Meu Nome é Gal

10/14/2023 02:41:00 AM |

São poucos diretores que conseguem escolher bem como passar uma história biográfica para a telona sem perder envolvimento e/ou estragar a personificação de alguém importante, e Gal foi uma das vozes e pensamentos mais marcantes do país, sabendo entoar multidões e se encaixar bem dentro da sociedade que defendia, então com anos de carreira de sucesso ficaria bem difícil detalhar tudo no tempo de uma obra, mas não para as diretoras de "Meu Nome é Gal" que optaram por trabalhar os anos 60-70 e com isso mostrar como uma jovem cantora tímida, mas de um vozeirão imenso se transformou no que conhecemos como uma mulher marcante e imponente. Ou seja, é um filme de uma época bem específica, mas que funciona incrivelmente tanto pela direção e roteiro precisos de escolhas, quanto pelas excelentes atuações e timbres de vozes, mas sem dúvida aí é que entra o nome que estampa o pôster: Sophie Charlotte, pois a atriz não apenas incorporou Gal, mas se transformou por completo e entregou nuances tão precisas que seu nome vai ser muito lembrado pelo que fez na telona.

O filme acompanha a trajetória de Maria da Graça Costa Penna Burgos antes de se tornar a famosa cantora. Sempre tímida quando criança, Gal decidiu se arriscar na vida e se mudar para o Rio de Janeiro aos seus 20 anos de idade. Coincidentemente em uma das cidades mais bonitas do país, a cantora acaba encontrando amigos como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Dedé Gadelha, que acompanham os primeiros passos de Gal na música profissional no final da década de 1960. Com dois amigos ajudando a dar o empurrão na carreira de Gal, ela precisará enfrentar a timidez, mas a medida que vai se soltando, ela - junto com outros artistas - formam o movimento da Tropicália. Depois de tanto sucesso, Gal acaba tendo um período de depressão, quando seus dois amigos são exilados na ditadura. Esses são os episódios retratados no longa.

Em 2017 a diretora Dandara Ferreira entregou seu primeiro documentário "O Nome Dela é Gal" aonde pesquisou muito sobre a cantora, pegou entrevistas e muitos materiais o que resultou em sua vontade de ir além e fazer uma cinebiografia sobre a cantora, e ao se juntar com a diretora Lô Politi, a qual só tenho elogios em seus dois longas anteriores, que desenvolveu também o roteiro aqui o resultado foi algo muito brilhante de ver na tela, pois até podemos tecer a crítica de que a protagonista não ficou tão igual visualmente à verdadeira imagem da cantora, mas seus trejeitos, seu tom de voz (inclusive cantando) e as opções que fizeram de filmar também algumas imagens com câmeras antigas para criar um aspecto documental por vezes, os ângulos precisos para passar todo o sentimental nos olhares da protagonista (algo que Lô domina desde os seus primeiros trabalhos), e a desenvoltura de escolherem um período marcante na vida da cantora que foi o seu desabrochar realmente para a explosão, só tinha como dar certo, ao ponto de nos cativar desde o primeiro segundo de tela até o último com aquele gostinho de quero mais, e assim sendo perfeito com roteiro, direção e montagem, com um reflexo forte da ditadura e também de tudo o que queríamos ver para conhecer mais a cantora.

Sobre as atuações é difícil expressar o que vi na tela com Sophie Charlotte sendo Gal, pois pode até não ter ficado tão parecida com a homenageada oficialmente, afinal ela tinha um estilo mais diferente de rosto e boca, mas os trejeitos, a personalidade forte, o cabelo bem bagunçado, e a voz com um timbre tão semelhante que em vários momentos a atriz canta realmente na produção (nas cenas com mais atores), e dubla em alguns atos mais marcantes de gravações e festivais, mas sem errar, sem tirar o estilo, e sendo imponente demais ao ponto de merecer muitas palmas pelo que fez. Outro que entregou muita personalidade na tela foi Rodrigo Lelis fazendo Caetano Veloso (aliás se for rolar cinebiografia desse cantor, já pode colocar o nome do rapaz no primeiro lugar na lista), pois se jogou por completo, trabalhou trejeitos bem encaixados e foi muito sucinto de movimentos junto da protagonista o que acaba agradando demais. Ainda tivemos bons atos marcados com Luis Lobianco como Guilherme Araujo, empresário de Gal e Caetano, muito envolvimento de Camila Márdila como Dedé Gadelha e a própria diretora Dandara Ferreira entregando cenas bem encaixadas de Maria Betânia, isso sem falar em Dan Ferreira como Gilberto Gil e George Sauma como Wally Salomão, ou seja, praticamente todos os ícones da Tropicália foram bem representados na tela, e os atores souberam ser imponentes, sem tirar o brilho da protagonista.

Visualmente o longa foi bem preciso mostrando várias festas aonde todos os personagens se ajuntam nos apartamentos de alguns, tudo bem rico de detalhes de época, vemos alguns festivais bem imponentes e marcantes com todo um trabalho rico de figurino e de postura da personagem, e falando em figurino e claro cabelo, a equipe trabalhou minuciosamente para representar bem a cantora, dar o máximo de detalhes para que parecesse em algumas épocas, e claro também tivemos cenas na praia, aonde sempre usando de artifícios das câmeras simples que usavam para filmar, a equipe conseguiu retratar o estilo, a gramatura e até muitas cenas dos arquivos pessoais dos artistas, isso sem falar em alguns materiais documentais que mostram toda a truculência da ditadura na época aonde alguns foram exilados para não serem mortos nos seus embates e opiniões.

Enfim, nem vou falar das excelentes canções colocadas, pois todos sabemos das obrigatórias, e foram precisos nas escolhas, mostrando inclusive como algumas acabaram sendo formatadas para Gal, e assim sendo é um deleite todo o ritmo gostoso e envolvente que a trama ficou, ou seja, é daquelas biografias tão boas que quem não conhecia Gal vai querer ouvir muito mais dela, e quem já conhece ficará ainda mais fã e emocionado com tudo o que acabaram entregando, sendo mais do que bem recomendado. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

PS: Só não vou dar 10, valendo até um 9,5 para cima, por talvez não ter ficado tão parecida visualmente a protagonista com a homenageada, e por querer mais na tela, já que facilmente daria para o filme ter umas quatro horas que não cansaria nada, e sendo assim vou pesar um pouco a mão.


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