Netflix - Gun City (La Sombra De La Ley)

11/11/2020 01:08:00 AM |

Já venho falando há algum tempo sobre a qualidade do cinema espanhol nos últimos anos, e a cada filme que vejo mais tenho certeza disso. Hoje após conferir "Gun City", que não é uma produção nova, mas que hoje a Netflix acabou me indicando, vi que o nível de produção anda tão grande que chega a impressionar, afinal vemos uma obra de época gigantesca, envolvendo todo o tipo de polícia espanhola desde o exército até chegar nos policiais corruptos, máfia, cabarés, anarquistas, grevistas, e tudo mais que se possa pensar, num jogo de puxadas de tapetes imenso que certamente valeria ser desenvolvido melhor como uma série para que todos os personagens pudessem se desenvolver melhor, ou então cair nas mãos de algum diretor mais sucinto que conseguisse trabalhar a história sem precisar abrir tanto. Digo isso não por achar o que foi mostrado ruim, muito pelo contrário, é uma tremenda história bem desenvolvida que tem estilo, classe e uma abertura ampla para tudo, porém poderiam ter escolhido melhor não desenvolver tantos personagens como filme, ou encarar de vez o tema e fazer uma série de uns 4 capítulos, aonde tudo seria bem desenvolvido e o resultado surpreenderia mais ainda, mas como foi feito assim, garanto que quem gosta de uma boa história de época com muitos tiros, mortes, personagens duplos e tudo mais vai curtir bastante toda a ideia, e sendo assim acabo recomendando ele.

A sinopse nos conta que nos tempos difíceis e convulsivos da Espanha de 1921, Aníbal Uriarte é um soldado veterano da Guerra do Marrocos reconvertido como policial que é enviado por seu superior da capital da Espanha, Madrid a Barcelona (Catalunha, nordeste da Espanha) para localizar uma quantidade importante de armamento militar de um trem, roubado aparentemente por anarquistas revolucionários. A sua chegada à cidade Uriarte conhece o Inspetor Rediú, um oficial corrupto que junta outros policiais como o violento Tísico e o jovem Beltrán, e El Barón, dono do famoso cabaré Edén onde explora a suas bailarinas como Lola, filmando ademais filmes adultos implicando menores e mulheres lésbicas apenas para os olhos da alta sociedade. Ao mesmo tempo Salvador Ortiz é o líder de uma revolta pacífica em uma importante empresa da cidade, na luta pelos direitos dos trabalhadores, e a filha e telefonista de Salvador Sara lidera sua própria revolução em defesa dos direitos das mulheres. Aprendendo a se mover rapidamente em um mar de conspiradores, corruptos e traidores, Uriarte faz um acordo com El Barón fora de Rediú para trabalhar para ele como informante e, pouco tempo depois, salva Salvador para morrer durante um ataque policial na propriedade fabril de García Serrano, rico empresário que é contatado por El Barón na esperança de que Serrano use suas influências para ser admitido no El Liceo, o clube mais importante da cidade reservado aos mais ricos e privilegiados. Portanto, a situação se agrava depois que León, um jovem trabalhador determinado a pegar em armas e liderar uma revolução sangrenta contra os costumes pacíficos de Salvador, e os suspeitos de Tísico sobre o próprio Uriarte o acreditarem como um perigo para os negócios ilegais de Rediú. Com o tempo se esgotando e o general Martínez Anido querendo fazer uma invasão militar em Barcelona para matar os anarquistas, a única esperança de Uriarte para evitar um massacre e um possível golpe de Estado na Espanha é localizar as armas roubadas e expor a corrupção de Rediú e também de El Barón, entrando em contato com Salvador e Sara em busca de ajuda. Mas será que Uriarte sobreviverá o suficiente para salvar a cidade e a si mesmo do perigo iminente que ameaça matar cerca de milhares de pessoas?

Diria que foi a sinopse mais longa que já arrumei, e por incrível que pareça ela não conta tudo o que acontece (assim dá para perceber que uma série seria muito melhor como disse no parágrafo inicial), pois toda essa desenvoltura caiu nas mãos do diretor Dani de la Torre, que mais do que apenas desenvolver tudo, soube amplificar cada momento, cada história paralela, incorporar sínteses bem marcadas de personagens, e ao ir criando tudo isso, pode mostrar cenários incríveis e muitas cenas de ação com dramaticidades na medida certa. Ou seja, é daqueles filmes que vamos tentando entender um pouco mais quem é o protagonista, e realmente qual sua ideia de tudo, de modo que vamos fluindo com o que vemos e acabamos tão envolvidos com as situações que já passamos a torcer por situações, ficamos bravos com alguns acontecimentos, e claro vamos até o fim esperando que tudo seja bem explicado e mostrado, o que infelizmente não é, pois como sabemos bem, tramas de máfia e policiais duplos, o resultado sempre acaba com um mistério aberto, e assim sendo, a trama vai bem do jeito tradicional, e agrada ao menos com a proposta.

Se eu quisesse falar de todos os personagens importantes na trama acabaria fazendo um livro aqui, pois são muitos personagens e bons atores, de modo que acabam agradando bem em tudo o que fazem, e volto a frisar que talvez uma série desenvolveria melhor cada um. Dito isso, é claro que tenho de falar de Luis Tosar, que deu um bom tom para seu Uriarte, envolvendo muito mistério nos olhares, e claro uma boa habilidade com tiros e socos para que seu personagem fosse forte e direto, ao ponto que o acerto acaba sendo perfeito. Tenho de falar também do principal policial corrupto, que Vicente Romero acabou entregando cheio de trejeitos e manias, fazendo seu Rediú com muita precisão e agradando bastante junto de seu principal comparsa Tísico vivido por Ernesto Alterio, completamente maluco. Manolo Solo acabou trabalhando seu El Barón com um estilo bem marcado para um mafioso dono de bordel, mas poderia certamente ter ido bem além em tudo, indo mais para um lado cínico para chamar atenção, mas não errou, e assim sendo foi bem. Pelo lado dos anarquistas/grevistas, diria que Paco Tous, que é muito conhecido pela série de sucesso que fez, entregou alguém calmo demais para o personagem Salvador, tentando ser pacífico num personagem que certamente poderia ir além, mas chamou a responsabilidade para si, e foi bem ao menos, enquanto Jaime Lorente já partiu para o lado revolucionário e até ousou um pouco em algumas cenas com seu León. Quanto das mulheres, diria que as duas protagonistas tinham até mais para falar e mostrar, mas entregaram bem seus momentos, ao ponto que vemos bem a dançarina Lola vivida por Adriana Torrebejano mandar bem nos atos de dança e claro ter sua ideia mantida, e a grevista Sara vivida por Michelle Jenner foi dinâmica em algumas cenas, mas em outras pareceu tão sem expressão que chega a desapontar, mas não atrapalhou ao menos. Quanto aos demais, fizeram boas conexões e não atrapalharam, ao ponto que é melhor apenas conferir o que fizeram.

No conceito visual posso dizer que gastaram e muito para fazer todo o filme, pois a reconstrução de época foi incrível, vemos sim alguns detalhes computacionais exagerados para criar tudo que não foi possível de forma real, mas ainda assim tivemos figurinos, carros, armas, todo o ar do cabaré, várias cenas sindicais e tudo mais, fazendo com que a equipe de arte tenha precisado pesquisar muito e entregar algo tão preciso que acabamos entrando no clima, e praticamente viajando cem anos atrás, pois é lindo de ver, e o acerto foi preciso.

Enfim, é daqueles que certamente vou lembrar quando pensar em um bom filme espanhol de época, que cheio de boas desenvolturas acaba agradando, porém diria que ele é longo de essência, mas curto para mostrar tudo que poderia ser desenvolvido ainda, mas que agrada bem quem gosta do estilo, valendo assim a recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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