrisse os infiltrados e quem era parceiro realmente do outro, valendo destacar poucas expressões fortes de John Goodman, Toby Jones e James Faulkner, e as boas dinâmicas de Eddie Marsan com seu Spyglass (principalmente na cena do prédio seguida pela do carro) e Bill Skarsgård com seu Merkel.

Se já tivemos uma excelente direção, interpretações perfeitamente bem encaixadas, arrumar locações incríveis era uma tarefa quase obrigatória da produção e da direção de arte, e conseguiram arrumar!! Conseguimos não apenas ver o clima de Berlim Ocidental e Berlim Oriental, mas sentir toda a alma rebelde impregnada nos locais aonde filmaram, criando ambientações bem proporcionadas para não revelar nada falso demais, e ainda arrumaram muitos (pense em muitos, que não vai chegar nem perto) objetos cênicos para representar a época, como roupas, telefones, objetos de espionagem, bebidas e tudo mais que pudesse se imaginar, criando algo incrível de ver na tela. Alie isso tudo à uma direção de fotografia insana (afinal fazer grandiosas cenas em sequência parecendo que a câmera tinha vida própria em 360° para o público ver tudo o que acontecia ao redor de cada momento) com tons vivos e bem coloridos nas cenas de boate, ou até mesmo nas pichações para demonstrar os lugares e épocas que o momento estava acontecendo, contrastando com tons bem escuros para dar um ar dramático, mas sempre com uma luz de contra para atenuar o momento, ou seja, algo impecável de se ver.

E finalize toda essa perfeição com a cereja do bolo, escolhendo uma das melhores trilhas sonoras de filmes dos últimos anos, com só ótimas canções que embalaram os anos 80, além de arranjos sonoros quase incorporando os sons de jogos da época, ou seja, criando um ritmo perfeito para que o longa voasse baixo na telona. E para poder ficar ouvindo muito depois de conferir o longa, deixo o link aqui, afinal certamente muitos que viveram nessa época vão curtir toda a sonoridade, e mesmo quem não viveu vai acabar dançando.

Enfim, um longa que impressiona nos detalhes e que consegue conduzir uma história bem completa (que até poderia ser maior e com mais dinâmicas) para ninguém botar defeitos grandiosos (afinal sempre tem algo que poderia ser melhor em filmes desse estilo, pois esperamos mais força em determinados momentos, mais suspense em outros, mais investigação em outros pontos, e até mais interpretação dos secundários!), e assim acabar agradando muito à todos que forem conferir, sendo fã ou não do estilo. Portanto, vá aos cinemas (recomendo ver em Imax, mesmo não tendo sido filmado com a tecnologia, pelas boas cenas de ação) e se divirta muito com a boa quantidade de sangue que voa para todo lado nas ótimas cenas de luta, pois com certeza será um filme que você vai se lembrar durante muito tempo. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas nesse final de semana ainda irei conferir muitos outros longas, então volto em breve com mais textos, e por enquanto deixo apenas meus abraços com vocês.

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Emoji - O Filme em 3D (The Emoji Movie)

9/01/2017 01:22:00 AM |

Sinceramente não consigo entender meus amigos críticos, pois por onde quer que olhe, só vejo críticas negativas de "Emoji - O Filme", então eis que o primeiro filme para conferir dessa semana para tirar minhas próprias conclusões é claro que seria ele, e posso dizer, está longe de ser uma obra de arte, mas é divertido, gostoso e lembra muito a ideologia de "Detona Ralph" (que aliás pela sinopse o segundo filme irá se passar em um celular!), ou seja, um filme infantil, mas que com uma boa proposta, personagens bacanas (embora bobos), um universo bem trabalhado que até poderia ser mais elaborado (mas que funciona sendo bem singelo) e um certo carisma dentre os protagonistas, acaba entretendo e resultando numa boa e tradicional essência. Claro que poderia ser mais propenso à temas sérios, ter ousado mais nas ideias dos aplicativos do celular, trabalhado mais Textopolis, mas não era essa a proposta da trama, e se simplicidade traz bons resultados, espero que o filme renda, pois certamente uma continuação não só corrigiria os defeitos aqui, mas soaria bem legal para ver, afinal já conheceríamos bem os protagonistas. Portanto, é um filme que vai agradar os pequenos, e até divertir os grandes, mesmo que tenha muitas falhas que poderiam ser minimizadas (principalmente no conceito gráfico, já que estamos falando de um filme dentro de um celular de última geração!).

A sinopse nos conta que Textopolis é a cidade onde os Emojis favoritos dos usuários de smartphones vivem e trabalham. Lá, todos eles vivem em função de um sonho: serem usados nos textos dos humanos. Todos estão acostumados a ter somente uma expressão facial - com exceção de Gene, que nasceu com um bug em seu sistema, que o permite trocar de rosto através de um filtro especial. Determinado à se tornar um emoji normal como todos os outros, eles vai encarar uma jornada fantásticas através dos aplicativos de celular mais populares desta geração - e no meio do caminho, claro, fazer novos amigos.

Como falei no começo, o roteiro e direção de Tony Leondis está bem longe de ser algo perfeito, pois o filme é simples e demora demais para apresentar seus personagens principais, além de que poderiam ter arrumado uma família melhor para o protagonista (os Ehs são chatos demais), mas a trama funciona bem como uma apresentação (já disse que talvez um segundo filme saia bem melhor) e a ideia de um mundo dentro do celular com os "bairros" ou "ecossistemas" sendo cada um separado com características/estilos dos aplicativos ficou bem bacana de se analisar, portanto talvez um enfoque maior nas dificuldades de se viver por ali seria algo bem bacana de se trabalhar. Porém, pensar como deveriam ter feito algo é muito subjetivo e não vai acontecer de mudar, portanto vamos pensar no filme como ele ficou, e sendo assim, o resultado principal é que diverte mesmo sendo bobinho demais, e com isso com certeza quem gosta de um filme com uma narrativa mais elaborada certamente irá reclamar de tudo, e quem for disposto a curtir irá gostar do que o diretor acaba entregando. Ou seja, é um filme simples, mas que diverte, e sendo essa a priori de uma animação acaba valendo a conferida.

Sobre os personagens e a dublagem, podemos dizer que acertaram bastante nas piadas bem colocadas, e acertaram ao escolher os dubladores tradicionais do cinema nacional, para dar vozes aos personagens, pois certamente se caíssem com atores e famosos o tom do longa seria outro que não chamaria tanta atenção. Talvez como disse acima um protagonista com mais carisma agradasse mais, que por mais que Gene tivesse seu bug, a essência dos Eh está em seu personagem, e assim sendo algumas vezes o personagem soa cansativo. Já Rebelde e Bate Aí até conseguem soar de forma mais divertida para chamar a atenção, mas como são secundários acabam destoando um pouco e também não podem ir tanto a frente. Quanto a vilã Sorrisete, chega a ser temebroso alguém malvado que só sorri, mas a graça acaba funcionando com isso, e o resultado embora estranho agrada.

Quanto do visual do filme não temos algo muito elaborado, mas como disse acima o mundo dentro do smartphone acaba sendo bem interessante, e a equipe de arte/produção precisou de conseguir muitas cortesias/direitos para falar/usar os nomes dos aplicativos, que acaba sendo o melhor da trama, por mostrar funcionalidades que sabemos que possuem, e quando os personagens entram nesses "mini-mundos", o resultado é tão bacana que acabamos curtindo o que é mostrado. Destaques claro para Candy Crush e Just Dance, que acabam tendo momentos mais icônicos dentro da trama, mas certamente testaram muitos outros. Sobre o 3D, infelizmente utilizaram muito pouco os efeitos que a tecnologia proporciona, de modo que temos um ou outro elemento visual saindo da tela, e uma ou duas cenas aonde a profundidade acaba funcionando, ou seja, quase dá para ver o filme sem óculos algum.

Com boas canções, o ritmo do longa flui rápido, e o longa aparenta ter até uma duração menor que os 86 minutos, e com isso o acerto é bem colocado e acaba divertindo por funcionar de modo subjetivo, e claro que deixo aqui o link para vocês ouvirem todas.

Enfim, é um filme bonitinho que agrada quem for disposto a se divertir, mas que poderia ter ido muito além se não ficasse tanto tempo procurando demonstrar a personalidade do protagonista, e fazendo claro as devidas apresentações. Portanto, se você gosta de animações leves e rápidas, esse pode ser um bom filme para curtir, mas se for esperando ver algo mais filosófico como os longas da Pixar, Dreamworks ou até mesmo da Ilumination certamente esse exemplar da Sony vai lhe decepcionar muito. Destaque para o curta "Puppy" que passa antes da sessão começar, e até para a ceninha no meio dos créditos que soa bem colocada dentro da proposta, ou seja, vamos lembrar mais delas do que do filme em si. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto bem em breve, afinal essa semana terei muitos posts por aqui, então abraços e até breve.

PS: Raspei a trave para dar 5 para o filme, mas me diverti bastante, então vale um 6, mesmo sendo bem fraquinho.

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Dupla Explosiva (The Hitman's Bodyguard)

8/30/2017 02:37:00 AM |

Comédias ultimamente têm seguido dois vértices bem distintos para agradar e acertar, ou partem para um nicho romantizado e surgem leves desenvolturas, ou já partem para o pastelão, misturando muitas cenas de ação, aonde a dinâmica frenética acaba quase que corrigindo leves erros de roteiro e resulta em algo divertido e interessante de acompanhar. Mas claro que independente do estilo escolhido, a grande sacada do gênero é não falhar no tino cômico e caprichar nas piadas para que o longa faça rir, e certamente o objetivo de "Dupla Explosiva", mesmo que apele demais consegue esse feito, ou seja, funciona como comédia. Porém mesmo apelando em demasia, e com um roteiro bagunçado ao extremo, o longa possui tantos planos-sequências que mesmo quem acabar ficando bravo com a história irá se agradar com o estilo ousado da direção em fazer algo diferenciado, e que com muita ação acaba saindo melhor do que a encomenda, num filme até que simples pela proposta, mas que diverte e resulta em algo bem feito.

O longa nos mostra que um guarda-costas de elite, que só trabalha para os clientes mais seletos do mundo, descobre que terá um novo cliente: um assassino de aluguel que ressurgiu das cinzas, com quem costumava se estranhar no passado. Apesar do ódio mútuo, eles terão 24 horas para viajar de Londres para a Holanda, enquanto são perseguidos pelos agentes de um ditador do Leste Europeu.

Com digamos um terço do orçamento de seu filme anterior, "Mercenários 3", o diretor Patrick Hugues procurou aqui trabalhar com uma boa dose de comicidade em cima de dois estilos diferentes de personagens, mas claro que mantendo o mesmo ritmo acelerado, e claro muitos tiros, explosões, trapalhadas e loucuras com carros/barcos e afins que já vimos em outras produções suas, de modo que ele começa a mostrar realmente seu estilo próprio, e aqui ainda pode abusar com muitas câmeras na mão em planos-sequências malucos para que ainda agradasse na atitude dos personagens, mostrando tanto que o lado mais certinho pode funcionar em diversos momentos, como também é necessário ter atitude algumas vezes. E embora o roteiro de Tom O'Connor não seja algo primoroso de situações, nem contivesse uma história que o público desejasse conhecer um bom desfecho, o resultado geral que o diretor soube trabalhar nele, acabou dinâmico e fez rir, sendo acertado nesse contexto, ou seja, o filme está longe de ser algo perfeito, mas cumpre com sua missão de divertir e embora completamente maluco trabalha bem cada personagem, suas histórias passadas, suas nuances atuais, e digo até mais, com o estouro da bilheteria nos EUA, vejo até possibilidade de virem com alguma sequência muito em breve, pois dá para trabalhar ainda muito mais os personagens.

Sobre as interpretações é fato que a química entre os protagonistas ficou bem colocada, mas poderia ser melhorada (mais para o fim, ambos conseguiram melhorar bastante esse quesito), pois embora sejam de cara dois que não se dão muito bem, até o ódio pode funcionar como um estilo de química, e no início tudo aparentava forçado demais entre eles, e isso não é muito legal de ver, mas como disse, foram melhorando (talvez as filmagens começaram a ficar num ritmo maior), e acabaram bem interessante para vermos até mais vezes com esses personagens. E sendo assim Ryan Reynolds trabalhou seu estilo sarcástico, se auto-sacaneando e até se sabotando em cena, fazendo diversas caras e bocas no melhor estilo canastrão, misturado com doses bem bobas de falta de tino, e com isso seu Michael Bryce até tem boas desventuras, mas certamente poderia fazer muito melhor se quisesse. Já pelo outro lado Samuel L. Jackson praticamente faz uma junção de seus diversos personagens no cinema para que seu Darius Kincaid ficasse uniforme, e não digo que isso seja algo ruim, pois sempre é gostoso ouvir suas risadas, seu estilo de tiro pra todo lado, e até mesmo as sacadas bem colocadas que costuma fazer, mas como bem sabemos, gostamos de ver atores fazendo personagens diferentes, e aqui isso não ocorre. Salma Hayek vem numa vibe de papeis secundários com ares de principal, bem interessantes de analisar, pois não protagoniza, nem fica jogada de lado, e com isso certamente vem ganhando bons cachês sem precisar fazer muito, e aqui sua Sonia é bem audaciosa, e praticamente a mulher que detona pela história contada pelo protagonista, mas com três ou quatro cenas nem quase chamou a responsabilidade para si, e talvez seja melhor aproveitada numa próxima continuação, pois como bem sabemos, é uma excelente atriz. Sabemos muito bem que o estilo de filmes de Gary Oldman é outro, e aqui até foi bem usado seu estilo para o vilão Dukhovic, mas são tão poucos momentos que nem dá para dizer que ele pode fazer muitas expressões, de modo que foi acertivo, mas poderia ter dado muito mais show se ele fosse para cima dos mocinhos, do que o outro ator usado de capanga. Dentre os demais, todos foram meros coadjuvantes e nem chegam a ser importante falar muito, tendo um leve destaque, mais pelo contexto da história, a participação em boas cenas de Elodie Yung com sua Amelia, mas nada que seja muito chamativo, pois a atriz foi seca demais na maioria das cenas.

No contexto visual, a equipe praticamente viajou a Europa inteira, passando por locações em diversos países, muitas cenas externas cheias de ação e destruição, desenvolvendo bem poucos elementos cênicos, mas funcionando bem com cada um que era usado, como celulares, algemas, diversas armas e na cena mais dinâmica de luta, tendo de tudo um pouco para ser usado como arma (grandioso destaque para essa luta que passa por metrôs, restaurantes, ruas e tudo mais, usando desde bandejas, até correntes para lutar muito), e sendo assim, podemos dizer que o acerto da equipe de arte foi bem ousado, cheio de brincadeiras com personagens dos protagonistas e grandes sacadas para que o filme não ficasse cansativo. Quanto da fotografia já disse o quanto de ousadias fizeram com muitas cenas sequenciadas que como bem sabemos precisa de uma iluminação precisa para agradar, e sem errar em nada, cada tom foi bem usado para agradar e encaixar a dinâmica na projeção total, de modo que não tivesse tantos erros, nem caísse num tom dramático que certamente poderia ocorrer com uma ação policial que o filme também pode ser classificado.

Outra grande sacada da trama fica a cargo das músicas que deram um ritmo acelerado, mas que também entraram em cena dando contexto para diversas cenas, o que mostrou uma pesquisa bem elaborada, então claro que merece ganhar link para que todos ouçam.

Enfim, é um filme bem divertido, que apela bastante para funcionar, mas que em momento algum abusa do espectador e com isso acaba agradando principalmente quem gosta de uma comédia de ação mais forçada. Como já falei nos parágrafos acima, longe disso ser algo ruim, o que vale é a intenção frente ao resultado final, e como o filme acaba fazendo o público rir, funciona como comédia. Portanto se você gosta desse estilo vá conferir e se divirta bastante, agora se você prefere um filme mais centrado, com piadas que fluem sozinhas e sem nenhuma apelação, passe bem longe, pois a chance de reclamar de tudo é bem alta. Bem é isso pessoal, mais uma vez agradeço ao pessoal da Difusora FM 91,3Mhz e do UCI pela excelente pré-estreia exclusiva, e volto na próxima quinta com mais textos, afinal essa semana vem quente de estreias, então abraços e até logo mais.

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Bingo - O Rei das Manhãs

8/28/2017 01:11:00 AM |

Já estou ficando chato com essa frase, mas volto a dizer que ando cada dia mais feliz com as produções nacionais atuais, pois começam a mostrar estilo próprio, qualidade no visual, e muita técnica para que fiquem incríveis e interessantes para todos assistirem. Digo isso colocando em pauta toda a alegria de voltar aos anos 80/90 com "Bingo - O Rei Das Manhãs", aonde o diretor conseguiu não só imprimir elementos que víamos na TV e/ou usávamos no corpo como relógios, brinquedos, etc., mas também muito da dinâmica que era vista pelas manhãs, aonde a briga pela audiência era real, e isso era o que fazia realmente o público ficar vendo um canal ou outro. Não bastasse essa boa essência de época, não quiseram apenas retratar um personagem inserido nela, mas sim a vida turbulenta de um homem que ao misturar drogas, bebidas e problemas de identidade acabou surtando e fazendo algo forte com ele mesmo. O filme em si possui uma história tão bem desenvolvida que ao juntar tudo que deu certo acabamos vibrando com cada momento, e podemos dizer que vivemos essa época, mas ao conhecer tudo o que viveu o protagonista ficamos perplexos, de maneira que se fosse na época atual tanto o filho quanto o pai teriam se matado em cena. Ou seja, um filmaço que vale muito a pena conferir e que vai impressionar muita gente que sequer pensou no homem por trás do palhaço mais famoso dos anos 80 no país.

O longa nos mostra que nos anos 1980, Augusto Mendes consegue um emprego que o coloca na frente dos holofotes. Sob uma pesada maquiagem, peruca vermelha e roupa de palhaço ele se transforma no apresentador de TV, Bingo, que todas as manhãs anima as crianças. Mas longe das câmeras, Augusto precisa manter sua identidade em segredo e mergulha no mundo das drogas, até que encontra em seu filho e na religiosidade as forças para se reerguer na vida.

Se em diversos filmes vimos Daniel Rezende arrumando o filme de outros bons diretores com uma edição primorosa, aqui em seu primeiro longa como diretor, ele não só teve noções incríveis de como finalizaria seu filme, como fez cada ato como único, de modo que vemos várias nuances a cada cena, não tendo apenas um longa, mas sim vários bons momentos reunidos, sendo um mais incrível que o outro, detalhando humanidade, desespero, egocentrismo e muitas outras situações, todas vistas por ângulos perfeitos e uma dramaticidade no ponto para não deixar que o longa perdesse o tom e nem ficasse forte demais. Ou seja, Daniel mostrou que aprendeu muito com as várias lições de cinema que teve com diversos diretores famosos, e acabou dando também uma aula de cinema ao trabalhar cada elemento da melhor forma que aprendeu, criando nuances impecáveis, aonde trabalhou o roteiro ácido e preciso de Luiz Bolognesi com formato, sensações e muita criatividade, de modo que o filme flui sozinho (ou melhor com uma ótima interpretação de Brichta!) e incorpora cada momento de forma dura e incrível que vai tornando a densidade dramática como um ponto para ficarmos empolgados com cada ato até chegarmos ao fim perfeito. Mesmo sem poder usar os nomes reais dos personagens, emissoras e afins, a grande sacada sarcástica em cima de muitos detalhes foi algo incrível de ver, de modo que chega a ser divertido conectar cada detalhe mostrado, e tentar lembrar quem foi quem nos conflitos, mas claro que ajudaram bastante em diversos detalhes, e assim sendo, o resultado completo acabou agradando demais, e para quem não conheceu de uma pesquisada sobre Arlindo Barreto, que vai ver muita coisa interessante que o artista fez no SBT.

Sobre as interpretações, sem dúvida alguma é o filme da vida de Vladimir Brichta, aonde ele pode mostrar todos os tipos de expressões, colocar o corpo pra jogo e ainda mostrar dinâmica com a alma no nível máximo para que seu Bingo saísse da caixinha e fosse alguém que mesmo já conhecido por nós mostrasse algo a mais, ou seja, foi mais do que perfeito, agradando demais, e diferente do que aconteceu com Bingo, lembraremos quem fez o personagem no cinema por muito tempo com o que ele acabou nos entregando. Leandra Leal é daquelas atrizes que consegue marcar muito um personagem, e aqui infelizmente sua Lucia é simples demais (embora seja um personagem forte!) e ela deixou que a personagem dominasse ao invés de virar com uma interpretação melhor, não digo que tenha saído algo ruim, mas esperava bem mais dela. Embora a risada de Augusto Madeira tenha sido algo muito estranho com seu Vasconcelos, seu personagem acabou saindo bem melhor que a encomenda, e acabou sobressaindo bastante para chamar atenção quando precisava, fazendo exatamente o que a Leandra deveria ter feito para agradar mais. Outro que foi muito bem no quesito expressivo, foi o jovem Cauã Martins com seu Gabriel, que trabalhando sempre os olhares de forma coesa e emotiva, acabou chamando a dinâmica para si em diversos momentos e acabamos até esperando algo pior para seu personagem (mas aí seria um filme mais moderno, pois nos anos 80 não tínhamos crianças mimadas que se matam por qualquer coisa), e sendo assim vamos ficar de olho no garoto em outras produções. Dos demais personagens, todos tiveram leves participações, e felizmente bem acertadas, a começar por Ana Lucia Torre dando um ar singelo e maravilhoso para a mãe do protagonista, passando depois pela sensualidade de Emanuelle Araujo com sua Gretchen (época boa que programa infantil aflorava as mentes infantis com muita educação e bons desenhos), e culminando com Soren Hellerup (que já anda quase morando no Brasil com tantas produções nacionais que anda fazendo) como um Peter Olsen simples mas bem colocado. Além claro das boas jogadas com Pedro Bial fazendo Armando (numa representatividade clara aos poderosos diretores da Globo, no caso aqui Mundial) e uma saudosa ótima homenagem à Domingos Montagner como um mestre-palhaço.

Agora sem dúvida alguma o grande show da produção ficou a cargo da equipe de arte, pois retratar os anos 80 é algo muito simbólico, e o longa não economizou em elementos de cena, com figurinos, cabelos, carros, TVs, drogas, bebidas, cenários, brinquedos (tive aquele joguinho de basquete com água, mas não tive o famoso relógio troca-pulseira - saudade nível plus) e tudo mais, mostrando que o nível de pesquisa da equipe foi altíssimo para não cair com erros, e sendo assim o resultado foi mais do que perfeito no conceito visual. Já sabíamos que a fotografia de Lula Carvalho era fenomenal, e mais ainda que foi companheiro do diretor em diversas produções, mas que a química entre eles era algo espetacular estava para surgir, e foi aqui, vemos tons densos contrastando com cores alegres em cenas tensas, vemos o inverso funcionando, vemos câmeras em ângulos inimagináveis, vemos de tudo para que o filme contivesse o teor exato que o diretor necessitava em cada momento, não repetindo sequer uma luz cênica para que tudo ficasse amplo demais, ou seja, um espetáculo de fotografia.

Não tenho muito o que falar da trilha sonora perfeita escolhida para o longa, que variou entre canções bem conhecidas da época, com alguns instrumentais bem arrojados, mas certamente ajudaram para criar todo o clima do filme, porém o grande destaque fica para o funcionamento cênico das fitas Basf pedindo para ser tocadas pelo lado A ou lado B, que agradaram demais, pois sempre sabíamos indicar para quem fosse ouvir, aonde queríamos que entrasse o nosso momento, ou seja, mais uma boa pesquisa cênica que junto da equipe de música acabaram agradando bem nossos ouvidos.

Enfim, um filme com vida, com nuances de todos os tipos, e principalmente com estilo, pois poderiam ter feito o mesmo filme de inúmeras formas, e certamente todas agradariam, contariam a história (parte ficcional, parte real, seria 70%-30% ou o inverso???) de Arlindo Barreto, mas dificilmente alguma outra conseguiria tamanha classe, mesmo mudando o protagonista (originalmente era Wagner Moura, que desistiu do filme para fazer a série "Narcos", mas indicou perfeitamente Vladimir Brichta para o papel), tendo de desenvolver muitas mudanças para não sofrer sanções com direitos de imagem/nome, e principalmente trabalhando o humor e o drama na mesma proporção sem ser piegas nem incomodando ninguém, ou seja, algo praticamente perfeito, que só teve leves falhas como citei no texto todo, e com isso merece demais ser assistido por todos. Bem é isso pessoal, fica aqui minha recomendação, e só não encerro a semana por ter uma pré para conferir nos próximos dias, então abraços e até breve.

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