Depois de muitos curtas na carreira o diretor e roteirista nipo-brasileiro Edson Oda estreou com um longa tão potente, tão cheio de nuances e desenvolturas, tão rico de conteúdo que certamente muitos nos festivais que o longa rodou acharam se tratar de um filme de alguém com pelo menos uns dez anos de carreira, pois diferente do que muitos diretores estreantes entregam na tela (de ficar com algo mais contido e sem aberturas para reflexões, e muitas vezes com algo jogado para o espectador voltando os olhos para o próprio umbigo do diretor) ele acabou brincando com facetas difíceis, mas que nas mãos de ótimos atores acabou se desenvolvendo com uma beleza cênica tão bem colocada que não tem como não elogiar ao máximo cada momento do longa na tela. Ou seja, é daqueles filmes que você enxerga exatamente o que o diretor desejava mostrar na tela, reflete, e volta para ver algo brilhante acontecendo, o que faz a trama fluir e emocionar na medida certa, não forçando o público a nada, mas também não deixando que tudo fique solto e sem sentido, o que acaba sendo incrível de ver, principalmente nos atos finais quando tudo se encaixa.
Quanto das atuações, já vi o Winston Duke muito bem em outros filmes, mas aqui seu Will é marcante, tem estilo, e até consegue nos deixar irritado com seu jeitão, mas fecha de uma maneira tão forte e bem colocada que chega a arrepiar e agradar demais, ou seja, pegou o papel e fez seu com gosto e ainda dando show. Em muitas cenas Benedict Wong parece ser um intruso cênico com seu Kyo, mas sua personalidade é tão bem colocada, e a química cênica é tão perfeita junto do protagonista, que acabamos envolvidos em seus atos, querendo ver mais dele, e até simbolizando com toda a entrega que faz, ou seja, encaixou bem demais. Quanto das almas em teste é até difícil não dar destaque para todos, mas sem dúvida Zazie Betz trabalhou de um modo tão irritante que ela sabe fazer muito bem, de pegar seus papeis e instigar os protagonista de um modo tão único, que sua Emma acaba sendo perfeita mesmo sendo estranha na tela, e isso é incrível de ver, ainda tivemos Bill Skarsgård sendo bem seco nas respostas com seu Kane, Tony Hale com uma pegada mais divertida com seu Alexander, Perry Smith bem emocional com sua Anne, além de Arianna Ortiz e David Rysdahl entregando duas cenas lindíssimas com sua Maria e Mike nas despedidas do ambiente, ou seja, tudo muito perfeito e com um elenco tão primoroso que até mesmo os figurantes cênicos que apareceram nas TVs agradaram bastante.
E falando nas cenas lindas, visualmente tanto a cena da praia de Mike quanto a cena da bicicleta de Maria foram coisas inimagináveis de belas na tela, e principalmente como elas foram feitas no melhor estilo de montagem de painéis móveis e projeções, sendo algo que facilmente já mereceria um prêmio de direção de arte, mas ainda o filme teve uma casa completamente isolada, algumas cenas no limbo todo escuro procurando materiais em ferros-velhos, numa ventania intensa e marcante, com outras casas de entrevistadores bem longe umas das outras para não se ter influências, várias televisões de tubo e VHSs gravando a vida das pessoas pelos seus olhares, fora a quantidade de cenas que tiveram de fazer para mostrar tudo ali nas TVs, tendo até um show de alguém parecido com nosso eterno Zacarias, ou seja, um trabalho primoroso e impactante, além claro de muitos símbolos em tudo na casa para dar as nuances das entrevistas.
O músico brasileiro Antonio Pinto já trabalhou em diversas grandes produções do cinema e aqui entregou uma canção tão bem dosada ("Eu Na Rua") para um dos principais atos, além de várias outras trilhas instrumentais bem encaixadas que acabou dando ainda mais nuance para tudo, ou seja, foi escolhido a dedo e não falhou.
Enfim, é um filme que me envolveu demais, que comecei meio ressabiado com a trama, não sendo capturado num primeiro momento, mas que no final já estava vidrado em tudo o que acontecia e maravilhado com muitas coisas, só não darei a nota máxima pelo simples motivo de que faltou algo que me fizesse lavar meu quarto em algum momento, pois o longa tem essa pegada, e com um pouco mais conseguiria isso, mas é incrível, irei certamente recomendar ele para todos, e só não entendi o motivo de não terem feito barulho com ele na época que estreou nos cinemas, mas agora certamente vai movimentar bastante a Amazon Prime Video, então deem o play que vão gostar demais. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.
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