Gagarine (Gagarine)

11/26/2020 01:19:00 AM |

Sempre é bacana conferir filmes que acabam trabalhando tanto o conteúdo social quanto uma ficção envolvente bem colocada, e com "Gagarine" temos praticamente algo que mostra um jovem tentando ao mesmo tempo que evitar a demolição do prédio em que viveu toda sua vida, e ainda manter viva seu sonho de ser um cosmonauta, ao ponto que a trama pelo elo social lembra um pouco o brasileiro "Aquarius", porém com muito mais ficção e fantasia, de modo que vemos a trama de uma forma bem emocionante, com toda a ideia de sustentabilidade do garoto, e claro também o surto pelo frio ao final. Porém o longa necessitou muito tempo para passar a mensagem que queria, e com isso acabou se alongando demais, ao ponto que os 95 minutos da trama poderiam facilmente ser cortados para uns 80, e ainda seria muito bem feito e bonito pela essência. Ou seja, é um filme bem trabalhado, porém alongado demais, e mesmo não cansando, acaba perdendo a dinâmica no miolo.

O longa nos conta que Youri, 16 anos, cresceu em Gagarin, uma enorme cidade de tijolos vermelhos em Ivry-sur-Seine, onde sonha em se tornar um cosmonauta. Quando ele descobre que a Gagarin está ameaçada de demolição, Youri decide se juntar à resistência. Com a cumplicidade de Diana, Houssam e dos habitantes, sua missão é salvar a cidade que se tornou sua “nave espacial”.

Os diretores e roteiristas Fanny Liatard e Jérémy Trouilh até foram bem no estilo, criaram diversas cenas com uma emoção bem colocada, trabalharam os personagens com uma vivência gostosa e imponente, e claro discutiram as famosas desocupações de casas, trailers e apartamentos populares que existem em todos os países seja pelo motivo que for, de maneira que causa diversos sentimentos no público que confere a trama. Ou seja, num primeiro momento o filme entrega algo duro, polêmico e cheio de questionamentos políticos e diretos, mas num segundo vemos o jovem como alguém esforçado, abandonado pela família e pelos amigos, mas que com muita força de vontade, e claro conhecendo bem a vida dos cosmonautas, acaba criando em seu apartamento sua nave preparada para a decolagem completa, só não contando com um inverno rigoroso, e claro os diversos produtos químicos que tinham no prédio, ou seja, é um filme inteligente e envolvente que funciona bem dentro do que se propôs, mas certamente poderiam ter ido muito além em ambas as discussões.

Sobre as atuações, diria que os jovens foram expressivos com uma certa timidez exagerada, ao ponto que Alseni Bathily fez um Youri introspectivo demais, sempre com um semblante tímido e até levemente triste, e mesmo nos atos mais românticos o jovem não se mostrou muito imponente, de forma que ele faz bem sua aventura particular, mas poderia ter interagido e chamado mais atenção pela atuação em si do que pelas dinâmicas do roteiro. Lyna Khoudri trouxe uma Diana já mais agitada, contrapondo bem com o protagonista, e até mais ousada nas atitudes, com uma síntese até que interessante pelo ato cultural em si, mas não foi usada ao máximo pela trama. Finnegan Oldfield acabou chamando atenção com seu Dali, de modo que o jovem traficante e usuário colocou boas expressões e mesmo não estando na classificação de protagonista, conseguiu chamar atenção, e agradou com simplicidade e certos exageros expressivos. Quanto aos demais, é até engraçado que o amigo Houssam vivido por Jamil McCraven não teve tanta explosão chamativa pela dinâmica do filme, já Farida Rahouadj trouxe um ar quase que de mãe para o protagonista com sua Fari, sendo assertiva em alguns atos, e até chegando a chamar atenção, ou seja, diria que ambos se destacaram um pouco, mas nada muito destacado.

Visualmente o longa tem momentos bem montados pela direção de arte, principalmente no segundo ato quando o jovem transforma seu apartamento em uma colônia espacial, com direito a muitos detalhes, muita sucata, e principalmente com uma coerência perfeita para com o que é desenvolvido realmente nas naves, ou seja, uma boa pesquisa e um trabalho bem minucioso, mas além disso tivemos uma boa representação do grandioso complexo de prédios, muitas imagens de arquivos, e claro toda a preparação para a demolição, além de mostrar a simplicidade de famílias estrangeiras que se aglomeram em trailers.

Enfim, foi um bom filme, que certamente poderia ter ido bem além, pois a proposta foi bonita, as interações funcionaram, mas ficaram presos demais pela introspecção do protagonista, e com isso o longa não fluiu tanto, porém ainda assim recomendo o longa pela essência bem mostrada, e claro pela discussão social passada. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, já quase encerrando os filmes do Varilux, voltando em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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