TeleCine Play - Quo Vadis, Aida?

9/19/2021 11:12:00 PM |

Não sei se sou otimista demais com alguns filmes baseados em fatos reais, mas sempre espero que no meio de um caos de guerra, ao menos as pessoas protagonistas cheguem ao final do filme, pois alguém contou a história pelo menos, mas claro que também fico com aquele desejo oculto de saber como todo o resto foi imaginado se as pessoas ali morreram, ou seja, é um dilema imenso que passa na cabeça do Coelho quando vê um longa de guerra e é bem raro ver um exemplar desse estilo ruim. Ao ponto que o indicado da Sérvia para o Oscar 2021, "Quo Vadis, Aida?", tem uma pegada inteligente, tem momentos fortes bem feitos, e principalmente tem o envolvimento máximo em cima da protagonista, mostrando o desespero, a vontade, e tudo mais para tentar salvar a família toda desde o momento da cerca até o momento da retirada, já que por ser uma intérprete da ONU tinha sua segurança garantida, enquanto a família não, e assim sendo vemos não só seu momento, como também o desespero de todos os demais, afinal sabemos que numa guerra os homens não são poupados, e isso é pautado em nível máximo aqui. É um bom filme, tenso sem ser intenso, e que agrada quem gosta de dramas mais fechados, pois todas as aberturas dramáticas acabam ficando bem em segundo plano e quase desaparecem.

A sinopse nos conta que Aida Selmanagic é uma tradutora que trabalha em uma missão da ONU na pequena cidade de Srebrenica. Quando a região é dominada pelo exército sérvio, milhares de cidadãos buscaram abrigo no acampamento da ONU onde ela trabalha, incluindo sua própria família. Enquanto lida com as negociações que envolvem o conflito diplomático, Aida fará de tudo para tirar seus filhos do meio do fogo cruzado.

Diria que a diretora Jasmila Zbanic foi muito segura do que desejava passar com o seu longa, pois o livro de Hasan Nuhanovic ("Under The UN Flag" ou algo como "Sob a Bandeira da ONU") certamente trabalhou como foi a dinâmica de negociações, como foram as invasões, colocar as pessoas lá dentro, toda a forma jogada que os generais da ONU fizeram com tudo ao entregar de mão beijada para os militares sérvios as pessoas que deveriam defender, e tudo mais, então ela veio com o ar humanitário bonito e já emplacou a história de uma mulher, no caso uma das tradutoras da ONU e o dilema de sua família, e assim o filme tem todo um contexto familiar envolvente, mas a base mesmo é mostrar o desleixo da ONU em não defender realmente o povo da cidade. Ou seja, é daqueles filmes com um bom embasamento, tem toda a essência mostrada, tem muita figuração, mas certamente poderiam ter ido além em várias situações intrigantes e boas para se trabalhar, e diria que até isso pesou para o longa não ter sido o ganhador do Oscar de Filme Internacional, pois se fechou demais ao invés de abrir com todas as ideias, mas ainda assim é uma grandiosa homenagem a todas as famílias perdidas ali, como é mostrado nos créditos finais.

Sobre as atuações, o filme é de Jasna Djuricic com sua Aida que certamente caminhou uns bons quilômetros durante as filmagens, saindo de um ambiente, indo para outro, subindo escadas, descendo escadas, procurando generais, e tudo mais, sempre com trejeitos marcantes, olhares diretivos e funcionais, e claro sendo uma tradutora passando as devidas mensagens com ou sem vontade (era notório ver que não queria falar algumas frases, mas era sua função), e com isso a atriz mostrou precisão e muito envolvimento, até chegarmos nas cenas finais, já envelhecida, mas com um ar forte e muito bem preciso para todos seus atos bem marcantes. Quanto aos demais, tivemos boas cenas fortes do coronel da ONU bem vivido por Johan Heldenbergh direto ao ponto que precisava fazer, tivemos cenas marcantes com Boris Isakovic fazendo o imponente e marqueteiro general sérvio Mladic cheio de nuances, e até mesmo os familiares da protagonista vividos por Izudin Bajrovic, Boris Ler e Dino Bajrovic fizeram seus atos de formas bem trabalhadas, mas sempre ficando com ares secundários demais para ter algo a chamar atenção.

Visualmente a trama tem um ar bem marcante de meio para fim de guerra, pois não chega a mostrar as batalhas efetivamente, mas encaixa todas as nuances do povo acuado com a chegada dos "vilões", mostra o desespero de tentar entrar em um ambiente seguro sem saber como, tem toda a simbologia clara de negociações não tão bilaterais, e com muitos figurantes, roupas do corpo, higiene zero e muito mais vemos a situação dentro e fora do galpão bem representado da ONU na cidade. Ou seja, a equipe de arte foi muito simbólica e provavelmente devorou o livro em que o filme foi baseado para conseguir representar cada elemento alegórico, desde os militares da ONU vestindo bermudas e capacetes, até o momento final da personagem indo atrás de uma ossada numa sala com várias mulheres caminhando e chorando, ou seja, forte demais!

Enfim, é daqueles filmes que nos envolvemos pela essência em si, que traz algo que sequer conseguimos nos imaginar nos papeis principais, e que funcionam bem por saberem como passar isso para o público, que claro poderia ter sido ainda mais forte, poderiam ter focado em outros lados sem ser a da tradutora e sua família, mas que da forma que foi entregue funcionou bem, chamou a atenção e que certamente vai agradar bastante quem gosta do estilo, e assim sendo faz valer a conferida. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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