Rivais (Challengers)

4/26/2024 12:12:00 AM |

Costumo dizer que alguns diretores são tão malucos que podemos esperar qualquer coisa vinda deles, e nem dá para considerar Luca Guadagnino como uma pessoa doida, mas sim alguém completamente fora do normal que se fizer um filme de alguém bebendo água, vai ser a pessoa evaporando o sal da água do mar e depois tomando de cabeça para a baixo falando que faz bem para a saúde, pois ele consegue fazer do simples algo tão complexo que chega a irritar. E como fazer essa loucura completa em uma disputa de tênis entre amigos que se apaixonaram pela mesma garota em um torneio quando eram adolescentes/jovens? A resposta é ver "Rivais" nas telonas, pois imaginem um período de mais ou menos uns 15 anos (que é o tempo mostrado do trio na tela), mas com tantas idas e vindas temporais, mostrando eles casados, depois jovens no torneio, volta para o conflitivo meio do presente, vai de volta para eles na faculdade, volta para adulto disputando um último torneio antes de um US Open, vai de volta para um primeiro torneio profissional, e assim vai e vem o filme inteiro, com os personagens trocando apenas seus tamanhos de cabelos e um pouco da maquiagem para parecerem mais jovens ou mais velhos, mas sem perder o ritmo um segundo que seja, bem como num jogo de tênis com a bolinha indo para lá e para cá, mas com um final intenso e com a cena mais bem escolhida possível (não espere um final certinho, já que o filme não é bem certinho da cabeça). Ou seja, confesso que cansei com a intensidade do jogo, ops, do filme, mas que foi bem interessante toda a ideia na tela.

O longa acompanha Tashi, uma tenista prodígio que se tornou treinadora, uma força da natureza que nunca pede desculpa pelo seu jogo dentro e fora do campo. Casada com Art, ela conseguiu transformar a carreira do marido, saindo de um jogador medíocre para um campeão mundialmente famoso. Quando Art está tentando ultrapassar um momento difícil, onde apenas acumula derrotas, a estratégia de Tashi toma um rumo inesperado: ela convence o marido a jogar em um torneio "Challenger" - o nível mais baixo do circuito profissional - onde terá de enfrentar Patrick, o seu antigo melhor amigo e ex-namorado de Tashi. Patrick, que também já foi um talento promissor, agora se encontra esgotado e lentamente caminha para o fim de sua carreira. O encontro dos três pode ser capaz de reacender velhas rivalidades dentro e fora da quadra e resultar em um rumo diferente para a carreira de todos.

Tinha visto o trailer do filme poucas vezes nas sessões, e sinceramente tinha esquecido que o filme era do Luca Guadagnino, pois do contrário teria ido mais preparado para o que iria ver, o que acabou sendo bom, pois o diretor é daqueles que não sabe fazer uma trama simples na tela, pois seu filme poderia facilmente ser entregue em algo bem linear da competição de dois jovens amigos tenistas por uma garota, e o desenrolar depois de um longo tempo sem se verem, quando um deles está casado com ela, e se veem na mesma disputa da juventude em um torneio menor que vão disputar. Resumi o filme em uma frase, mas Luca fez brilhantes e malucos 131 minutos na tela, no melhor estilo de um jogo realmente de tênis com idas e vindas da bolinha, só que no formato do período da vida de cada um, colocando todo um suspense sensual no meio do caminho, aonde quem conseguir não se perder com a trama da mesma forma que o editor não se perdeu (mas que já está na fila da aposentadoria pelo tanto que trabalhou só com um filme) irá ficar tão feliz quanto a protagonista na cena final, afinal é tão simbólico o ato que não tem como não vibrar com o que acontece, mesmo que o filme feche ali, sem ser algo comumente de cinema. Ou seja, é o famoso filme de Luca, que quem já viu um vai saber como acontecerá, mas que ao mesmo tempo não conseguirá imaginar como vai ser, numa famosa confusão mental que só ele sabe entregar em algo que parece simples, mas que não é.

Quanto das atuações, primeiramente vou afirmar que estão mentindo em todas as reportagens do longa falando que praticamente todos os atores não usaram dublês de corpo para jogar tênis na tela, e que apenas foram muito sutis nos cortes para parecer que jogam bem demais, além de terem treinado por meses para jogar "profissionalmente" na tela, pois é impossível o nível mostrado na tela ser de três atores e não três atletas jogando, então vou fingir que acredito e vou falar das atuações somente. Agora a grande sacada do produtor de elenco foi escolher três atores que possuíssem trejeitos joviais e ao mesmo tempo passam ares de adultos para os papeis, pois foi bem fácil trabalhar com eles nas dezenas de épocas em que o filme se passa, e o resultado até impressiona em alguns momentos pelas mudanças que a equipe de maquiagem conseguiu fazer. Dito isso, podem falar o que for de Zendaya, mas ela sabe entregar personalidade, e sua Tashi tem pegada, tem trejeitos marcantes e se desenvolve bem em diversos momentos da trama, conseguindo passar um ar sensual e também um ar de eu sou imponente, agradando e marcando território, para mostrar que tem potencial para conseguir muitos prêmios de atuação em breve. Mike Faist trabalhou seu Art com uma estrutura bem chamativa, conseguindo passar elos mais cansados em alguns momentos, sendo bem daqueles atletas que já ganharam tudo, mas não estão bem nem no campo nem na vida amorosa, e também um ar de amigo que não pega ninguém e fica pro canto quando jovem, ou seja, ele foi escolhido na medida para o papel e conseguiu convencer no que fez. Já Josh O'Connor fez exatamente o inverso de Faist com o seu Patrick, demonstrando o famoso pegador e conquistador que como tenista já está no seu pior momento da carreira, sem dinheiro, sem lugar para ficar, mas sendo direto e bem encaixado nos olhares conseguindo chamar muita atenção em todos os seus atos.

Visualmente boa parte do longa se passa nas quadras de tênis, em quartos de hotéis, dentro de um carro, no refeitório de uma faculdade, dentro de uma sauna e de um vestiário, se desenvolvendo entre lugares mais requintados já que em sua maioria os atletas de tênis são de famílias bem ricas, mas também tem os que sobrevivem na raça, e isso fica claro pela contraposição entre os dois na quadra, com um trocando de camisas, de raquetes, comendo seu líquido proteico durante os intervalos, enquanto o outro apenas tira a camisa para secar, usa uma raquete já amarrada pelos cantos e come uma banana, ou seja, a equipe de arte soube representar bem tudo na tela.

Enfim, não é um filme que você vai falar nossa que obra de arte, que filme impecável, quero ver mais umas várias vezes, mas que vai levar um bom público pelos atores que tem no elenco, e a maioria nem vai entender tudo o que acontece, pois é entregue num ritmo bem agitado tudo, e os detalhes quem perder vai ficar sem saber o que está rolando, mas quem notar exatamente o símbolo na cena final ao menos sairá da sessão bem contente com o que é mostrado. E assim sendo falo que dá para recomendar com certeza o filme para todos (embora a classificação esteja para 14 anos, e tem algumas coisinhas que alguns vão se incomodar), e fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais filmes, afinal essa semana está recheada de estreias, então abraços e até logo mais. 


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