Netflix - Filhos do Ódio (Son Of The South)

1/18/2024 01:23:00 AM |

Costumo dizer que para um longa baseado em uma história real funcionar perfeitamente é necessário criar mais situações que desenvolva tudo na tela, e ser menos rígido com toda a desenvoltura exata da história, pois muitas histórias até são bem interessantes de serem contadas, mas quando a trama não flui acaba não conquistando o espectador. Comecei falando dessa forma sobre "Filhos Do Ódio", que pode ser conferido na Netflix, pelo simples motivo de que já vi vários filmes trabalhando a segregação racial e suas diversas marchas e conflitos, mas sempre abrindo brechas para algo que empolgue e emocione o espectador como um filme mais amplo, e aqui mesmo o garoto sendo bem chamativo para a causa, desejando estar no meio de tudo, enfrentando familiares e amigos, ele acaba sendo seco demais nas atitudes e nenhum dos seus afrontes (tirando o de fechamento) resulta em algo marcante realmente, parecendo que foi apenas alguém ali sem grandes importâncias bem diferente de tudo o que é mostrado nos letreiros finais. Ou seja, podem ter ocorrido três problemas aqui, um de o diretor ficar muito preso na assessoria que o verdadeiro Bob deu para a trama, ou o diretor não foi além em tudo o que poderia chamar mais atenção, ou um que infelizmente pareceu ter acontecido, de o ator não entrar no clima e parecer sem atitude para o papel, pois posso estar errado, e gostaria disso, mas tudo pareceu artificial demais nos trejeitos do rapaz, e isso pesou bastante para que a história não fosse além.

O longa conta a história real de Bob Zellner, um jovem branco, neto de um líder da Ku Klux Klan, que decide questionar o histórico de ódio onde nasceu e se tornar aliado da luta pelos direitos civis dos negros na década de 1960. Zellner se torna um importante porta-voz contra a segregação no sul dos Estados Unidos e se aproxima de vários revolucionários da luta antirracista como Rosa Parks e John Lewis.

Diria que o diretor e roteirista Barry Alexander Brown até teve uma boa intenção ao desenvolver a história de Bob Zellner, porém como disse no começo faltou ele enfeitar um pouco mais a história, dar nuances mais fortes das marchas, de alguns conflitos mais contundentes e até mesmo na desenvoltura com outros nomes, pois ficou parecendo que ele quis marcar alguns momentos chaves e não colocar muita força em algo que tivesse toda uma reta bem colocada, de modo que o filme nem ficou como uma história do rapaz, nem como algo sobre o grupo de jovens não adeptos à violência, e assim ficou tudo muito livre na tela, a conexão com o avô soou bem estranha, e tudo precisou de flashbacks para dar entendimentos. Ou seja, friso que o longa não é ruim, mas dava para brincar muito mais com tudo para que o filme ficasse mais forte e emocionante, pois é algo tão morno que não atinge nada na tela, precisando dos letreiros ao final para marcar realmente a presença do ato.

Quanto das atuações, como falei no começo ficou parecendo que Lucas Till era apenas um jovem americano que queria fazer parte de um grupo sem nada que fosse muito conectado, meio que vamos ali defender a marcha por achar legal apenas, não passando um sentimento realmente, e isso fez com que seu Bob fosse muito artificial na tela, o que é uma pena, pois sabemos que ele tem potencial. Lex Scott Davis trabalhou sua Joanne com uma perspectiva até que bem colocada, mas literalmente caiu no colo do protagonista e passou por cima dele em quase tudo, não se impondo tanto, mas chamando a atenção, e isso é algo contraditório de ver na tela. Tivemos ainda muitos outros personagens colocados na tela, mas sem grandes destaques, pois cada um teve algo muito rápido para colocar e não fluir, valendo apenas mencionar Jake Abel com seu Doc durão e cheio de marra e Shamier Anderson com seu Regie desconfiado, mas que acaba se encaixando bem nas cenas que entrega.

Visualmente a trama tem alguns momentos bem interessantes, como a "guerra" na chegada do ônibus na cidade, aonde a população da cidade instigada acaba batendo em todos que desciam do ônibus, com o que tivessem na mão numa cena de selvageria tremenda, vemos também o ato que começa e praticamente termina o filme com a cena da forca bem colocada, um escritório praticamente vazio, e alguns atos da Klan espalhados no miolo, alguns cultos na Igreja Batista, mas tudo sempre bem rápido e sem desenvolvimentos marcantes para mostrar um trabalho grandioso da equipe de arte.

Enfim, é um filme que tinha potencial, mas que não atingiu como deveria, de tal forma que volto naquela minha conversa que tive alguns dias atrás que não devo mexer com os filmes que coloquei na minha "lista geladeira", pois nenhum ainda valeu realmente o play. Volto a frisar que não é algo ruim, mas minha recomendação é que deem o play sem esperar um filme realmente marcante sobre o tema. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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