O Jardim Secreto de Mariana

9/28/2021 09:55:00 PM |

Certa vez há muito tempo li um texto sobre mulheres que são desesperadas para ter filhos delas (não considerando questões de adoção - que era algo meio fora do comum na época) que faziam de tudo para engravidar, tomavam os mais diversos chás que ouviam falar, faziam tratamentos caríssimos, e em casos extremos se descobriam que o marido era infértil separavam na primeira chamada, tanto que até hoje lembro que me espantei muito quando um amigo foi casar e teve de fazer teste de quantidade de espermatozoides e fiquei chocado que exigiam isso para casar. Comecei o texto do filme nacional "O Jardim Secreto de Mariana" dessa forma pôr o longa tratar bem essa temática não tão diretamente, pois temos todo o ensejo de uma separação conturbada, vários conflitos de personalidades, e tudo muito bem dialogado, aliás tão dialogado que quase chega a parecer uma peça teatral, mas que regado pelas belas paisagens de Brumadinho e Inhotim, e usando claro toda a simbologia da reprodução das flores tudo acaba indo mais longe ainda. Diria que é um bom filme, que até prende bem a atenção, mas quem não curtir uma boa DR vai acabar cansando um pouco com tudo.

No longa acompanhamos a história de João e Mariana, um casal apaixonado que têm sua relação interrompida de maneira intempestiva. Cinco anos depois da separação abrupta, ele decide seguir seu instinto e parte numa longa jornada de bicicleta para tentar convencê-la de que o romance nunca deveria ter acabado. O amor, que ainda existe entre os dois, é então posto em xeque.

O diretor e roteirista Sergio Rezende já fez filmes de todos os estilos possíveis, e sabemos que ele gosta de atingir patamares diferentes com suas obras, ao ponto que sempre alguma novidade é bem pautada na forma de entregar um tema, e aqui não foi diferente, pois conseguiu segurar bem toda a discussão do começo ao fim para mostrar que um casal que se ama pode ter todo tipo de conflito, mas sempre irá tentar encontrar uma fagulha em algum ponto da vida para talvez um reencontro, ou algo que possa dar certo novamente, isso claro se for um consentimento mútuo. E essa essência é bem trabalhada com muita discussão, com muita personificação e até com algumas surpresas no caminho que vai sendo relembrado pelos protagonistas, e com isso a alma da trama é a discussão em si, de tal maneira que é bonito ver as locações, é bacana ver toda a ambientação criada, e tudo é bem colocado para dar as nuances e o tempo de pensar que cada um necessita, mas que facilmente poderíamos ver a história rolar numa mesa de bar, numa praia ou qualquer ambiente funcional, pois a história contada é maior do que o filme em si. Ou seja, vemos mais uma obra textual do que visual realmente, e isso é bacana também, porém conhecendo a filmografia do diretor diria que ele amadureceu demais o texto e trabalhou menos o orçamento.

Sobre as atuações posso dizer facilmente que Gustavo Vaz e Andreia Horta foram perfeitos, pois em longas desse estilo aonde a dependência de dominar o roteiro é total, sem brechas para criar muito e se entregar nas situações, acabamos vendo ambos trabalhando olhares com tantos sentimentos que falam por si só, mas ainda por cima entregaram palavras e atitudes fortes, marcando bem a atuação de ambos e agradando bem em tudo. Dito isso Gustavo floreou mais ares apaixonados, demonstrando o sentimento a cada olhar, tentando de tudo para conseguir que sua amada lhe desse outra chance e voltasse a viver junto de seu João, e toda a síntese de seu personagem é bem vivida e interessante pela essência em si, que mesmo num passado explosivo teve a justificativa, e certamente muito viveriam isso dessa forma bem representada, ou seja, foi muito bem no que fez, e segurou bem a bola do começo ao fim. E da mesma forma Andreia já foi do lado contrário, afinal fez o que fez num ato desesperado, e agora tem medo da explosão do ex-marido, ao ponto que vemos a atriz bem retraída na maioria das cenas, mas com uma sinceridade no que está fazendo, além claro de demonstrar a vontade de talvez uma volta, mas sempre com um pé atrás, e essa intensidade de fuga funciona muito bem para sua Mariana, que ainda conseguiu ser expressiva nas aulas da reprodução das flores, e justificar muito de suas atitudes, ou seja, também foi muito bem em tudo. Ainda tivemos outras boas participações de Paulo Gorgulho, Denise Weinberg e da garotinha Maria Volpe, mas o filme é dos protagonistas, então felizmente não sobrepuseram nada nos seus atos.

Já disse várias vezes no texto que o visual em si não foi importante para a trama, mas ainda assim a equipe de arte trabalhou muito bem para representar desde o começo o lado natural do casal em conexão direta com toda a natureza, morando numa fazenda, comendo apenas vegetais sem agrotóxicos, sempre muito conectados com as flores que é o trabalho da protagonista, mas que em determinado momento acaba sendo o motivo da briga em si, e numa das cenas finais o protagonista até xinga a natureza, e assim o resultado acaba sendo bonito pelas localidades de Brumadinho e Inhotim, mas que volto a frisar que poderiam ser em qualquer lugar.

Enfim, é uma discussão de relação bonita e muito bem feita, que felizmente conseguimos conferir sem cansar em momento algum, ou seja, é bem dinâmica e direta no ponto, que até tem alguns percalços meio que exagerados no miolo para representar o meio do caminho da vida do protagonista, mas nada que apague o bom funcionamento da trama, e sendo assim recomendo o longa para todos, que estreia já na próxima quinta dia 30 em vários cinemas do Brasil (Ribeirão Preto não foi agraciada nesse primeiro momento), mas quem tiver a oportunidade vá conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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