Notre Dame (Notre Dame)

11/24/2020 01:08:00 AM |

Tem uma coisa que sempre me intriga em algumas comédias, que é o fato do roteirista saber o momento exato de parar de forçar a barra, ou inventar mais coisas para pôr na trama, e com isso acertar em cheio a proposta de fazer rir e agradar, porém a maioria acha que o mote principal não vai dar assunto, então resolve começar a colocar um pouco de tudo, aí começa a desandar e desanimar sem rumo de voltar a funcionar. E foi exatamente o que ocorreu com a comédia "Notre Dame", que inicia já com algo fantasioso e exagerado de uma maquete voando, até aí vai, liberdade artística, depois começa várias bagunças na reforma que é escolhida, aí ok afinal é o mote da trama, e então começa a bagunça com o conflito amoroso com uma paixão antiga, uma gravidez e o pai dos filhos que não quer sair de casa e vive pelado passeando pela casa, mesmo depois de separado, ou seja vai aceitaríamos como um fechamento bagunçado e tudo mais, mas aí entra músicas nada a ver, danças com letreiros estilo filme-mudo, um atentado químico, um passeio de bicicleta a lá "ET - O Extraterrestre", ou seja, se perderam completamente do segundo ato em diante, sem saber como terminar a história, e pra ajudar toda essa bagunça acabou praticamente apagando toda a história da reforma. Ou seja, é daqueles filmes que até tem uma proposta, mas resolveram arremessar um pouco de tudo para ver se dava certo, e nem lembraram mais qual era a proposta realmente, ao ponto que chega a desanimar na metade, e olha que o filme tem apenas 90 minutos (mas que pareceram pelo menos umas 3 horas com o tanto de coisa mostrada!).
 
A sinopse nos conta que Maud Crayon, arquiteta e mãe de duas crianças, conquista – graças a um mal-entendido – o grande concurso promovido pela prefeitura de Paris para reformar o pátio diante da catedral de Notre-Dame... Às voltas com essa nova responsabilidade, ela se vê em meio a uma tempestade ao ter de lidar ao mesmo tempo com um antigo amor da juventude que reaparece de repente e com o pai de seus filhos, a quem não chega a abandonar completamente.

Se tem uma coisa que costumo reclamar e quem me acompanha sabe bem é a pessoa querer fazer todas as funções possíveis e imaginárias, pois em 90% dos casos dá errado, e aqui a diretora, roteirista e protagonista Valérie Donzelli até foi bem com sua personagem, porém bagunçou demais no roteiro e na direção, ao ponto que qualquer outro diretor teria eliminado uns 30-40% da trama, e reescrito pelo menos uns 20% das situações para que o filme ficasse preso dentro da história da reforma, do julgamento do processo de construção e até talvez trabalharia alguma coisa inusitada do romance com o jornalista, mas só, tirando todo o restante desnecessário e bagunçado demais, ao ponto que ficaria um filme direto, divertido e bem trabalhado. Ou seja, vemos um resultado tão absurdo que ela fez, que até esquecemos quase da bagunça do projeto de reforma, e isso é triste demais, pois daria muito mais conversa, o julgamento poderia ser uma bagunça maior e funcionaria, mas o restante colocado não coube de forma alguma na trama, mostrando algo que ela tentou forçar para fazer rir, e acabou soando mais bizarro do que engraçado, e assim sendo desandou e desanimou demais.

Sobre as atuações, diria que ao menos aqui a diretora Valérie Donzelli acertou a mão, fazendo com que sua Maud tivesse uma boa dinâmica, olhares confusos e desesperados com tudo, e principalmente uma boa sintonia com todos os personagens, ao ponto que dosou todas as loucuras, e os acertos caíram bem na sua interpretação. Pierre Deladonchamps até teve alguns bons momentos com seu Bacchus, trabalhando bem as emoções mostrando uma paixão aguda pela protagonista, e claro um bom destaque na cena do julgamento, mas foi mal aproveitado, pois poderia ter ido além em muitas cenas como jornalista, mas ficou apenas atrás das câmeras quase sendo um enfeite ali. Thomas Scimeca acabou sendo abusivo e exagerado demais com seu Martial, ao ponto que chega até incomodar suas cenas bobas, mas foi uma opção do filme, eu teria eliminado ele logo na primeira cena, e pronto partiu para a próxima. Quanto aos demais, ainda tivemos boas cenas com Bouli Lanners com seu Didier cheio de vontade de ajudar, mas que acabou sendo usado num subromance desnecessário para a trama, e Virginie Ledoyen acabou caindo de paraquedas com sua Coco, sendo a tia que acaba cuidando das crianças e também acabou sendo jogada no romance desnecessário com Didier, ou seja, personagens extras usados para enfeitar a trama.

Visualmente a trama teve bons momentos na prefeitura de Paris e na frente da catedral de Notre Dame, alguns atos bobos no apartamento da protagonista (aliás o momento do aluguel de quartos e venda de gnochi foi algo para apagar da mente de tão bizarro, embora bem produzido pela equipe de arte), várias cenas de desenvolvimento dentro de uma agência, que também não vai muito além, mesmo com quase todo o projeto rolando ali dentro, e claro várias cenas dentro de um tribunal e na sala bem bagunçada de uma advogada, que até aparentava fluir para algum rumo, mas não chegou muito longe, ou seja, deram uma trabalheira imensa para a equipe de arte, mas tirando o lance da maquete voando, o restante das cenografias foi algo bem inútil.

Enfim, é daqueles filmes que de tão bagunçados até acabam fazendo rir, e como digo, o resultado forçado até tenta algo a mais com o espectador que gosta de filmes non-sense, mas com toda sinceridade não tenho como recomendar o longa para ninguém por todas as falhas possíveis e imaginárias colocadas no segundo e terceiro atos da trama, pois se seguisse mesmo com muitas bobagens a ideia do primeiro, o resultado seria ainda estranho, mas bom de conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.


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