A Boa Esposa (La Bonne Épouse) (How To Be a Good Wife)

11/18/2020 11:34:00 PM |

Diria que a proposta do filme "A Boa Esposa" é bem interessante por mostrar dois opostos completos dos conceitos de esposa antes e depois de 1968 (ao menos no longa colocam essa data sendo na França, mas em muitos países acabou demorando bem mais para mudar esses conceitos), com toda uma dinâmica bem trabalhada para mostrar a escola de atos comuns da vida doméstica para formar boas esposas e que usando de uma ideologia até bobinha acaba colocando em cheque situações corriqueiras que hoje pensamos de forma abusiva, mas que eram bem comuns anos atrás, porém o filme tem uma quebra no miolo que resulta em atos que divergem bem da essência colocada para a protagonista, ao ponto que muito do que acaba ocorrendo não bate, e não que isso seja ruim, mas apenas o choque da morte do marido e do encontro com um ex-namorado não seriam suficientes para tanto. Ou seja, o filme tem um conceito divertido gostoso de acompanhar, que faz rir em várias cenas, tem ares bobinhos e bem feitos em vários momentos, mas ficou parecendo que precisava mudar de vértice sem saber como, e apenas mudaram tudo, o que não é ruim, mas acaba sendo uma falha grande. 

A sinopse nos conta que Paulette Van Der Beck e seu marido dirigem a escola de limpeza de Bitche na Alsácia há muitos anos. Sua missão é treinar adolescentes para se tornarem donas de casa perfeitas no momento em que se espera que as mulheres sejam subservientes ao marido. Após a morte repentina de seu marido, Paulette descobre que a escola está à beira da falência e tem que assumir suas responsabilidades. Mas enquanto os preparativos estão em andamento para o melhor programa de TV da competição doméstica, ela e suas animadas alunas começam a questionar suas crenças enquanto os protestos de maio de 1968 em todo o país transformam a sociedade ao seu redor.

O diretor e roteirista Martin Provost trouxe boas dinâmicas para seu filme, mostrando um começo mais centrado trabalhando o cotidiano das garotas que ingressam na instituição para aprender a ser uma boa esposa subserviente ao marido geralmente enviada pelos pais que já possuíam pretendentes para elas, e claro que sendo obrigadas a fazer algo que não desejavam o resultado são brincadeiras e tudo mais rolando, de forma que esse primeiro ato além de apresentação acabou servindo de direcionamento para um rumo esperado pelo público, aonde talvez fosse mostrado mais quebras de conceitos pelas jovens e tudo mais, até que o diretor nos permeia com o segundo ato, da morte do diretor do instituto, e com a protagonista descobrindo suas dívidas, de forma que o longa acaba rumando para algo completamente diferente, com a protagonista descobrindo o amor real, e vários pequenos problemas rolando entre as garotas, além de surgir uma bizarra gravação de comercial de um campeonato, mas tudo parecendo morno demais de atitudes para com a história, até que o diretor resolve entrar no fechamento, aonde é colocado todo o baque dos protestos com uma notícia no rádio, e eis que o filme vira um musical bollywoodiano mostrando os novos conceitos de esposa, que ficou até que bem engraçado, e daria para seguir muito bem em cima disso, mas pronto, acaba. Ou seja, o diretor errou na divisão de tempos de sua trama, tendo um primeiro ato arrastadíssimo, um miolo rápido e desconectado de tudo, e um fechamento instantâneo que merecia um desenvolvimento melhor, e assim sendo o filme resulta em algo sem explosão, que cansa um pouco.

Quanto das atuações é fato que Juliette Binoche acaba se destacando totalmente com sua Paulette, pois a veterana atriz entrega com sua personagem exatamente o que o filme tenta passar na sua essência, ou seja, as três fases da mulher/esposa, e é notório como ela trabalha trejeitos bem marcados e diferenciados, ao ponto que chegamos a pensar até que houve uma mudança de atriz, e isso é acertar em cheio, pena que não foi muito além com sua última versão, pois ela iria bem longe. Yolande Moreau trouxe uma Gilberte bem fechada, praticamente cheia de dores, com uma vida regrada e sem explosões de carisma, sempre ensinando as garotas a cozinhar, e sem muito ânimo, porém sua virada é bem bonita e inteligente, cheia de postura e acaba agradando bastante, mas assim como aconteceu com Binoche, só teve uma cena para isso, então nem foi muito além. Noémie Lvovsky entregou uma Marie-Thérèse muito engraçada com suas paranoias, ao ponto que a personagem segura a maioria da responsabilidade cômica da trama sem precisar forçar, e com cenas até malucas demais funciona dentro da proposta. Quanto dos homens do filme, Fraçois Berléand teve alguns atos simples com seu Robert, até morrer no miolo sem quase ter aparecido muito, e Edouard Baer fez toda uma revolução na cabeça da protagonista com seu André charmoso e direto nas atitudes, mas também não foi muito além com trejeitos marcantes, acertando fazendo o simples ao menos. Quanto das garotas vale a pena destacar apenas Marie Zabukovec com sua Fuchs de mente mais aberta e cheia de namoricos escondidos, mas as demais foram bem também, porém sem chamar muita atenção.

No conceito visual a trama trabalhou de uma forma simbólica, mostrando bem a instituição principal, trabalhando para colocar os afazeres domésticos tradicionais de uma maneira bem encaixada, e com bons elementos cênicos tudo acaba funcionando, porém poderiam ter ido bem além em tudo para que o filme tivesse um conteúdo a mais, porém no conceito figurinos a precisão foi bem certeira, e assim sendo vale cada detalhe escolhido.

Enfim, o longa está longe de ser ruim, mas também teve uma dinâmica que não empolgou como poderia, afinal a história tinha muito potencial de trabalhar, mas que acabou não indo além para nenhum lugar, de forma que cansou na mesma proporção que divertiu, e assim sendo vale a conferida com uma boa quantidade de ressalvas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com vários outros textos do Festival Varilux de Cinema Francês, então abraços e até logo mais.


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