Pérola

10/02/2023 12:11:00 AM |

Muitas vezes o pessoal fala que as histórias contadas nos cinemas são exageradas, que a vida normal não é bem assim, que isso, que aquilo e tudo mais, mas sempre que alguém vem com esse argumento para a minha pessoa retruco dizendo quer ver vida real assista a um jornal, a um documentário, ou sente na varanda da casa e fique vendo seus vizinhos, cinema é para fantasiar realmente, porém alguns diretores e roteiristas por vezes gostam de retratar suas famílias e as desenvolturas entregues em determinada época, e certamente "Pérola" traz bem essa sensação, de vermos uma família e seus vários conflitos, mais tradicionais dos anos 70 em Bauru, interior de São Paulo, e usando a base do texto homônimo do diretor  teatral Mauro Rasi, vemos aqui suas memórias com a mãe indo para seu velório e relembrando, o que traz todo um sentimento bonito, ao mesmo tempo que também passa a tristeza de estar se despedindo dela, de tal forma que a trama chega a nos fazer pensar em algo bem próximo do que seria um quarto filme da série "Minha Mãe é uma Peça" se tivesse morrido Dona Déa ao invés de Paulo Gustavo. Ou seja, é uma trama que você vai rir por se conectar com o estilão de Pérola que lembra muitas mães das antigas, mas que também vai se emocionar por ver todo o sentimento passado pelo jovem ao lembrar das coisas que ocorreu, e assim o resultado ficou bem misto de um modo geral.

O longa conta a história de uma mãe pelo olhar de seu filho. Logo após saber da morte da mãe, Mauro volta para a sua antiga casa em Bauru. A partir desse caminho de volta, ele revive momentos passados de sua família. Manias da sua mãe, suas ilusões, seu senso de humor, sua espirituosidade, seu desejo de querer controlar todas as coisas... tudo isso com um carinho particular que apenas a distância e o tempo permitem.

Diferente do que acontece na maioria dos filmes que são baseados em peças teatrais que acabamos vendo a estrutura bem engessada na tela, diria que Murilo Benício soube transportar todas essas emoções para algo bem maior do que o espaço apenas de um ambiente, de tal forma que a base toda gira em torno da construção da piscina e as situações rolam na maior parte ali, mas tem toda a estrutura da juventude com o lance do piano que é usado depois para outra coisa, temos os momentos da família no Rio de Janeiro e tudo mais, de tal forma que o diretor usou bem a base da peça, mas não deixou que isso lhe prendesse, o que mostra seu conhecimento de ambientes maiores como é o caso das muitas novelas que atuou, das peças e claro dos filmes, que tem sido sua boa base para criação. Ou seja, vemos cada dia um Murilo mais centrado no estilo, e conseguindo envolver bem suas tramas sem parecer nada do que já fez na carreira, e isso sim é maturidade de direção, quem sabe logo mais os prêmios brotem bastante, pois mostrou que não é apenas um ator que resolveu se jogar para a cadeira principal, mas sim alguém que entende o que quer na tela.

Quanto das atuações, não podia ter sido uma escolha melhor para a personagem Pérola senão Drica Moraes, pois ela dá uma vida tão geniosa para a personagem (que no teatro é feita por Vera Holtz), cria trejeitos próprios que conhecemos bem das pessoas do interior, se gaba com muita classe e claro bebe muito o filme inteiro os drinks do marido, de tal maneira que ali conseguimos enxergar muito do jeitão de quem quer ver os filhos grandiosos para se vangloriar para as amigas, quer ir além, mas também quer a felicidade deles, e assim a cena final é bem marcante nesse sentido quando Louise Cardoso fala para o protagonista sobre a entrevista de emprego dele, ou seja, Drica dá show! Leonardo Fernandes fez muito bem toda a dinâmica de um Mauro mais contido, sabendo dosar emoções, olhares e muitas desenvolturas, de tal forma que não criou muitas explosões, mas também não ficou escondido, e isso fez ser algo bem bacana para ver na tela. Rodolfo Vaz é o ar cômico da trama, fazendo de seu Vado quase um barman em tempo integral, sempre alegre e pronto para fazer um drink para a protagonista, agradando por segurar bem todos os momentos mais duros com um olhar mais divertido. Ainda tivemos outros bons atores em diversos personagens, mas valendo citar mais Claudia Missura como a Tia Maura e Valentina Bandeira com sua Elisa, que são as que mais dão conexão às cenas da trama, o que acaba chamando sempre atenção nos atos com a protagonista.

Visualmente a casa é bem trabalhada nos detalhes, mostrando muitos elementos tradicionais da classe média dos anos 50-70, carros bem escolhidos também para cada tipo de momento, mas sem dúvida com tudo rolando ao redor da piscina vemos muito de sua construção no quintal de vários anos, as festas ao redor e até dentro dela vazia, e todas as sacadas com o calor de Bauru, fora alguns momentos no Rio de Janeiro, e tudo sempre bem acompanhado de muitas bebidas entre caipirinhas e outros drinks, além claro de figurinos icônicos e bem diretos com o momento.

Enfim, se olharmos a fundo é um filme até que simples, mas tem muita técnica e muita desenvoltura tanto de atuação quanto de direção, passando algo bem emocional e divertido de ver na tela, então fica a dica para quem gosta de comédias dramáticas leves bem criativas no cinema. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais novos textos, então abraços e até lá.


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