Já elogiei várias vezes o trabalho do diretor Tomás Portella, pois tem sido um dos poucos diretores que ousam brincar em todos os estilos possíveis sem cair em armadilhas e traquejos no percurso, tanto que se faz uma comédia usa bem o estilo com as sacadas tradicionais e se necessitar força um pouco a barra, se precisa de carga dramática pesa a mão para isso, e se vai ter ação não se retrai para o campo seguro, e assim tem acertado bastante nos filmes que fez, e aqui não foi diferente, pois ele soube pegar um roteiro que se olhar tem um fio de continuidade bem simples, e deu ganho de tela com as protagonistas, deixando elas fluírem de maneira ousada e bem pautadas nem que para isso usassem de artifícios forçados de sua origem, tanto que vemos na tela muito do estilão do "Porta dos Fundos" que as protagonistas tanto dominam, e assim o resultado acaba agradando e mostrando mais uma vez que o diretor tem boa mão para comandar suas produções, veremos o que virá ainda já que em breve tem mais dois filmes para estrear nesse ano.
E já que comecei a falar das atuações, diria que todas foram bem encaixadas dentro das personalidades de suas personagens, não querendo uma sobrepor a outra, e ainda fazer com que suas dinâmicas fossem bem colocadas nas cenas, ou seja, se jogaram sem precisar abusar do besteirol para fazer graça. Dito isso, a que foi menos exagerada e claro mais centrada no rumo da produção foi Natália Lage com sua Ana, trabalhando alguns olhares sempre diretos, não precisando gritar para aparecer, e criando todas as conexões com o ambiente e com os demais personagens, mas claro tendo ares engraçados para que sua personagem não se apagasse no meio de duas comediantes, e assim fluiu bem no que precisava e agradou. Já Thati Lopes costuma pegar um pouco mais pesado com seus papeis, fazendo alguns atos mais forçados, apelando por vezes, mas aqui esse estilão dela caiu muito bem para sua Yovanka, de modo que vemos sua pegada necessária para que o filme tivesse o devido ritmo com toda sua loucura, e assim brincou bastante em cena, e mostrou que domina o que faz. Da mesma forma Júlia Rabello fez sua Letícia como uma mãe surtada, que grita bastante e acaba entregando dinâmicas mais aceleradas que o normal de qualquer personagem, e isso foi algo bem bacana de ver, pois acabou virando quase que uma segunda personagem quando dá o jeitão sindical para o movimento, e o resultado geral dela não deixou que o filme ficasse nem bobo demais nem calmo demais, acertando bastante. Como o filme foi rodado na Argentina e no Uruguai, tiveram muitas participações e figurações de atores locais como Roberto Suárez com seu El Papá e Soledad Pelayo com sua Duquesa, o que acabou dando um ar diferente para a produção, mas a base acabou toda recaindo nas três protagonistas e claro no policial vivido por Dudu Azevedo, além do marido de Letícia vivido por Marcelo Gonçalves, mas sem ter grandes chamarizes que não fossem ligados às atrizes.
Visualmente o longa brincou com boas locações, afinal sendo embasado no estilo road-movie passou desde os perrengues no aeroporto, depois em um ônibus de excursão bem bagunçado, passando para uma travessia em pôneis, chegando num acampamento de sem terras, mais fugas em carros, um hotel com bar internacional aonde rolaram algumas canções e claro depois os encontros com os traficantes em ambientes bem amplos e cheios de detalhes, ou seja, a equipe de arte precisou trabalhar bastante para compor tudo e funcionar, além da maluca ideia de drogas em absorventes internos.
Enfim, é um filme que passa longe da perfeição, que dava para ser um pouco mais engraçado, mas que tem seu estilo de humor bem colocado, diverte na medida e funciona dentro do que se propôs a fazer na tela, sendo uma boa escolha para quem gosta de comédias diferentes e não querem recair para as dramédias, pois aqui é tudo sem o menor drama, mas também não recai para o besteirol, então fica a dica para todos. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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