Amazon Prime Video - Angela

Alguns filmes biográficos acabam trabalhando com a ideia de que as pessoas sabem tudo sobre a vida da pessoa e sobre o que ocorreu para não precisar desenvolver tanto a trama, e com isso quem não é tão conectado com o mundo da fofoca, ou que nasceu após os anos do evento acaba vendo o filme com um olhar meio que simplório demais de algo que merecia ter ido mais além. Comecei o texto do longa nacional "Angela" dessa forma para explicar bem o motivo de ter passado em um circuito curtíssimo nas telonas, e agora já chegar tão rapidamente ao streaming, pois o longa entrega ao final o crime que Angela Diniz sofreu no ano de 1976, que foi e ainda é usado como um grande representante dos crimes de feminicídio, porém o longa demorou para entregar isso, fez algo simplório demais, raso demais, aonde a protagonista entrega muito bem a personalidade da personagem e está incrível, mas que precisou colocar letrinhas ao final para mostrar o que aconteceu, ao invés de fazer isso acontecer na tela e entregar algo muito mais com cara de cinema. Ou seja, é daqueles filmes que você assiste ele inteiro sem entender aonde queriam chegar, lê meia dúzia de textos no final, e pronto, fim, ou melhor, triste fim, tanto para Angela quanto para o filme com seu nome.

O longa nos conta que após uma tumultuada separação e ter que ceder a guarda dos seus três filhos, a famosa socialite Angela Diniz conhece Raul, e acredita ter encontrado alguém que ama seu espírito livre tanto quanto ela. A atração avassaladora fez o casal largar tudo e viver o sonho de reconstruir suas vidas na casa de praia. Mas a vida tranquila rapidamente se transforma quando Raul começa a se mostrar um homem agressivo, violento e controlador. A relação declina para o abuso e a violência, dando origem a um dos casos de assassinato mais famosos de todos os tempos no Brasil.

Se ao contar a história de Elis Regina o diretor Hugo Prata teve uma estreia excelente na direção de longas, aqui ele já se perdeu bastante no que desejava mostrar, e isso mostra o poder de um roteiro bem feito, pois lá ele contou com livros e roteiristas gigantes de filmes, enquanto aqui Duda de Almeida fez sua estreia apenas com material de jornais e conversas, sendo quase que algo criado pelas desenvolturas, e com isso criar muito se perde no fechamento, pois o que foi "importante" na vida de Angela Diniz, foi a sua morte servir como forma de criação de leis mais imponentes em cima do feminicídio, da violência contra mulheres e tudo mais, e aqui o diretor apenas quis pintar ela como uma socialite de vida livre, que gastava dinheiro fácil com festas e amigos, mas que se envolveu com um homem maluco e violento, mostrando que o mundo era lindo, sem trabalhos, apenas a vida mansa na praia, e assim sendo tudo o que ocorre, como o primeiro julgamento absurdo de Raul que pegou apenas dois anos e depois de muito barulho pegou 15 anos ficou sendo apenas letrinha de crédito na tela, o que facilmente daria muito mais emoção para o longa.

Quanto das atuações é inegável que Isis Valverde deu uma personalidade marcante para Angela Diniz, soube cativar e ser imponente, além de provocante e sensual também (como alegou o advogado do assassino como motivo para o ciúmes e a defesa!), ou seja, foi perfeita no papel, tendo carisma e densidade para todas as suas cenas, mostrando uma maturidade cada vez maior no seu estilo de atuar. Gabriel Braga Nunes trabalhou bem a personalidade de Raul Street, fazendo bem seus trejeitos fortes, sendo bem galanteador e envolvente com a protagonista, até perder a cabeça com o ciúmes, aliás, mostrando o fator de que quem trai uma vez sempre acha que está sendo traído, e a desenvoltura do ator caiu bem no que precisava também. Quanto aos demais, tivemos bons momentos de Bianca Bin com sua Tóia, algumas intenções e desenvolturas marcantes com Gustavo Machado com seu Ibrahim Sued, mas sem dúvida o destaque entre os personagens secundários ficou com Alice Carvalho fazendo a empregada Lilli com muita tensão ao ver as brigas dos patrões sem poder fazer nada.

Visualmente a trama tem claro todo o luxo das festas de gala, da belíssima casa de praia em Angra dos Reis, mostrando muitos preenchimentos de cheques e nuances clássicas de muita riqueza, mas sem grandes aprofundamentos, mostrando que a equipe de arte nem foi tão acionada quanto poderia, mas que não pecou em detalhes no que precisava mostrar.

Enfim, é um filme simples demais para algo que poderia ser memorável, mas que vale ver pela boa atuação da protagonista sem esperar nada além da trama, ou seja, daria para ter feito um filme bem imponente com mais riqueza de detalhes, que certamente arrebataria prêmios e chamaria ainda mais atenção para a causa dos feminicídios, mas não foi o que fizeram, então apenas resultou em algo bem mediano. E é isso pessoal, fico por aqui agora, mas vou conferir mais um hoje para salvar o dia, então abraços e até logo mais.