Névoa Prateada (Silver Haze)

4/14/2024 02:13:00 AM |

Quando vejo um filme aonde o personagem principal possui algum tipo de trauma, seja por acidente, por algum conflito familiar, ou até mesmo pela própria vida, já fico preparado para altos momentos de introspecção aonde você nem fica esperando a pessoa se soltar, pois o ator/atriz já vai preparado para ser fechado ao máximo e deixar que a história ande sem precisar dele, então é de praxe não termos filmes que você acabe se surpreendendo com algo ou se impactando com o resultado, e isso não é ruim, pois é do próprio filme, e funciona. E confesso que quando recebi a cabine de "Névoa Prateada" fiquei pensando aonde a trama poderia chegar, pois nos é contado que a jovem é obcecada por vingança pelo que aconteceu com ela, e depois vai viver com uma paciente que tentou se matar, e você pensa, isso pode dar certo? E a resposta está aonde muitos não olham quando veem um problemão, não no viver com alguém problemático, mas sim no mudar de ares, pois as vezes você polui o seu próprio ambiente com tanto rancor que acaba preso ali, e muitas vezes isso acaba ocorrendo com alguns filmes introspectivos, do diretor prender tanto o protagonista ali fechado, sofrendo e tudo mais, e o filme fica denso e cansativo ao máximo sem conseguir se soltar. E aqui foi justamente essa mudança de ares, que vemos a protagonista ir mudando um pouco seu jeito e uma das últimas cenas na praia diz tudo, sem quase não ter diálogos, e o resultado ali, abre para o lado mais bonito e certeiro do fechamento da trama.

O longa nos conta que Franky é uma enfermeira de 23 anos que vive com a família em um bairro no leste de Londres. Obcecada por vingança e com a necessidade de encontrar culpados por um acidente traumático ocorrido há 15 anos, ela é incapaz de se envolver em um relacionamento com alguma profundidade, até que se apaixona por Florence, uma de suas pacientes. As duas fogem para o litoral onde Florence mora com a família. Lá, Franky encontrará o refúgio emocional para lidar com as questões do passado.

Costumo dizer que curto conhecer alguns diretores que nunca vi nada, e depois ver nas filmografias deles que fizeram alguns longas interessantes que saio caçando para dar play neles, e a diretora Sacha Polak ficou bem conhecida pela série que entregou na Prime Video que inclusive é com a atriz desse longa aqui, e o que achei mais bacana na forma de direção dela é o que já disse no começo, dela de não botar seu protagonista ainda mais para baixo quando já se possui um vértice introspectivo, afinal curtir uma depressão é algo que ninguém gosta realmente (tem uns malucos, mas a maioria não curte), e aqui ela usou bem a densidade dramática de uma tragédia para tentar dar vida para uma garota que vive em um ambiente aonde todos estão tóxicos pela tragédia ocorrida, e se não saísse dali o caos iria continuar reinando, e do outro lado vemos uma família que também está com uma tragédia iminente, aonde uma garota tentou se matar, um jovem aparenta ter problemas neurológicos e a mãe está com um câncer, aonde mais um problemático poderia ruir, mas não a vida passa a ser feliz, dar risadas, marcar encontros, e o desenvolvimento acaba ficando até bonito de ver. Ou seja, a diretora mostrou pulso e soube agradar nas nuances, mesmo tendo vários atos de gatilhos possíveis, mas que não se explodem.

Quanto das atuações, Vicky Knight entregou para sua Franky uma personalidade bem densa, mas aberta a novas experiências, de tal forma que não a vemos tanto em seu trabalho como enfermeira, nem tanto em sua explosão cênica de vida, mas sim seus momentos de raiva, sua obsessão em culpar alguém pelo acidente, mas também vemos ela disposta a ir além, o que num primeiro momento também parece ser a vontade de sua parceira cênica, mas como a personagem carrega algo tóxico, acabou permeando um pouco para a outra, que se viu obrigada a sair dali, ou seja, a atriz conseguiu brincar com facetas práticas e se entregou por completo, conseguindo ir bastante além na tela, e detalhe seu corpo é realmente queimado por um acidente que ocorreu quando tinha 8 anos por um incendiário que matou dois de seus primos, enquanto ela ficou com queimaduras graves. Esmee Creed-Miles fez de sua Florence uma personagem ao mesmo tempo solta, mas que vai mudando muito com o relacionamento, de tal forma que não a vemos tão pronta para tudo, e isso a jovem conseguiu passar bem com os olhares e desenvolturas, sendo íntegra de estilo e bem madura com as nuances propostas. Ainda tivemos atos bem marcados com Angela Bruce com sua Alice densa, porém alegre e bem pronta para o que o filme precisava dela, Charlote Knight fazendo uma Leah múltipla de ideais bem diferente de tudo, e até mesmo o jovem Archie Brigden mais retraído com seu Jack conseguiu se entregar nos seus atos.

Visualmente diria que a equipe de arte foi bem sagaz em mostrar duas Londres que não vemos tanto nos filmes, não focando em lugares tradicionais, nem em ambientes próprios para turistas e/ou mais usados para filmagens, vemos bairros periféricos mais simples, e também o litoral do país menos chamativo, aonde vemos nuances que nem são tão chamativas, e nem temos tantos objetos cênicos bem encaixados, sendo apenas marcante mesmo o ato da tentativa de incêndio vingativo, que ali foi algo tenso e forte de acontecer.

Enfim, é um filme que muitos não vão se conectar com a ideia toda, mas que quem se abrir para tudo o que o longa passa conseguirá enxergar algo bem belo na mudança de personalidade da protagonista, e até mesmo refletir sobre o mudar de ambiente para conseguir se mudar interiormente, e nesse sentido diria que o longa foi genial. Sendo assim, recomendo para todos que gostem do estilo conferirem ele nos cinemas à partir do dia 18/04, e fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Bitelli Films pela cabine de imprensa, então abraços e até logo mais.


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