Aumenta Que é Rock'n Roll

4/29/2024 12:50:00 AM |

Já disse algumas vezes que o nosso país possui tantas histórias boas para serem contadas que se quiserem não precisam inventar mais nenhuma comédia novelesca jogada para tentar fazer rir, basta algum roteirista brilhante conseguir os direitos dos diversos livros e procurar bons atores para que tudo seja bem elaborado para divertir e contar como algo inusitado aconteceu para o bem ou não de algo que viveu determinada época fazendo a cabeça das pessoas. E um longa que acompanho, ou melhor que esperava o lançamento, já tem quase dois anos é "Aumenta Que É Rock 'n Roll", que consegue trabalhar bem a história da Fluminense FM, a Maldita, rádio que lançou grandes bandas de Rock no país, que tinha uma pegada alternativa muito maior de programação do que de arrecadação e anunciantes, e que pelo gosto musical dos ouvintes acabou desenvolvendo o setlist do primeiro Rock In Rio, mesmo como a rádio não oficial do evento. Ou seja, é daquelas obras que aparentemente não entregam uma história de cinema, mas que conseguiram ao trabalhar bem toda a identidade e envolvimento de Luiz Antonio Mello com seus amigos e com sua ideologia de algo novo e autêntico que acaba sendo gostoso seguir e sentir toda a ideia completa da trama, como algo que vai até além de um simples filme.

A sinopse nos conta que no fervilhante ano de 1982, quando o Brasil respirava os ares de redemocratização, Luiz Antonio, um jornalista insatisfeito com a caretice das rádios, e o repórter Samuca apostam tudo em um sonho. Eles desafiam todos os padrões e criam a Fluminense FM, que entrou para a história como “A Maldita”, a primeira estação inteiramente dedicada ao rock. Através de estratégias inovadoras, como locução exclusivamente feminina e uma programação autêntica e democrática, a primeira rádio brasileira dedicada ao rock lança gigantes como Blitz, Paralamas do Sucesso, Titãs, Legião Urbana, Barão Vermelho, entre outros. A história acompanha o grupo de amigos que levantou a rádio, movida pela paixão e pelo desejo de transformar o mundo. O filme revela também os bastidores do icônico Rock in Rio de 1985, onde o destino de Luiz Antônio e de sua amada Alice, locutora na rádio, é selado ao som triunfante de Cazuza, à frente do Barão Vermelho.

Já falei outras vezes que não sou seguidor aficionado por nenhum grande diretor nem roteirista, mas tem uma dupla que gosto demais de praticamente tudo o que fazem no cinema nacional que é Tomas Portella e L.G. Bayão, de tal forma que eles conseguem desenvolver histórias bem encaixadas, com pegada e sem precisar forçar a ideia toda, sendo filmes por vezes simples que funcionam bastante, e aqui usando o livro "Onda Maldita" do próprio Luiz Antonio Mello conseguiram passar bem a essência dos anos 80, todo o saudosismo de telefonar usando fichas, muitas fitas K7 e vinis, toda a busca por autenticidade das bandas nacionais explodindo junto com grandes nomes do rock mundial e tudo mais numa desenvoltura única e cheia de nuances, mostrando que tanto o roteirista L.G. Bayão conseguiu trabalhar seu texto com tudo o que lhe foi fornecido, quanto o diretor Tomas Portella conseguiu envolver cada momento da trama, cada elo bem encaixado de uma produção grandiosa de época, cheia de estilos e tudo mais, aonde cada momento representa a força de vontade do jornalista quanto a da equipe de ir além de uma rádio comum, e assim o resultado funcionou bem na tela mostrando técnica e presença cênica com muita classe, saudosismo e funcionalidade.

Quanto das atuações, Johnny Massaro é daqueles atores que se transformam dentro de um papel, de tal forma que você não vê o ator ali na tela, mas sim uma representação de um cara que podemos chamar de Luiz Antonio, e que ele nos convence disso, pois pessoalmente quase ninguém viu fotos reais do verdadeiro na época, e ele se entregou com a vontade no olhar, com a imposição cênica bem encaixada em cada momento seu, e claro também com uma paixão não correspondida pela amada, tendo apenas algumas labaredas durante todo o filme, ou seja, souberam dar muito mais voz para a rádio do que para o relacionamento, e isso foi muito genial de ver tanto da técnica quanto da atuação. Marina Provenzzano trouxe muita espontaneidade e intensidade para sua Alice, conseguindo criar nuances e chamar para si a responsabilidade de muitas cenas, e o resultado acaba funcionando como um algo a mais para a história da rádio. E ainda tivemos muitos outros bons momentos e personagens, cada um tendo destaque em atos diversos, mas sem dúvida vale destacar Orã Figueiredo como um Superintendente meio que preocupado com a falta de anúncios, mas bem colocado para seus momentos e direções com o jovem diretor, tivemos alguns atos emocionais bem encaixados com George Sauma como o grande amigo Samuca, e sem dúvida a representação de Charles Fricks como Roberto Medina foi bem bacana de ver na tela, lembrando bem suas primeiras entrevistas.

Visualmente a trama entregou uma rádio caindo aos pedaços, aonde depois de um grande esforço da equipe ficou hábil a entregar uma boa programação com muitos discos e fitas, vemos alguns shows com bandas que ficaram muito conhecidas após passar pela rádio em lugares simples, mas bem marcantes, tivemos muito dos anos 80 como carros, orelhões de telefone com fichas, fliperamas, e claro muito figurino da época, com camisas da rádio, de promoções das bandas, e claro também o Festival Rock In Rio que optaram por não adaptar os shows e colocar imagens da época na tela, ou seja, tudo muito bem pesquisado e representativo.

Quanto da trilha sonora nem vou entrar em detalhes, pois tem de tudo um pouco, com clássicos e boas escolhas representativas de uma geração toda, e que felizmente uma boa parte resolveram compartilhar no link, então fica a dica para curtir.

Enfim, é um filme honesto sobre a época, que conta bem a história da rádio e suas desenvolturas, conseguindo funcionar realmente como uma trama cinematográfica deve acontecer, que claro não vai empolgar muitas pessoas que não forem fãs de rock, pois estão acostumadas com coisas mais "normais", porém vale a conferida para ver que uma trama nacional tem potencial para ir além de comédias e dramas novelescos. Então fica a dica e eu fico por aqui hoje, voltando amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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