Netflix - O Milagre de Tyson (Tyson's Run)

Ultimamente um dos estilos que tem mais chamado público para conferir são as tramas motivacionais baseadas em fatos reais ou então com algum teor religioso, isso pelo simples preceito de que conseguem trazer emoção e envolvimento com algumas mensagens extras bem colocadas, e até digo que gosto bastante de ver que algumas conseguem dar aqueles arrepios e funcionar bastante, porém desde que entregue algo possivelmente dentro de uma realidade, ou seja, já que é baseado em algo real, pode até ter algumas situações inventadas para vender melhor a trama, mas quando tudo fica exagerado demais, o resultado acaba ficando tão falso que chega a irritar com o que colocam de fundo. E infelizmente isso foi o que ocorreu com o longa "O Milagre de Tyson", que chegou hoje na Netflix, pois a trama até tem seu cerne bem trabalhado, tem um ar emotivo interessante, mas as interpretações da família soaram artificiais, as conversas com outros personagens fora do meio ficaram sem sal nenhum, e por vezes o que seria emotivo em outra situação acabou ficando estranho de ver. Claro, a trama ainda assim é boa, mas ficou parecendo um trabalho amador de alguma igreja, aonde tentam valorizar alguns preceitos e o resultado acaba não indo para o rumo que deveria tomar, o que é uma pena, pois dava para fazer o mesmo filme sem precisar de tais apelos.

A sinopse é bem simples e nos conta que um menino autista, adorado por sua mãe ferozmente protetora, tenta se conectar com seu pai insatisfeito, treinando para uma maratona com um ex-campeão.

Diria que o roteirista e diretor Kim Bass até teve uma ideia bem trabalhada para adaptar, afinal sendo baseado em um garoto real, que não é falado nome nem nada como acontece na maioria das vezes, provavelmente conheceu a história dele e quis dar uma incrementada para ficar com ares de cinema, só que exagerou demais (o que provavelmente acabou fazendo com que a família do verdadeiro garoto nem quisesse ser exposta), ao ponto que em determinado momento colocam uma cobra num parque de uma forma tão aleatória e estranha (que pasmem o policial a mata com um tiro depois de uma picada!), o pai brucutu não consegue levantar um galho, mas um corredor mirradinho solta ambos, a corrida tem alguns atletas que falam de elite, mas depois parecem garotos de bairro correndo na rua, fora os trejeitos mais jogados possíveis do pai do garoto, ou seja, faltou realmente direção para que o filme funcionasse por completo, além claro de jogar versículos bíblicos para dar uma valorizada. Então se tenho alguém para culpar com certeza foi o diretor por querer forçar demais a emoção e saiu da base real para algo fictício demais para acreditarmos e nos emocionarmos.

Quanto das atuações, o jovem Major Dodson fez muito bem seu Tyson, e sendo realmente um ator com espectro autista conseguiu passar emoção e muito envolvimento em suas cenas, conseguiu entregar personalidade e determinação, e se o diretor tivesse sido um pouco mais esperto teria eliminado todo o restante de personagens desnecessários para que as emoções do ator ficassem ainda mais presentes sem precisar de cenas bobas. Já vi outros filmes aonde Rory Cochrane atuou, e sei que tem muito potencial, porém o que fez aqui com seu Bobby foi algo tão sem vontade, tão estranho de nuances, que chega a ser até irritante de ver seus atos, fora seus diálogos com poucas palavras que não foram muito além, ou seja, falhou demais. Barkhad Abdi caiu nas graças do público americano depois de "Capitão Phillips", e aqui até teve bons trejeitos e intensões com seu Aklilu, porém faltou o diretor dar mais expressão para seu papel, já que ficou muito em segundo plano. Ainda tivemos bons atos de desespero de Amy Smart como uma mãe extremamente protetora, e chamou muita atenção em várias cenas desse estilo, porém o foco foi mesmo na relação pai e filho, que falhou muito por conta dos atos do pai. Já os demais é melhor economizar o teclado digitando, pois dá para salvar um pouco do carisma emotivo de Layla Felder com sua Shannon, mas só, pois chega a ser péssimo tanto os demais garotos da escola, o prefeito e se falar dos apresentadores da corrida é para infartar.

Visualmente a trama até teve bons atos de corrida (tirando alguns exageros dos corredores "principais"), mostrou cenas de treinos bem trabalhados, entregou a família como sendo bem rica com carrões, mas sem dar grandes focos na casa, trabalharam algumas cenas tradicionais de escolas e seus devidos atos de bullying, e até ficou bem interessante a lojinha de sapatos do ex-corredor, só precisavam ter ensinado um pouco melhor para o ator como é ser vendedor, pois ele para arrumar uma prateleira fica num alisamento que nem em sonho seria dessa forma. Ou seja, é um filme de visual básico, que entregou até uma tempestade imensa, mas que falhou em detalhes que não fizeram muito sentido.

Enfim, diria que hoje reclamei até demais do longa, pois confesso estava gostando do que via no começo da trama, as mensagens faziam sentido, mas depois de uma meia hora de filme, tudo começa a desandar e ficar muito cheio de falhas, que alguns até verão e se emocionarão com o resultado da trama, se claro não tentar fazer as conexões com o "algo real" que o filme teria de ter. Sendo assim, recomendo o play com tantas ressalvas que vai parecer que odiei o filme, e não foi isso que aconteceu, mas sim o fator forçar a barra para emocionar que não funcionou, ao menos para a minha pessoa. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.