A Filha do Rei do Pântano (The Marsh King's Daughter)

10/01/2023 12:56:00 AM |

Costumo dizer que quando um livro é bem transportado para as telonas acabamos quase que lendo ele pelas interações dos personagens, e digo isso sem ter lido a maioria das adaptações literárias, mas sim sentindo os fãs nas sessões e até mesmo vendo o desenvolvimento da trama na tela, e com "A Filha do Rei do Pântano" foi bem interessante ver a forma proposta pelo diretor que conseguiu amarrar tão bem toda a desenvoltura, criar as interações e nuances da personalidade da protagonista com seu sentimento de caça ativo mesmo anos longe do pântano, que a trama pareceu até mais longa do que realmente é, sendo que o filme tem 108 minutos, mas facilmente você irá sentir que passou quase umas 3 horas lendo toda a trama do livro na tela. E isso é ruim? Alguns vão achar que sim, outros vão gostar por entrar tanto no clima denso proposto, e eu digo que não são três horas cansativas, mas sim três horas de desenvolvimento, de tensão, pois a sacada do pôster diz tudo, encare o passado ou viva com medo, e o resultado fica na tela, e na mente do público com tudo o que foi mostrado. Ou seja, é um filmão que não se alonga com o tempo de tela, mas sim com a desenvoltura, funcionando bem e tendo estilo para agradar quem gosta do gênero.

Na trama, Helena leva uma vida aparentemente comum ao lado de seu marido e filha, mas esconde um segredo sombrio: seu pai é conhecido como “Rei do Pântano”, e é o homem que manteve ela e sua mãe em cativeiro em um pântano por 12 anos, e que acaba de escapar da prisão. Depois de uma vida inteira tentando fugir de seu passado, Helena é forçada a enfrentar seus demônios para proteger sua filha.

É até engraçado olhar a filmografia de Neil Burger, pois ele já fez desde filmes calmos e cansativos, passando por aventuras aceleradas e distópicas, e junto a dramas difíceis e bem trabalhados, mas se analisarmos mais a fundo, entre todos esses estilos, a maioria são adaptações literárias, e todas aonde os fãs sempre gostam de ver a quantidade de elementos que ele coloca do livro na tela, ou seja, se você tem um livro bom e quer ver ele bem desenvolvido na tela, talvez seja um bom nome para isso. Dito isso, ele aqui conseguiu desenvolver muito bem a trama, criar toda uma tensão, e como já disse no começo alongar a trama sem precisar aumentar o tempo de tela, de tal maneira que sentimos na sua direção cada momento da trama, cada ato necessário, e até mesmo os motivos de aparecer alguns elementos cênicos na tela, e isso é algo que poucos conseguem, e principalmente que deixam um filme melhor com essa sacada, ou seja, o diretor pegou o livro, destrinchou inteiro para encontrar as melhores partes junto dos roteiristas, e conseguiu mostrar personalidade em cada ato, o que funcionou demais.

Quanto das atuações, é interessante observar que Daisy Ridley trabalhou bem a segunda parte da trama de uma maneira traumatizada demais de sua Helena, mas ainda imponente e disposta a ir a fundo para resolver sua "paranoia", e a atriz trabalhou trejeitos, fez um estilo meio que exagerado na personalidade da jovem, e conseguiu com isso ir além, porém ficou faltando mostrar mais do motivo dela estar assim com "receio" do pai, talvez no livro tenha mais disso e não tanto no filme, mas a atriz fez bem o que precisava fazer. Já a versão jovem de Helena caiu muito bem nas mãos de Brooklynn Prince, que fez cenas de caçadas bem trabalhadas nos olhares, mostrou uma afeição muito grande com o pai e conseguiu transmitir ao mesmo tempo o respeito por ele junto de um grande envolvimento, conseguindo chamar bastante atenção e agradando com todas as nuances cênicas. Já Ben Mendelsohn trouxe para seu Jacob um olhar até que interessante, pois não transparece um homem "malvado" e de má-índole, de tal forma que se não fosse mostrado na TV que ele era um sequestrador, por vezes até teríamos a mesma afeição da garotinha por ele nos primeiros atos, mas bastou uma vírgula e tudo mudou bastante nos atos finais, e o ator soube transparecer bem toda essa essência. Ainda tivemos alguns bons momentos de Caren Pistorius como a mãe de Helena, Chris Violette como um bom marido que num primeiro momento não entende as mentiras e foge, mas depois se envolve bem, mas sem dúvida entre os secundários quem teve um pouco mais de postura foi Gil Birmingham como o padrasto policial da garota, entregando claro as nuances indígenas que sempre faz em seus filmes, e chamando atenção também pela imposição na tela.

Visualmente a trama foi bem interessante por mostrar alguns traquejos intensos de caçadores, sabendo exatamente o que a presa está sentindo e fazendo através de pegadas, de restos que deixam nas folhas e tudo mais, vemos uma floresta bem interessante tanto aonde vive jovem com uma casa bem simples, quanto já adulta morando próxima de uma lagoa aonde vai se banhar a noite no escuro, tivemos atos marcantes numa delegacia, e muitos elementos simples para representar os detalhes que certamente estão escritos no livro, além claro de um pântano imenso bem colocado. Agora uma falha meio estranha que me intrigou no conceito visual e no roteiro, pois a jovem para chegar e para sair da casa navegou de canoa por um bom tanto, o pai está navegando num rio também bem ao longe, mas o policial chega pela mata sem nenhum carro, sem nada, ficando um pouco estranho de ver, além também da fuga de moto, ou seja, não sei se no livro isso está melhor explicado, mas no filme foi uma falha bem grande.

Enfim, é um filme interessante, que entrega bons atos e cria uma tensão até que estranha num primeiro momento para quem não leu o livro, mas que depois tudo acaba bem colocado e se desenvolve de uma boa maneira, e que como disse, muitos irão achar a trama alongada, mas eu diria que foi bem trabalhada para não deixar nada de lado, e tirando um ou outro defeito acaba valendo a conferida sem grandes sustos, então fica a dica para conferir nos cinemas, ou bem em breve na Amazon Prime Video que já anunciou ele como o longa de fechamento de outubro. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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