Verão de 85 (Été 85) (Summer of 85)

11/20/2020 12:44:00 AM |

O Festival Varilux sem um filme de Fraçois Ozon não é Festival Varilux, pois como o diretor francês lança quase todo ano um filme, é claro que todo ano temos um bom exemplar dele para conferir no Festival, e posso falar que esse ano foi seu filme que mais me agradou (e a crítica em geral não gostou!) por trabalhar ainda um longa artístico, mas com uma cara comercial jovem, gostosa de conferir, e que não força a aceitação de nenhum título reflexivo, criando algo que mistura estilos de tantos filmes de sucesso que já vimos como "Me Chame Pelo Seu Nome", "As Vantagens de Ser Invisível", entre outros, mas que ao mesmo tempo não se parece com nenhum deles, sendo algo original e muito bem feito, que flui do começo ao fim, que não sendo contado de uma forma linear casual instiga o espectador a querer saber o desfecho, e que mesmo na metade já tendo descoberto praticamente o motivo de tudo, o resultado ainda surpreende positivamente fazendo com que nosso sorriso revele tudo. Ou seja, é daqueles filmes que merecem ser lembrados sempre que alguém pedir uma boa indicação.

A sinopse nos questiona o que você sonha quando tem 16 anos e está em um resort à beira-mar na Normandia na década de 1980? Um melhor amigo? Um pacto adolescente ao longo da vida? Sair em aventuras em um barco ou moto? Viver a vida a uma velocidade vertiginosa? Não. Você sonha com a morte. Porque você não pode dar um chute maior do que morrer. E é por isso que você o salva até o fim. As férias de verão estão apenas começando, e essa história relata como Alexis cresceu em si mesmo.

O diretor François Ozon costuma trabalhar mais com longas introspectivos, com nuances fortes e temas que geralmente causam certo estranhamento do público, e que na maioria das vezes ou amam ou odeiam o que ele entrega, e claro sempre com algum cunho sexual, mas que funciona dentro da proposta passada, e aqui adaptando um livro de Aidan Chambers, ele conseguiu criar algo tão bem feito, cheio de boas nuances, com um romance casual e normal de vermos, cheio de beleza no começo, mas lotado de ciúmes depois, e que fazendo uma ótima mistura de mistério, de romance policial, de autores de livros, e claro de romance de verão acabou entregando uma proposta dinâmica com bons momentos clássicos, mas ficando um filme menos cult do que usualmente ele faz. Ou seja, é claramente um filme de Ozon pelas mensagens e ideias que vemos a todo momento perpetuando a cabeça do protagonista, porém é tão mais leve e gostoso de conferir que confesso que só acreditei ser um longa dele pelos créditos.

Sobre as atuações, chega a parecer fácil tudo o que Félix Lefebvre faz com seu Alexis, pois o jovem se joga no personagem, faz caras doces e preocupadas com a mesma leveza, e se entrega para que os momentos sutis ficassem gostosos de ver, mas também que os mais duros e tensos soassem reais sem parecer forçados, ao ponto que seu carisma é bem encaixado, e facilmente veremos ele como em breve mais um dos galãs franceses, ou seja, foi muito bem dirigido e mostrou potencial para decolar. Já Benjamin Voisin trouxe para seu David todo um gingado clássico e sedutor, com olhares diretos, uma pegada mais preparada para cada momento sempre com um sorriso de lado, e trabalhando trejeitos e diálogos marcados acabou levando fácil o jovem para seu lado, mostrando personalidade tanto do ator, quanto do personagem, e assim sendo um bom acerto mesmo que em alguns atos pareça levemente forçado. Phillippine Velge até fez bem sua Kate, tendo alguns momentos importantes e bem colocados, mas a personagem é praticamente um símbolo apenas para a trama, ao ponto que no começo até imaginamos que vá levar para algum outro caminho, mas ocorre outro completamente diferente, ou seja, a jovem fez bons trejeitos, mas foi mais usada do que trabalhada realmente. E quanto aos demais, serviram realmente apenas para dar conexões e reflexões para os garotos, tendo leves destaques claro para Valerie Bruni Tedeschi como Madame Gorman, Melvin Poupaud com seu Lefèvre e Isabelle Nanty com sua Madame Robin.

Visualmente o longa entrega uma locação incrível numa das praias de Le Tréport na Normandia, com um visual completamente bem trabalhado para representar os anos 80, com figurinos, parques, casas, automóveis e tudo mais, e inclusive com uma fotografia meio que suja para parecer ter sido filmado também na época, ou seja, um trabalho conjunto da equipe de arte que arrumou walkmans clássicos para dar boa representatividade, com a equipe de fotografia que procurou colocar todas as nuances de cores bem marcantes resultando em sombras e momentos incríveis sejam na praia, na casa dos protagonistas, no parque, no necrotério ou no cemitério, funcionando sempre.

A trilha sonora do longa é repleta de sucessos dos anos 80, valendo demais a conferida e o melhor é que ambas as canções principais ("Inbetween Days" do The Cure e "Sailing" de Rod Stewart) encaixaram como uma luva na proposta da trama, ou seja, é ouvir e completar o longa, e claro que deixo aqui o link para conferirem todas as canções.

Enfim, é um longa que diria ser quase perfeito, pois talvez um pouco mais de emoção em alguns atos dramáticos para comover o público seria de bom grado também, mas nada que atrapalhe o resultado final, valendo demais a conferida, e que torço para que seja lançado comercialmente nos cinemas do país ou em alguma plataforma de streaming, pois no Festival Varilux ao menos por aqui só terá mais uma sessão e certamente com a pandemia não irá lotar, mas fica a dica para quem puder ver conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com muitos textos, então abraços e até logo mais.


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